Congresso do Peru prepara posse de Martín Vizcarra como presidente
O Congresso do Peru votará na manhã desta sexta-feira (23) a aprovação do pedido de renúncia do presidente Pedro Pablo Kuczynski, 79, anunciada na quarta (21) e, na sequência, deverá empossar o vice, Martín Vizcarra, 55.
O presidente da Casa, o fujimorista Luis Galarreta, esteve negociando durante o dia com os porta-vozes de cada bancada para que a renúncia fosse aprovada até as 11h30 (13h30 em Brasília), horário previsto para a posse.
A renúncia seria votada em sessão na noite desta quinta (22), que foi suspensa. A Folha apurou que isso se deveu à decisão dos líderes partidários pelo fim do processo de vacância aberto pelo Congresso para depor Kuczynski.
O grupo avalia que, com a Procuradoria iniciando a investigação contra ele, não seria necessário continuar com o processo. O Ministério Público já impediu o agora ex-presidente de deixar o país.
Porém, as condições para que ele continue sendo investigado pela acusação de envolvimento no escândalo da empreiteira Odebrecht só serão conhecidas após o final do debate no Congresso.
Até a publicação deste texto, Vizcarra não havia chegado do Canadá, onde era embaixador. Ele deve pousar em Lima na madrugada.
No começo da tarde de quinta, três manifestantes caminhavam em fila vestidos com uniformes de presidiários e usando máscaras: uma com a cara de Kuczynski, outra com a de Keiko Fujimori, a líder do partido fujimorista (Força Popular), e a terceira com a de Kenji, seu irmão mais novo e inimigo político.
Atrás destes, pessoas carregavam bandeiras do Peru, e gritavam: “Que todos vão embora, chega de corrupção”.
Enquanto essa cena ocorria nos arredores da praça diante do Palácio Presidencial —todo o centro de Lima está cercado por cordões de isolamento e placas de metal, colocadas pela polícia—, PPK, já com trajes mais informais, voltou a aparecer na escadaria do edifício. Despediu-se com abraços e apertos de mão dos funcionários, e deixou o local. Não sem antes afirmar que não permitiria “ser pisoteado” pelos congressistas.
Ao longo do dia, políticos opinaram sobre a renúncia do ex-mandatário.
“É preciso que fique claro que Kuczynski não é uma vítima, está saindo por ser corrupto e imoral”, disse a jornalistas a esquerdista Veronika Mendoza, ex-candidata presidencial em 2016, hoje líder do partido Nuevo Perú.
Mendoza foi crucial para a vitória de PPK nas eleições porque o apoiou nos últimos dias antes da votação, “apenas para que fosse derrotado o fujimorismo”. Hoje, afirma não se conformar com o fato de o ex-mandatário ter descumprido a promessa de não indultar o ex-presidente Alberto Fujimori (1990-2000).
Na sessão que segue pela manhã desta sexta, o Parlamento também decidirá se iniciará o processo de retirada do foro privilegiado do congressista KenjiFujimori e dos demais que aparecem nos vídeos que mostram tentativa de compra de votos e que aceleraram a renúncia de PPK. Caso isso ocorra, eles podem ser expulsos do Congresso e processados.
REAÇÃO INTERNACIONAL
O governo da Colômbia emitiu um comunicado: “Lamentamos profundamente a renúncia de Pedro Pablo Kuczynski“, diz o texto, que reforça, porém, que o país “está seguro de que se realizará uma transição governamental no marco dos princípios democráticos”.
O governo chileno também lamentou a renúncia de PPK, mas afirmou que “respeita as decisões deste país-irmão, esperando dar continuidade à nossa boa relação”, segundo a Chancelaria.
Já na Venezuela, houve festa com fogos artificiais, organizada pelo homem-forte do chavismo Diosdado Cabello. “Esse era o homem que não queria a Venezuela na Cúpula das Américas. Agora quem não vai estar será ele.”
No fim do dia, o ditador Nicolás Maduro voltou a afirmar que comparecerá à cúpula.