Sem citar racismo e assédio, Trump é atacado por grupos, militantes e opositores
O tom conciliatório de Donald Trump em alguns momentos do seu primeiro discurso sobre o Estado da União, na noite de terça-feira (30), com pedidos de união e ações bipartidárias em prol dos Estados Unidos, não convenceu os grupos que tradicionalmente se opõem às políticas e à retórica agressiva do presidente.
O discurso de uma hora e 20 minutos de Trump, no qual ele prestou contas ao Congresso e ao cidadão norte-americano após um ano de governo, deixou de lado temas que foram altamente repercutidos no ano passado, como as denúncias de assédio sexual contra mulheres e o racismo.
“Procuramos na transcrição integral do discurso do Trump as palavras ‘mulher’ e ‘mulheres’, e só aparece uma vez. Sabemos onde estamos posicionadas na visão do Trump sobre nossa união”, publicou o grupo Naral, pró-aborto.
Atrizes como Alyssa Milano, Ashley Judd e Amber Tamblyn, representantes do movimento #MeToo, que combate o assédio sexual, se dedicaram a espalhar mensagens e campanhas de apoio aos ‘dreamers’, os jovens imigrantes que chegaram aos Estados Unidos de forma irregular quando eram menores de idade e agora estão sob risco de deportação a partir de março, caso os congressistas democratas e republicanos não cheguem a um acordo sobre a questão.
“Eu rejeito a intolerância dessa administração. Acredito em uma América mais gentil, onde imigrantes são bem-vindos e abraçados, livres para buscarem o sonho americano”, postou no Twitter Alyssa Milano, pedindo apoio a um grupo de defesa dos imigrantes.
I believe in a kinder America, where immigrants are welcomed and embraced, and are free to pursue the American dream.
Já o “Black Lives Matter”, que combate o racismo, também foi crítico à fala de Trump. “Trump ainda em silêncio sobre o terrorismo branco enquanto ele fala sobre expandir o já inchado orçamento militar. Ele não falou nada sobre os supremacistas brancos terem sido responsáveis pelos assassinatos mais extremos de 2017”, postou um perfil ligado ao Black Lives Matter em Chicago.
Democratas assumem postura anti-Trump durante e após o discurso
Em busca de firmar sua posição de antagonista a Donald Trump, em um ano em que o Congresso passará por eleições legislativas, políticos democratas abraçaram os temas e grupos que não foram citados pelo presidente, além de mostrarem, com gestos e expressões, desaprovação às palavras do líder republicano.
Uma das primeiras ações que deixaram claro o posicionamento dos democratas foi a presença de vários congressistas do partido vestindo roupas pretas, em alusão à campanha contra o assédio “Time’s Up”, imitando o gesto das atrizes na última premiação do Globo de Ouro.
Durante o discurso, o presidente recebeu palmas de seus aliados ao declarar que o desemprego entre os negros americanos estava em seu menor índice na história. Ao mesmo tempo, a imagem da televisão mostrou membros do Black Caucus – o grupo de congressistas negros, hoje formado apenas por democratas – com um semblante sério e fechado, sem aplaudir o presidente.
Após a fala, o deputado Joe Kennedy, neto de John F. Kennedy, foi o escolhido pelos democratas para fazer a tradicional réplica da oposição à fala do presidente. E ele não deixou os movimentos de lado. ‘Vocês bravamente disseram #MeToo. Vocês firmemente disseram que as vidas dos negros importam”, disse Kennedy, ao mesmo tempo que apoiou os imigrantes e prometeu que sua geração – ele tem 37 anos – “destruirá o muro” caso ele seja construído.