A lama mudou a cor da água do Rio Doce na praia de Regência, onde o rio deságua no mar, em Linhares, Norte do Espírito Santo, na tarde deste sábado (21). Por volta das 16h, a água começou a ficar na tonalidade marrom. Uma barreira de 9 km foi montada para proteger a fauna e flora na região e amenizar os impactos da lama.
O Serviço Geológico do Brasil informou que não tem previsão para que a parte mais densa dos rejeitos de mineração da barragem da Samarco, cujos donos são a Vale e a anglo-australiana BHP Billiton, chegue à foz.
A lama está em três municípios do estado: Linhares, que não usa as águas do Rio Doce para abastecimento da cidade. Baixo Guandu, que passou a usar as águas do Rio Guandu. E Colatina, que há quatro dias parou de usar a água do rio.
O rompimento de uma barragem de rejeitos de minério aconteceu no dia 5 de novembro e causou uma enxurrada de lama no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana, na região Central de Minas Gerais.
Justiça
Na quarta-feira, a Justiça Federal deu um prazo de 24 horas para a Samarco apresentar um plano de emergência para diminuir os impactos da lama no estado. Na quinta-feira à noite, a empresa entregou um relatório com o que vinha fazendo e o que planejava fazer, mas o Ministério Público Federal achou as medidas insuficientes. Neste sábado, o juiz federal Rodrigo Botelho decidiu aceitar o plano que a empresa apresentou e suspender temporariamente a multa milionária. Na segunda-feira (23), a Samarco vai ter, até 18h, para detalhar quais medidas serão tomadas. Se desobedecer, a mineradora vai pagar multa de R$ 10 milhões por dia.
De acordo com o presidente substituto do Ibama, Luciano Evaristo, com a chegada ao oceano, a lama pode afetar os animais marinhos. “No percurso que está desenvolvendo agora, a lama afeta a fauna, causa um processo de congestão nos peixes, por causa da densidade do rejeito que está na água. Chegando ao estuário, ela poderá afetar a questão da nidificação das tartarugas, afetar também a ictiofauna marinha”, disse.
Segundo o biólogo André Ruschi, a chegada da lama no oceano pode ter um impacto ambiental equivalente à contaminação de uma floresta tropical do tamanho do Pantanal brasileiro. Ele acredita que, se nada for feito, o prejuízo ambiental do ‘tsunami marrom’ pode demorar 100 anos para ser revertido.
Entretanto, o engenheiro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Paulo Rosnan, os possíveis estragos estão sendo superdimensionados pelos órgãos ambientais.
“No mar, eu creio que não será nada relevante. Haverá só uma mancha colorida muito grande que se dispersará normalmente, como se dispersam as manchas que saem dos rios em épocas de grandes chuvas”, falou o engenheiro.
Ministra visita o estado
A ministra de Meio Ambiente, Izabella Teixeira, vai visitar o município de Linharesna segunda-feira (23) para acompanhar as ações emergenciais que estão sendo realizadas para conter os danos causados pela lama. A visita será acompanhada pelo governador Paulo Hartung.
Nesta sexta-feira (20), a ministra garantiu que a dispersão da lama no mar será de seis quilômetros ao norte. A preocupação inicial era de que a lama pudesse chegar ao Arquipélago de Abrolhos, que fica há 250 km do litoral.
Abastecimento de água
Segundo a prefeitura de Linhares, o abastecimento de água não será afetado pela chegada da lama, já que a principal fonte de abastecimento do município é o Rio Pequeno, canal entre a Lagoa Juparanã e o Rio Doce.
Para evitar que a água do Rio Doce tenha contato com a do Rio Pequeno, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Linhares ampliou a barragem construída em outubro deste ano.
Com o abastecimento garantido, a prefeitura de Linhares está enviado caminhões-pipa com água potável para Colatina, que está com o abastecimento de água interrompido há mais de três dias por causa da onda de lama.
O Ministério Público chegou notificar a Prefeitura de Colatina na sexta-feira (20) após tumultos na distribuição de água mineral fornecida pela Samarco a população. O órgão solicitou 100 postos de distribuição, mas a prefeitura a afirma que não tem efetivo para isso.
Em Baixo Guandu, a captação de água do Rio Doce foi cortada desde segunda-feira (16). A prefeitura abriu um canal do Rio Guandu até uma estação de bombeamento e está utilizando a água do rio para abastecer a população.
Barreiras
A Samarco está construindo barragens para isolar a fauna e a flora que vivem no entorno nas duas margens do rio e em algumas ilhas localizadas no estuário, nove mil metros de barreiras continuam sendo instalados em sentido longitudinal. A empresa esclareceu que essas barreiras não têm a função de impedir a chegada da pluma ao mar.
A instalação das barreiras teve início na parte sul da foz, em Regência, e segue até Povoação, na região de Linhares. Um mapeamento das áreas e ecossistemas foi realizado na região da foz para determinar o tipo de barreira a ser utilizado em cada ponto.
Prefeitura de Linhares
A prefeitura de Linhares acompanha a construção das barragens e monitora a chegada da lama no mar. Segundo a administração, o município tem feito um trabalho de levantamento dos pescadores para saber quais deles sobrevivem essencialmente da pesca e garantir que a Samarco forneça auxílios para essas famílias afetadas pela chegada da lama no mar.
Samarco
Em nota, a Samarco disse que está tomando as providências necessárias. “Como forma preventiva, o projeto Tamar, recolheu os ovos de tartarugas na praia de Comboios e os levou para uma parte mais alta da costa. Uma equipe coleta amostras da água antes e depois da chegada da pluma. Outra ação foi a instalação de 9 mil metros de barreiras, para isolar a fauna e a flora. Também há o monitoramento aéreo”, diz a empresa.
A Samarco ainda diz que “a Defesa Civil recomenda, por precaução e em caráter temporário, que a população não tome banho de rio e mar nessas regiões, já que, com a chegada da pluma, a cor da água fica mais escura. Reiteramos que a pluma de turbidez não é tóxica”.