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Por que a permanência de Temer pode ser boa para Lula e o PT

presidente-lulz-inacio-lula-da-silva-e-o-deputado-michel-temer-300x146 Por que a permanência de Temer pode ser boa para Lula e o PT

Deputados do PT protestaram, ajudaram a obstruir a sessão de quarta-feira (02) do plenário da Câmara e votaram por unanimidade a favor do prosseguimento da denúncia contra o presidente Michel Temer (PMDB) por crime de corrupção passiva — acabaram derrotados pela maioria, que decidiu pelo arquivamento da investigação. Mas na avaliação de especialistas entrevistados pelo UOL, a permanência do peemedebista à frente do Executivo pode ser boa para o Partido dos Trabalhadores sob o ponto de vista político.

Fábio Wanderley Reis, cientista político e professor emérito da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que com mais de 80% de rejeição e o desgaste adicional que o processo sobre a denúncia na Câmara o envolveu, “é difícil imaginar que Temer se recupere e que recupere as condições de administração”. “Do ponto de vista eleitoral, isso é vantajoso para o PT”, acredita.

A tese de que o PT se fortalece com a exposição do governo Temer é um consenso entre membros do partido. Parlamentares, porém, evitam falar publicamente que o “sangramento” do opositor peemedebista favorece a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para as eleições do Planalto em 2018.

“Do ponto de vista eleitoral, não é nenhum desastre a permanência de Temer. Mas é um desastre ético-moral para o Brasil”, afirma o deputado Wadih Damous (PT-RJ) ao UOL.

Ele explica que se o governo do peemedebista “definhar e sangrar” por um longo tempo, causará um impacto positivo na candidatura do PT. “Mas a gente não pensa assim”, justifica. “Temos a obrigação moral da proteção de evitar que um presidente denunciado por um crime gravíssimo se mantenha no cargo”.

O deputado Carlos Zarattini (PT-SP), líder do partido na Câmara, afirma que ao contar com traições entre os partidos aliados na votação desta quarta, o governo do PMDB está longe de ficar sossegado nos próximos meses. “A nossa expectativa é que a crise só vai se agravar, porque o governo não vai ter os votos para aprovar as reformas que quer. Eles tinham 400 deputados na base aliada, mas tiveram 263 votos. Inundou a caravela, que ainda vai afundar”.

Reis concorda que a dificuldade de manter o apoio ao Congresso contribuirá para o “sangramento” de Temer ao analisar os números da votação de quarta-feira. O governo venceu com 263 votos pelo arquivamento da denúncia, bem menos que os 367 pró-impeachment da votação que afastou a então presidente Dilma Rousseff (PT) em abril de 2016. Para aprovar a reforma da Previdência, por exemplo, ele precisaria de ao menos dois terços da Casa, que conta com 513 deputados no total.

“Não foi vitória arrasadora, foi uma vitória apertada relativamente, mostrando que nesse número há reticências e traições. Isso reforça a ideia de que será difícil para Temer executar uma administração com êxito, ainda mais sair como candidato viável para 2018”, disse.

CÂMARA ARQUIVA DENÚNCIA CONTRA TEMER

Melhor Temer do que Maia

Para Michel Zaidan Filho, cientista político e professor titular da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco), essa hipótese do “sangramento de Temer” é um cenário mais favorável a Lula do que a entrada do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara, por meio de eleições indiretas.

“Isso é mais interessante para o PT do que colocar Rodrigo Maia [na Presidência da República], que teria muitas chances de se fortalecer politicamente e que seria o homem-chave para colocar adiante as reformas que estão sendo pregadas. Então, talvez haja mais interesse em manter Temer moribundo, porque aí teriam muito mais chance de disputar a eleições do ano que vem”, afirma.

Segundo o deputado Damous, é fato que Lula terá um “lucro político extraordinário” em sua campanha ao se comparar com Temer. “No governo Lula, era o tempo do quase pleno emprego, do prestígio internacional. Naquela época, o Brasil saiu da mapa da fome, da pobreza e agora está embarcando de volta. Isso fortalece o imaginário popular de que Lula é quem pode governar esse país”, argumenta.

Para o cientista político Vitor Marchetti, professor da UFABC (Universidade Federal do ABC), a permanência de Temer ajudaria o PT a “encontrar um discurso”. “Dá mais possibilidade para o PT se posicionar como uma oposição mais dura, demarcada”, disse.

O senador Humberto Costa (PT-PE) reforça que o PT deseja a saída de Temer “para o bem de todos”. “A continuidade desse governo leva o país para o abismo e para um quadro de instabilidade profunda, que, secundariamente, beneficia os partidos de oposição”.

“Sangramento de Temer vai subir de preço”

Apostar que a permanência de Temer possa desgastá-lo e ajudar o PT, porém, pode ser uma “operação arriscada da esquerda”, pondera Zaidan.

“Esse é um cálculo típico da política: o que vale a pena sacrificar para conseguir o poder? É a chamada ética das consequências de que falava Maquiavel. Vale a pena usar determinados meios, cálculos estratégicos, para deter o poder? O resultado dessa conta é que nós todos perdemos muito com isso, o povo brasileiro perde”, acredita.

Segundo ele, esse “sangramento de Temer” vai subir de preço. “O esforço que vai ser preciso para garantir votos na Câmara para que não seja processado vai ter um custo altíssimo. Além disso, os meios de comunicação continuarão martelando denúncias e delações. Vai chegar ao ponto de que vai ser insustentável manter esse apoio”, afirma.

A senadora e presidente do PT Gleisi Hoffmann (PR) nega que o discurso do PT incentive manter Temer “sangrando” em prol da candidatura de Lula. “Qualquer governo golpista vai fortalecer o PT. Pode ser o Temer, pode ser o Maia, pode ser o Meirelles. Quem quer que eles coloquem nesse lugar, sem a legitimidade, sempre vai haver [quem diga que] o governo do PT foi melhor, o Lula governou melhor esse país”.

A parlamentar chamou de “balela” que o partido se fortalece com a sucessão de crises do Temer. “Esse é um discurso que tentam fazer para enfraquecer o PT, há um desespero no mundo da política e midiático com o crescimento do PT e do presidente Lula”, argumenta.

Não é porque votou contra Temer que vai apoiar Lula

Ainda segundo Marchetti, o relativo fôlego demonstrado pela oposição na votação sobre a denúncia contra Temer não vai se converter necessariamente em apoio para o PT ou para uma eventual candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nas eleições de 2018.

Para o professor da UFABC, nomes de diversos matizes ideológicos vão tentar aproveitar a atual crise política, e ainda não está claro quem pode sair ganhando. Ele citou o caso da bancada do Rio de Janeiro na votação da Câmara nesta quarta, quando deputados como Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ) foram contra o arquivamento da denúncia contra Temer.

“A oposição a Temer não saiu às ruas, seja pela direita, esquerda ou centro”, disse. “Muita gente vai tentar surfar nessa crise, e não está claro quem vai conseguir fazer isso.”

Uol

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