Doria se diz ‘feliz’ com ‘portas abertas’ por DEM e PMDB
O prefeito João Doria (PSDB) confirmou nesta quinta-feira (10) que vem sendo sondado por PMDB e DEM para a eleição de 2018 e se disse “muito feliz” por ver que “as portas foram abertas” pelos partidos aliados.
Ao mesmo tempo, afirmou não pensar em deixar o PSDB, ao qual se filiou em 2001, e voltou a falar numa “amizade indivisível” com o governador Geraldo Alckmin.
Nos bastidores, cresce a especulação de que Doria vê o Palácio do Alvorada como futura morada, o que significaria uma batalha interna com seu padrinho político, já que o também tucano Alckmin fala abertamente em disputar a Presidência no ano que vem.
O prefeito tentou diminuir a proposta de antecipar as prévias partidárias já para dezembro, estratégia associada à turma de Alckmin –o movimento pressionaria Doria a abandonar o discurso ambíguo e dizer de uma vez por todas se pretende entrar no páreo para 2018.
Está fora de seus planos “desrespeitar o governador”, disse o prefeito, que no entanto afirmou “ser cedo para fazer uma avaliação” sobre uma proposta que sequer “foi formalizada”.
Doria criticou o vídeo que provocou cizânia dentro do PSDB, ao dizer que a sigla “errou” (sem especificar onde). A peça publicitária partiu do grupo do presidente interino do partido, o senador Tasso Jereissati.
“A forma talvez não tenha sido a mais feliz e nem, a meu ver, a mais justa”, disse o prefeito, que apontou um desnecessário “grau de negatividade” na propaganda.
Se o PSDB não teria nada digno de autocrítica? “Todos têm erro, até Jesus Cristo errou”, afirmou Doria.
A maior falha do cearense Tasso, segundo o paulistano, foi não compartilhar a mensagem com outros líderes tucanos, o que acabou por “enfraquecê-la”.
“DOS OVOS, UMA OMELETE”
“Assim como do limão se faz a limonada, do ovo fiz a omelete.”
Ovacionado no “mundo azul” de empresários que bebericavam taças de Veuve Clicquot na Casa Fasano, Doria relembrou a ovada que levou de opositores em Salvador e atacou militantes de “esquerda e extrema-esquerda” que ocuparam a Câmara Municipal de São Paulo para protestar contra seu programa de privatizações.
Doria aproveitou o evento, que celebrava o lançamento do livro de um escritório de arquitetura corporativa, para defender seu programa de desestatização e fazer um afago em outro convidado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“Em tempos mais bicudos ele teve coragem de privatizar”, disse sobre o grão-tucano.
Tudo aconteceu no “mundo azul”, como definia um dos sócios da empresa anfitriã da noite, Ivo Wohnrath, evocando a cor do PSDB e a alergia ao vermelho petista.
“Tenho certeza que a São Paulo do mundo azul já tem alguém” em mente para liderar o país, disse Wohnrath. Doria entrou no palco ao som do “Tema da Vitória”, trilha de sua campanha a prefeito.
Ele foi homenageado como “exemplo de empresário e homem público”, e FHC participou de um debate em que o público se saciou de alfinetadas em Lula (PT), além do escalope de filé mignon ao molho de cogumelos e risoto de ervas (com zuppa gelada de frutas amarelas com sorvete de iogurte para arrematar).
Lava Jato e 2018 também estiveram no menu da noite.
Para FHC, é fato que há uma “operação abafa” para brecar a Lava Jato, como defende o ministro do Supremo Tribunal Federal Luis Roberto Barroso.
“Você tem dúvida?”, rebateu o ex-presidente ao ser questionado sobre a declaração de Barroso, em debate com o cineasta Arnaldo Jabor e o jornalista Carlos Sardenberg.
Sem citar nomes, FHC disse que o sonho de virar presidente “muitas vezes não acontece” para “pessoas com ideia fixa”.
“Tem que dar espaço para o acaso”, afirmou o ex-presidente. Dentro de seu partido há dois ex-presidenciáveis com ambição de um dia chegar ao Planalto, Geraldo Alckmin e José Serra.
Já ele próprio não era obcecado por este cargo específico. Se dissesse que queria ser presidente desde sempre, contou FHC, estaria mentindo. “Eu queria ser papa.”
Ao se dizer receoso com “a desgraçada possibilidade de Lula voltar”, Jabor deu o tom anti-PT que preenchia o salão com 58 mesas iluminadas por velas.
“Se depender desse público, ele não volta”, brincou FHC, que contudo buscou não antagonizar com seu sucessor petista.
O “Lula lá de trás”, disse, era “inovador” e reconhecia que “a CLT amarrava o trabalhador”.
E “fez o governo que tinha que fazer, não vou fazer críticas desnecessárias”, afirmou o tucano.
Já o Lula de agora “está radicalizando” e “vai para o gueto” ao apostar num discurso polarizador, disse.
FHC também deu palpite sobre o atual titular do Planalto. Se fosse Michel Temer (PMDB), ele pediria para sair e adiantaria o pleito presidencial para 2017.
“Com toda franqueza, o que eu faria no lugar dele –e ainda bem que não estou: anteciparia as eleições”, disse o ex-presidente
O jantar acabou com os maestros João Carlos Martins e Arthur Moreira Lima tocando “My Way” do Frank Sinatra no piano, acompanhados pelo tenor Thiago Arancam. Doria gravou em seu celular a apresentação da música que exalta o homem que fez “do seu jeito”.