Alisson Rodrigues da Silva, 17 anos, aprendeu desde cedo a transformar, pelo esforço e dedicação ao estudo, as dificuldades da vida em conquistas inimagináveis. Um verdadeiro exemplo de superação. A mãe criou ele e mais três irmãos sozinha e trabalhando como empregada doméstica na cidade de Serra Branca, no Cariri paraibano.
Isso não impediu que Alisson fosse aprovado e participasse, em 2016, de um intercâmbio no Canadá, pelo Programa Gira Mundo, e que agora fosse classificado em primeiro lugar para o curso de graduação em Odontologia, na Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, após aprovação no último Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Alisson Rodrigues sempre estudou em escola pública e o seu Ensino Médio foi feito na Escola Estadual Senador José Gaudêncio, em Serra Branca.
“Sou filho de uma mãe solteira, empregada doméstica e que criou os quatro filhos com muito esforço, pois na minha cidade empregada doméstica não tem carteira assinada, mas ela batalhou e conseguiu formar os filhos em Ensino Fundamental e Médio e isso é uma vitória aqui no Cariri, pois muitas pessoas não concluem o Ensino Médio. O melhor é que ela, agora, me colocou na universidade. Uma batalhadora”, elogia Alisson.
O estudante não teve convívio com o pai, que só retornou a Serra Branca depois que Alisson já havia voltado do intercâmbio no Canadá. “Infelizmente, meu pai chegou após o final do meu intercâmbio. Ele vivia fora, não morava com minha mãe. Agora meu pai mora com a gente, voltou para casa. Minha mãe não pode mais trabalhar e é ele que sustenta a casa. Meu pai vende guloseimas. É assim que ele sustenta a casa, vendendo bolo, doces, salgados. Na hora que minha mãe não podia mais, ele apareceu para suprir. Somos pré-destinados por Deus. Minha mãe tem 55 anos e meu pai 51”, comenta.
Alisson reconhece a importância do PBVest, um cursinho pré-vestibular gratuito voltado para estudantes da rede pública e garante que o programa do Governo do Estado muito contribuiu para seu acesso ao nível superior, por meio do Enem. “Participei do PBVest na minha escola, pois a mesma era sede. Pelo que eu sei até agora, os alunos da escola pública em Serra Branca que conseguiram vagas nas universidades públicas, em cursos como Engenharia de Alimento, Ciências Contábeis e Agronomia, faziam o PBVest”, acrescenta.
Já com relação ao programa Gira Mundo, Alisson afirma que é uma das melhores oportunidades que se oferecem aos alunos do nível médio das escolas estaduais. Alisson explica que aproveitou a oportunidade para aprender muita coisa e que procurou dar o máximo de si. “Trouxe para a Paraíba o melhor do que aprendi no Canadá. Desde que voltei, eu aplico o que aprendi no trabalho voluntário, uma atividade que já desenvolvia antes do intercâmbio internacional e que foi aprimorada no meu retorno ao Brasil, que é dar aulas de inglês a crianças que não têm condições de pagar. Hoje em dia, trabalho em equipe. Comecei só e agora tenho mais dois rapazes que me ajudam, ambos também ex-intercambistas do Gira Mundo”, comemora.
Ele revela que no passado tinha mais de 100 inscritos, mas que só permaneceram no curso apenas 70 alunos. Destes, destacam-se dois alunos seus que tiraram o primeiro e segundo lugar na edição do Gira Mundo em 2017 e que retornaram esta semana do Canadá.
Alisson Rodrigues observa que a educação da Paraíba vem melhorando aos poucos e espera que não pare o que vem sendo feito, na atual gestão, para que todas as escolas públicas consigam chegar ao mesmo grau de excelência das escolas particulares.
“Honestamente, comparada o que tínhamos antes, a escola pública está muito melhor. Antes não tinha o PBVest que é um investimento importante do Governo do Estado; não tinha intercâmbio com outros países; nossa escola não contava com computadores, tablets, ônibus escolar… Olhando microscopicamente, melhorou muito, comparada aos governos anteriores. Resumiria o meu comentário a isto: o dia de hoje tem que ser melhor que o de ontem, pois é assim que estamos progredindo”, sentencia.
Empenho
Quanto ao futuro, Alisson afirma que o grande desafio de sua vida é concluir a sua faculdade, pois, mesmo numa universidade pública, o curso de Odontologia não é barato, além do que estudará em Patos, o que vai demandar um esforço muito grande.
“É um pouco longe, vai ser uma luta para concluir, mas não faltará coragem, esforço e empenho. O meu projeto é concluir a universidade, ser um dentista, abrir meu consultório, no futuro, e ajudar as pessoas. Minha maior vontade é ter uma estabilidade financeira para que eu consiga cada vez mais expandir o projeto voluntário”, almeja.
Alisson Rodrigues da Silva é apenas um dos 15 estudantes da Rede Estadual classificados em primeiro lugar para o preenchimento de vagas nas universidades públicas e em cursos bastante concorridos, conforme levantamento inicial feito pela Secretaria de Estado da Educação, onde aparecem também outros 15 alunos em segundo lugar na classificação, além de outros destaques em termos de aprovação no Enem.
A União