Amadorismo de equipe marca campanha de Trump à Casa Branca
Nas últimas semanas, o bilionário Donald Trump passou o chapéu. “Não tive notícias de você, Anna Virginia”, dizia o e-mail à repórter, inscrita em seu canal na internet.
O mesmo conteúdo chegou a milhões de potenciais doadores na quinta (30), a horas do prazo que Trump se deu (meia-noite) para arrecadar US$ 10 milhões.
A ideia era demonstrar força, após o virtual presidenciável republicano fechar maio com 3% dos US$ 42 milhões levantados pela democrata Hillary Clinton no mês.
Robert F. Bukaty/Associated Press | ||
Trump faz discurso no Estado do Maine, em 29 de junho |
O filho Eric Trump e o estrategista Paul Manafort já haviam escrito pedindo colaborações a partir de US$ 10. Nos minutos finais, o assessor digital Brad Parscale barganhou: “E US$ 3?”.
Na sexta (1º), Hillary anunciou sua arrecadação em junho: US$ 68,5 milhões.
Problema de caixa é um dos indícios de que a campanha de Trump pode não ser profissional o bastante para ser competitiva nacionalmente.
Em junho, Hillary gastou US$ 23 milhões em anúncios na Flórida, em Ohio e outros seis dos chamados Estados-pêndulo, cobiçados por terem eleitorado sem preferência partidária. Trump, zero.
Enquanto ela azeita sua máquina eleitoral desde o fim de 2015, com equipes espalhadas pelo país, o magnata nem sequer possui escritório em parte dos Estados decisivos.
Em compensação, planeja investir tempo e dinheiro em sua Nova York natal -tida como causa perdida, por eleger democratas há sete eleições.
Até maio, ele empregava 70 funcionários, contra 732 na folha de pagamento da rival.
Trump diz ter, a seu favor, uma mídia espontânea que compensa o deficit de propaganda paga. Estudo da Harvard revelou que, só em 2015, o republicano ganhou espaço em oito veículos tradicionais (do “New York Times” à Fox) equivalente a US$ 55 milhões em anúncios.
Para Joshua Dienstag, da Universidade da Califórnia, “essa vantagem midiática não vai mais existir” na disputa só com a democrata, e não com 16 nomes republicanos.
E as posições de Trump “já não são novidade, então ele não vai monopolizar a mídia se disser ‘construa um muro [para barrar mexicanos]'”, diz.
‘ENXUTA E EFICIENTE’
Trump insiste que tamanho não é documento. “Nossa campanha é mais enxuta e eficiente, como o governo deveria ser”, já afirmou.
Também sinalizou que, em vez de duplicar esforços, espera contar com verba do Comitê Nacional Republicano.
Ele já doou US$ 50 milhões da própria fortuna à campanha e, há duas semanas, alegou ter levantado US$ 11 milhões em dois dias, dado recebido com desconfiança.
O financiamento abaixo da média deu origem à corrente #TrumpTãoPobre no Twitter, com achincalhações como: “Ele ainda vai construir um muro com palitos de picolé”.
DANÇA DAS CADEIRAS
Os últimos dias foram de dança das cadeiras em seu QG, que começou a agregar veteranos a um time sem experiência política -sua diretora de comunicação, Hope Hicks, trabalhava para uma linha de luxo de Ivanka Trump.
Uma aquisição recente, o estrategista digital Vincent Harris, definido pela Bloomberg como “o homem que inventou a internet republicana”, durou duas semanas.
Foi-se o polêmico Corey Lewandowski, que coordenava sua campanha desde o dia 1 e abraçava o lema “deixe Trump ser Trump”. Sendo Trump, ele chegou mais longe do que muitos esperavam.
Cotado para seu vice, Newt Gingrich o chamou de “absurdamente amador”, adjetivo que, afirma, provou ser “a maior dádiva e o maior revés” que já viu num candidato.
Novembro, o mês de ir às urnas, que o diga.