Resort à beira-mar na Flórida vira ‘residência de inverno’ do presidente
O restaurante seis estrelas que serve frutos do mar ao ar livre no exclusivo resort de Donald Trump na Flórida se tornou recentemente palco de acalorada discussão entre o presidente e seus assessores após a Coreia do Norte testar um míssil balístico.
A seis mesas de distância, o investidor aposentado Richard DeAgazio, sócio do clube Mar-a-Lago, fotografou a movimentação da equipe de Trump e postou na internet: “Uau”¦ no meio da ação!!!”.
A superexposição durante a discussão de um tema sensível foi condenada por opositores, e o caso se tornou emblemático da confusão gerada pelo uso do resort em Palm Beach para despachar ou receber chefes de Estado.
O luxuoso clube de oito hectares à beira-mar foi o destino do presidente em quatro dos últimos cinco fins de semana, se transformando na “residência de inverno” da gestão Trump. Na última sexta (3), o Air Force One pousou mais uma vez no aeroporto da cidade a 100 km de Miami.
“É o mais perto do paraíso que eu posso chegar”, foi como Trump definiu Mar-a-Lago em seu livro “A Arte da Negociação”, de 1987.
Só que as idas de Trump ao seu paraíso particular já custaram aos americanos cerca de US$ 10 milhões só nos três primeiros fins de semana, segundo a organização Judicial Watch. Em oito anos no poder, o democrata Barack Obama gastou US$ 97 milhões em viagens pessoais.
O valor gasto por Trump inclui despesas do Serviço Secreto em deslocamento, policiamento ao redor do imóvel, e, principalmente, o custo do Air Force One, de US$ 180 mil por hora voada —ou US$ 720 mil a cada ida e volta.
O que o presidente já gastou supera, inclusive, os US$ 8 milhões de custo anual de Camp David, a residência de campo oficial, que é mantida pela Marinha.
O deslocamento para a histórica mansão em Maryland é também bem menos dispendioso. São 30 minutos de helicóptero da Casa Branca até Camp David, que já abrigou encontros históricos, como as negociações entre Israel e Egito em 1978, que culminaram nos acordos batizados com seu nome.
Mas apesar de também ter piscina, campo de golfe e quadras de tênis, a residência oficial não é tão atraente para Trump quanto seu resort na Flórida. “Camp David é bastante rústica, é legal, um lugar que você vai gostar. Mas sabe por quanto tempo? Uns 30 minutos”, disse o republicano a um jornalista logo após vencer a eleição.
Já Mar-a-Lago tem lustres enormes, salões com decoração dourada, loja com produtos exclusivos, um spa, um clube na beira da praia e 126 suítes luxuosas. O campo de golfe fica a dez minutos de carro do resort.
DOAÇÃO
Não é a primeira vez que a história de Mar-a-Lago esbarra na da Casa Branca. Em 1973, a proprietária Marjorie Merriweather Post decidiu doar a propriedade —que já tinha esse nome por se estender do mar ao lago Worth—ao governo. A intenção era que se tornasse local de descanso para presidentes, mas Jimmy Carter achou a manutenção cara e se desfez dela.
Em 1982, Trump fez uma oferta de US$ 15 milhões pela propriedade, que foi recusada. Três anos depois, pagaria US$ 5 milhões mais US$ 3 milhões em mobiliário.
Hoje, um título de sócio do clube custa US$ 200 mil —o valor, que era de US$ 100 mil desde 2012, duplicou após a eleição de Trump. A anuidade é de US$ 14 mil.
Além dos preços, a rotina dos sócios também mudou. No início de fevereiro, a socialite Vanessa Falk foi surpreendida com a presença do presidente em sua festa de casamento no resort. Há casos ainda como o de DeAgazio, que se sentiu como no Situation Room —salão da Casa Branca onde são discutidos assuntos de defesa e segurança nacional— durante o jantar.
Mas nem todos estão felizes. É agora alto o risco de uma reserva no restaurante do clube ser cancelada de última hora por decidirem fechar um espaço para um evento do presidente.
Um sócio reclamou ao jornal “Miami Herald” do aumento nas restrições dentro do clube e da proibição de fotografar enquanto o presidente Trump está no local. “Você consegue imaginar? É o seu clube e você não pode tirar fotos?”