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VIAGEM AO INFERNO por Nal Nunes

timthumb-300x218 VIAGEM AO INFERNO  por Nal NunesBUTECO DE FEIRA

 Durante vários anos o Mercado Público de Monteiro foi gerenciado por um homem muito bom que chamava-se “Seu Luiz”, irmão do então prefeito da cidade, Alexandre da Silva Brito. Seu Luiz era uma espécie de faz tudo no velho mercado de Monteiro.

Dizem que na velhice o cabra volta a ser menino novamente e com Seu Luiz não foi diferente. Ele adotou no seu avançado estado de caduquez a prática de rotineiramente viajar para Sertânia. E lá estava Seu Luiz, todo santo dia, na praça de taxi, linha Monteiro/Sertânia, a procura do taxista Pedro dos Ovos de quem era amigo na mocidade, para cumprir mais uma missão determinada pela malvada caduquice.

Era final da década de setenta e toda manhã lá estava o impaciente Pedro dos Ovos a espera dos passageiros quando religiosamente chegava Seu Luiz:

-Bom dia Pedro dos Ovos! Vai prá Sertânia?

-Vou Luiz…! Afirmava o taxista balançando a cabeça negativamente, sabia que aquele passageiro não lhe rendia “frutos”.

Seu Luiz, como de costume, abria a porta da conhecida rural e se acomodava no espaçoso banco trazeiro.  Durante a viagem até Sertânia, Seu Luiz ia e voltava sem dar uma só palavra. No retorno, ao chegar em Monteiro, no ponto final da linha que era ao lado do Banco do Brasil, descia do carro sem pagar nada, mas como um velho caririzeiro educado nunca esquecia de agradecer.

-Muito obrigado Pedro!   Ao que Pedro respondia:

-Isso é um negócio da gota serena!

Passados vários dias sem que Seu Luiz nunca falhasse com a sua penitência diária, lá estava Pedro dos Ovos no seu velho ponto consertando o cabo da bateria da rural que não queria dar na partida, quando na ocasião em que o taxista leva um tremendo machucão com um alicate, chega o fiel passageiro de todos os dias com a mesma indagação:

-Bom dia Pedro dos Ovos! Vai prá Sertânia?

-Hoje eu num vou não Luiz! Hoje eu vou pro inferno…, prá casa do diabo, hoje eu vou prá baixa da égua…! Respondeu abusado.

Seu Luiz sem pestanejar:

-Pois eu vou também Pedro!

E como de costume, já foi logo se acomodando na sua preferida poltrona da antiga rural.

 

O Pipoco

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