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TODO ESSE POVO CHOROU / QUANDO O CORETO CAIU Por NAL NUNES

nal-nunes-300x300 TODO ESSE POVO CHOROU / QUANDO O CORETO CAIU  Por NAL NUNES

O mandato de Arnaldo Bezerra Lafayette começou no dia 01 de janeiro de 1969 e terminou em 31.12.1972, em plena ditadura militar. Nunca na história de Monteiro desde o início do período republicano até os dias atuais ocorreu nesta cidade uma campanha tão acirrada como a de 1968, certamente em pouquíssimas cidades do País ocorrera um fato semelhante. A diferença foi de apenas 13 votos em favor da oposição, alguns apostam que foi 26 ou 27. Eram duas chapas, a situacionista que tinha o apoio oficial, das oligarquias, de Dr. João Feitosa…etc, formada por Antenor Campos e Jorge Rafael de Menezes, respectivamente, candidatos a prefeito e vice-prefeito pelo partido de direita, ultradireita, chamado ARENA ( Aliança Renovadora Nacional) tempos depois PDS. Do outro lado, Arnaldo Bezerra Lafayette e Sebastião César de Melo, candidatos a prefeito e vice-prefeito, respectivamente, pelo MDB ( Movimento Democrático Brasileiro) depois PMDB, considerado à época o maior partido de vanguarda e de esquerda existente no País dentre os que atuavam de forma oficial, existiam outros na clandestinidade. Era o MDB de Miguel Arraes, Marcos Freire, Teotônio Vilela, Rui Carneiro, Humberto Lucena e muitos outros vultos históricos que, na grande maioria, tiveram seus mandatos cassados pós Golpe de 1964, com a instalação da ditatura militar e dos famigerados Atos Constitucionais, principalmente o terrível AI-5.

Arnaldo Lafayette, filho de Joaquim Lafayette, politico monteirense, mas radicado no Rio de Janeiro, depois em Brasília, onde havia servido com estreitos laços e forte prestígio ao governo do presidente João Goulart (Jango), deposto pelo Golpe de Estado de 1964 que, os militares designava-o como REVOLUÇÃO DE 1964, após este lamentável episódio da história do Brasil, o inquieto “Velho da Bandeira” resolveu voltar a sua terra natal, desta feita, trazendo na sua bagagem um conteúdo recheado de ideais, experiência “revolucionária”, estratégias e muita admiração popular. Eu era moleque de apenas 6 anos mas lembro-me de Arnaldo Lafayette beijando o solo de Monteiro toda vez que chegava à cidade.
Ao chegar a Monteiro em 1968 com um discurso afiado, moderno, forte em defesa dos humildes, cheio de expressões agressivas para um tempo conturbado, de muitas prisões arbitrárias, o grande líder do MDB, carismático e comovente, costumava citar em seus discursos a célebre frase: “Monteiro tem fome de justiça e sede de liberdade”.

Eleito, Arnaldo Lafayette foi um grande gestor, um dos maiores prefeito de Monteiro. Trouxe energia elétrica, telecomunicação, construiu o Samdu, o canal que corta a cidade, cais de proteção do rio Paraíba, grandes escolas na zona rural e outros. No entanto, tratou logo de derrubar o coreto edificado no centro da Praça João Pessoa, em frente à residência do clã Lafayette. Era uma edificação de estilo barroco, com um primeiro andar onde celebravam os principais eventos, as noites natalinas, solenidades requintadas, discursos importantes, saraus, recitais de Jansen Filho e outros, noites de serenatas dos boêmios de Monteiro. Era o ambiente mais festejado de outrora.
E foi neste cenário de altíssima comoção, retratando um quadro de extrema desolação, de perda quase irreparável e pranto coletivo, que o poeta monteirense Firmo Batista, construiu esses versos inspirados no que Arnaldo havia derrubado. Vejamos:

TODO ESSE POVO CHOROU
QUANDO O CORETO CAIU
Autor da poesia: FIRMO BATISTA

Chorou Zinaldo Romão
Bague, Fernando e Cici
Romero, Flávio e Sady
José Lucena e Bocão
Adjar e Zé Grampão
Um chorou, outro sentiu
Argemiro quando viu
Caiu nos pés de Lolô
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

Paulo de Paizinho Romão
Luiz Morato e Marcelinho
Luizinho, Luiz Virgulino
Paulo Nunes e Cacetão
Natanael e Barrão
Pepê, chorando saiu
Com Pinincha se abraçou
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

Zé Morato, Zé Tempero
Rui e Otávio Amador
Dóia e o vereador
Serafim o bodegueiro
Bebete e Biu Sapateiro
Dé Marcelino Fugiu
O pobre Mané Titiu
Foi costurar se furou
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

Cláudio Leite, Zé Romão
Jaime Gomes, Ferreirinha
Zé Gomes e Antônio Rainha
Dulírio, Luiz Cabeção
Jota Quinca e Cabeção
Arnaldo Nunes mentiu
Dizendo que em casa viu
Quando Bira desmaiou
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

Leo de Silva Brito e Jú
Dé de Zuza, Severino Bezerra
Nezinho e Silvino
José do Foto e Tutú
Temi, só faltava tú
Porém o povo exigiu
Depois que você saiu
Preço de cana baixou
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

Zé Torres, Bosco, Mazinho
Jorge Duarte, Averaldo
Geraldo e outro Geraldo
Um Caduco ou Branquinho
Carlos Farias e Marinho
Doncílio e Dr. Maninho
Pedrosa que não fugiu
Mas em Brasília sonhou
Todo esse povo chorou
Quando o coreto caiu

NOTA: O prefeito Antônio Nunes, aquele que acabou o cabaré de Monteiro, lembram? Na tentativa de promover a reconciliação com a classe dos boêmios, durante o mesmo mandato construiu um novo coreto e deu-lhes de presente. Foi feito o reparo.

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