O governo de São Paulo anunciou nesta quinta-feira (21) que começará a testar a fosfoetanolamina sintética, a “pílula do câncer”, em pessoas.
Os testes em humanos começarão já na próxima segunda-feira (25), e serão conduzidos pelo Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) na capital paulista.
Em uma primeira fase, dez pacientes serão avaliados para testar a segurança da dose. Caso não haja efeitos colaterais graves em até dois meses, a pesquisa prosseguirá.
Em seguida, os testes serão feitos em 21 pessoas em cada um dos seguintes grupos de tumor: cabeça e pescoço, pulmão, mama, cólon e reto, colo uterino, próstata, melanoma, pâncreas, estômago e fígado.
Se houver sinais de atividade da substância em pelo menos três pacientes de cada conjunto ao final de quatro ou cinco meses, as pesquisas continuam e mais pessoas serão acrescentadas, até chegar a 100 por grupo.
O governo estima um investimento de cerca de R$ 580 mil em compra da fosfoetanolamina para os testes, além de custos com hospedagens e alimentação de pacientes e acompanhantes que vêm de fora de São Paulo. A quantia, contudo, depende do número de participantes.
Como os pacientes testados não podem consumir outros medicamentos durante o período da pesquisa, os selecionados ou ainda não começaram o tratamento ou estão em algum estágio cuja suspensão das drogas não vai afetá-los. Eles não podem ter a doença em estágio avançado, e devem ter o sistema imunológico respondendo “razoavelmente bem”.
“Nós não vamos arriscar a possibilidade de cura”, diz o oncologista e diretor do Icesp, Paulo Hoff. “Se o paciente tem a opção de cirurgia, quimioterapia definitiva curativa, radioterapia, ele não pode entrar”, afirma.
Todo o período de testes deve durar cerca de dois anos.
POLÊMICA
Testes in vitro e em animais encomendados pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicações não apontaram resultados satisfatórios para a substância.
Segundo Hoff, ainda assim os testes em humanos são necessários para testar a eficácia do composto. “No momento em que você tem mais de 20 mil pessoas que fizeram uso do produto [fosfoetanolamina] e um grande interesse popular, acho que é uma obrigação que nós resolvamos de uma vez por todas a questão se o produto é realmente eficiente no tratamento do câncer ou não”, afirmou. “É muito importante que nós demos à sociedade uma resposta definitiva.”
Hoje há entre 15 mil e 18 mil liminares judiciais ativas de pacientes que tentam obter a fosfoetanolamina, segundo o secretário estadual de Saúde, David Uip. Para ele, a alta judicialização do tema também motiva a realização da pesquisa. “Nós preferimos a resposta científica, porque estávamos sendo judicializados e obrigados a dar uma droga não testada”, diz o secretário. “É inaceitável esse tipo de judicialização, nós fomos vítimas disso.”
A droga foi desenvolvida pelo professor da USP Gilberto Chierice, atualmente aposentado. Resultados iniciais de testes conduzidos por seu grupo de pesquisa haviam apontado algum potencial antitumoral da droga. Antes de haver conclusão de qualquer teste em humanos, ela começou a ser distribuída por Chierice, que também era responsável por sua produção.
“O professor tem um embasamento científico publicado e aceito pelas principais revistas do mundo”, diz Uip. “Nós não estamos apoiando o charlatanismo e o empirismo”, afirma. Ele afirma que os testes feitos pelo governo federal não são definitivos.
“Acho que o governo está agindo com absoluta responsabilidade, uma pesquisa feita dentro da Universidade de São Paulo vai ser concluída: funciona ou não funciona? É eficaz ou não é eficaz?”, defendeu o governador Geraldo Alckmin.
Folha