As pesquisas ainda não registram, mas a eleição presidencial embicou para três candidatos principais: o sr. X do PT, a ser definido, mas já com a força eleitoral do ex-presidente Lula, contra Jair Bolsonaro, do PSL, ou Geraldo Alckmin, do PSDB. Isso projeta um segundo turno entre esquerda e direita e uma guerra entre Bolsonaro e Alckmin para ver quem chega lá contra o PT. Chova ou faça sol, o candidato do PT parece imbatível no Nordeste e deve colher os votos de Lula no resto do País. Já dá ao menos 20%, suficientes para jogar o partido no segundo turno numa eleição com tantos candidatos. Em sendo Fernando Haddad, agregue-se a boa vontade de não petistas da classe média escolarizada com um professor com jeitão confiável.
Partindo-se da premissa de que o PT estará no segundo, resta a outra vaga. Mais uma vez, Ciro Gomes foi uma boa promessa, mas derrota-se a si próprio pelo destempero e incapacidade de fazer política, de atrair apoios. E Marina Silva tende a, pela terceira vez, inflar no início, murchar no final.
Henrique Meirelles tem campanha azeitada, mas o candidato não ajuda e o MDB cumpre tabela. Álvaro Dias entrou no vácuo do PSDB no Sul, sem ampliar fronteiras. João Amoedo é um desconhecido após meses de campanha. Manuela Dávila e Guilherme Boulos, estão naquela do “tudo que seu mestre mandar”. Assim, sobram Bolsonaro, campeão nas pesquisas sem Lula, e Alckmin, campeão na batalha por alianças.
Bolsonaro consolidou-se entre os mais jovens, os homens, os ricos e os mais escolarizados (aliás, bastante curioso). Mas, segundo o instituto Ideia Big Data, ele não conquistou as mulheres, nada satisfeitas ao ouvir o candidato defender, por exemplo, que têm filhos e, ora, devem ganhar menos que os homens… Seu eleitorado masculino é três vezes maior que o feminino, que prefere o discurso ético e educativo de Marina.
Alckmin, vários pontos atrás de Bolsonaro nas pesquisas, tem potencial nesse eleitorado feminino, sempre mais desconfiado, mais cauteloso, e precisará converter o apoio do establishment em votos do eleitor e da eleitora com curso médio e superior. Todo o cuidado é pouco, porém, para transformar a aliança com o Centrão em ativo, não passivo. Seu ponto forte, particularmente no contraste com Bolsonaro, foi destacado pelo empresário Josué Gomes da Silva, ao recusar a vice, mas anunciar apoio: “Prova de sua (de Alckmin) competência é a maneira firme, serena e eficaz com a qual tem conduzido o governo paulista em meio à gravíssima crise que enfrentamos.” O Brasil e os Estados estão em petição de miséria, mas São Paulo resiste bravamente.
Em linguagem clara, Bolsonaro precisa atacar a alianças PSDB-Centrão, e Alckmin tem de convencer a D. Maria e a Mariazinha da importância de ter dez partidos, tempo de TV e força política. Presidentes sem sólida liderança no Congresso não têm governabilidade, não aprovam projetos fundamentais e ficam sujeitos até a ameaças de impeachment.
Mas, além de convencer o eleitorado feminino, que não embarcou na canoa de Bolsonaro, o candidato tucano terá também de furar a afoiteza do jovem eleitor e a irritação do eleitor escolarizado, encantados com o discurso antipolítica do ex-capitão do Exército. Alckmin terá uma arma poderosa: 40 vezes mais tempo de TV. Mas Bolsonaro tem o mais moderno arsenal de campanhas: as redes sociais.
Assim, as duas grandes apostas que se cruzam são: Bolsonaro está cristalizado ou vai esfarelar por falta de tempo na TV e de consistência nos debates? E Alckmin, que entrou definitivamente no jogo ao fechar o apoio de dez partidos, vai deslanchar ou continuar patinando pela resistência do eleitorado aos “políticos e partidos tradicionais”?
Fonte: EstadãoCréditos: Eliane Cantanhêde