Tormento para Temer, delação da JBS contamina todas as regiões do país
A mesma onda que mergulhou Brasília em profunda crisena quarta-feira 17 de maio se diluiu pelas cinco regiões do Brasil. Além de desencadear uma série de pedidos de impeachment do presidente Michel Temer — num processo de declínio que teve seu mais recente capítulo no pedido de demissão da elogiada Maria Silvia Bastos do BNDES, já substituída pelo ex-IBGE Paulo Rabello Castro —, a delação da JBS pôs na mira das assembleias estaduais pelo menos quatro governadores nesta semana. Não se imagina que qualquer dos pedidos de impedimento estaduais prospere, mas é inegável o desgaste provocado. Além disso, outros quatro Estados foram atingidos diretamente por conta da conduta de seus governantes.
No Nordeste, o pedido de impedimento diz respeito ao governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Ele é acusado na delação pelo empresário Wesley Batista de receber 20 milhões de reais para sua campanha de 2014 a pedido do ex-governador Cid Gomes (PDT). Em nota, Santana disse que o pedido de impeachment “tem o objetivo claro de se aproveitar do momento instável vivido pelo país para tentar tirar vantagem política”. Segundo ele, “isso é oportunismo puro e não vou entrar nesse jogo”.
O governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), também é acusado pelos delatores. Ele teria recebido 5 milhões de reais em troca da privatização da companhia de água e esgoto local, mas, por enquanto, foi alvo apenas de boatos (já desmentidos) sobre um possível pedido de impedimento da seccional local da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Mais para baixo, no Centro-Oeste, o alvo na Assembleia Legislativa do Mato Grosso do Sul é o governador Reinaldo Azambuja (PSDB). Os três pedidos de impeachment que ele enfrenta são baseados na acusação, também de Wesley, de que Azambuja recebeu cerca de 22 milhões de reias de propina da JBS. A acusação dos delatores se estende a dois ex-governadores: Zeca (PT) e André Puccinelli (PMDB). Em nota, Azambuja diz que tudo o que recebeu da JBS para sua campanha de 2014 foi feito de forma regular.
Já na região Sul, são dois os governadores alvo de pedidos de impeachment. O governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), já havia aparecido como beneficiário de 17 milhões de reais em caixa dois na delação da Odebrecht. Depois de aparecer como recebedor de mais 10 milhões em propina da JBS — os dois casos são relacionados à área de saneamento —, virou alvo de dois pedidos de impeachment. Colombo negou irregularidades e prometeu “trabalhar ainda mais para garantir crescimento e geração de empregos”, acrescentando: “lembrando que Santa Catarina é um dos poucos estados do país onde os salários dos servidores estão em dia”.
No Rio Grande do Sul, onde os salários não estão tão em dia assim, o governador Ivo Sartori (PMDB) enfrenta pedido de impeachment do Sindicato dos Professores por ter sido acusado de receber 1,5 milhão de propina para a campanha de 2014. Em sua defesa, ele disse que a doação da JBS “foi declarada em com recibo, dentro da legalidade”.
Delações acumuladas
O grande prejudicado pela delação da JBS na região Sudeste foi o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT) — o ex-governador do Rio de janeiro Sérgio Cabral também aparece na delação da JBS, mas já foi preso sob a acusação de desviar 220 milhões de reais. Pimentel já havia sido alvejado pelas investigações da Operação Acrônimo, por conta de suspeitas sobre sua campanha de 2014. Ele é alvo de um pedido de impedimento desde maio — do mesmo advogado que pediu a inclusão de Temer no processo de impeachment de Dilma Rousseff e levou o ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello a provocar a Câmara a fazê-lo.
Pimentel aparece na delação premiada de Joesley Batista como beneficiário de 30 milhões de reais, além de 3,6 milhões recebidos quando ainda era ministro do Desenvolvimento. Pimentel publicou nota em seu perfil no Facebook para dizer que é “acusado mais uma vez de forma leviana e mentirosa”. “O acusador não apresenta provas para sustentar sua versão (…) Nos trechos vazados à imprensa é possível perceber que as afirmações de Joesley Batista em relação a mim não têm nenhum suporte em provas ou evidências materiais”, diz o governador, que tem o consolo pelo menos de ver seus adversários locais sofrerem com denúncias parecidas. Nesta sexta-feira, o senador afastado Aécio Neves (PSDB) voltou ao noticiário depois que a Polícia Federal encontrou comprovantes de depósito identificados como “cx 2”, o que foi interpretado como “caixa 2” — sua defesa negou a interpretação.
Para completar o giro pelas cinco regiões do país, a delação dos irmãos Batista e de outros cinco executivos da JBS também chega a Rondônia, onde o vice-prefeito da capital Porto Velho se afastou do cargo. Edgar do Boi, como é conhecido Edgar Nilo Tonial, aparece como recebedor de 4 milhões em propina. “Diante das denúncias divulgadas pela imprensa, e que envolve meu nome, acatei a solicitação do prefeito Dr. Hildon Chaves, de afastamento das minhas atividades para que possa me dedicar integralmente a minha defesa”, disse o vice-prefeito afastado em nota. No esquema denunciado nas delações, a JBS pagou propina a fiscais da Secretaria Estadual da Receita em Rondônia em troca de benefícios fiscais.
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