Sem envelhecer, Cristiano Ronaldo tenta novos recordes na Itália
Há uma característica que distingue Cristiano Ronaldo dos demais craques de sua geração que vai além da técnica e vigor físico. O português é obcecado por superar os próprios limites.
Desde quando alcançou o topo em 2008 —quando venceu a Liga dos Campeões e levou o prêmio de melhor do mundo da Fifa— ele se mantém em alto nível, sempre em busca de novas conquistas, coletivas e individuais.
Esse foi um dos principais motivos que fizeram ele, aos 33 anos, trocar o Real Madrid, onde conquistou todos os títulos possíveis, pela Juventus, equipe pela qual estreará oficialmente hoje, diante do Chievo, às 13h (de Brasília), em Verona, pelo Campeonato Italiano.
O português chega à Itália como favorito a ser eleito o melhor jogador do mundo, pela sexta vez. Se conseguir, vai superar o argentino Messi, 31, com cinco prêmios.
“O Cristiano tem de agradecer um pouco ao Messi. Ele [o atacante argentino] gera essa motivação nele [Cristiano Ronaldo], de ganhar cinco vezes o prêmio e agora querer a sexta”, disse Kaká à Folha.
O brasileiro foi o último a levar o troféu da Fifa, em 2007, antes da hegemonia do português e do argentino, em 2007.
Para Kaká, a obsessão por ser sempre o melhor é a maior virtude do português, com quem atuou no Real Madrid.
“Depois que você conquista uma ou duas vezes o prêmio, é completamente normal que apareça um comodismo, uma satisfação, mas ele é um eterno insatisfeito, que serve de motivação para ele continuar quebrando esses recordes todos”, diz.
Esse traço da personalidade está presente no português desde as categorias de base. Isso impressionou até o lendário ex-técnico inglês Alex Ferguson, que pediu a contratação de Cristiano Ronaldo, então com 18 anos, para o Manchester United em 2003.
“Por várias vezes eu presenciei ele, depois dos treinos, ensaiando finalizações. Às vezes, antes dos treinos, ele ficava no ginásio fazendo exercícios, ensaiando dribles. Tudo sozinho”, lembra o ex-volante Kleberson, contemporâneo do português na Inglaterra.
Fora de campo, a dedicação dele é igual, sobretudo para a alimentação e recuperação após treinos e jogos. O reflexo dessa dedicação pode ser visto nos exames feitos pela Juventus, antes de assinar um contrato de quatro anos com o atacante, que apontaram índices de um atleta de 20 anos.
O percentual de gordura dele, por exemplo, é de 9,5%. A média para um atleta de 33 anos é de 13%.
“É um valor de percentual muito baixo, mostra que é um atleta bem treinado, condicionado, que cuida principalmente da alimentação”, explica Antonio Carlos Augusto Fedato Filho, fisiologista do Corinthians.
Além da alimentação, Cristiano possui em sua casa aparelhos que o ajudam a se recuperar do desgaste após treinos e jogos, como uma criosauna.
“Essa máquina baixa a temperatura corporal, o sangue vai ficar concentrado na parte mais central do corpo. Ele é oxigenado e o corpo joga substâncias no sangue que vão ajudar na recuperação do atleta”, explica Fedato.
A carga de treinos minimamente calculada que aplica em seu corpo o ajuda, também, a reduzir a perda hormonal.
“É natural o atleta a partir dos 30 anos ter um decréscimo dos hormônios anabólicos. Isso pode ser reduzido com treinamentos adequados e de uma alimentação”, afirma Daniel Gonçalves, coordenador científico do Flamengo.
A principal manifestação da força e potência de Cristiano Ronaldo está nas finalizações dele. Não à toa, em cinco temporadas, ele teve média igual ou acima de um gol por jogo. Em outras cinco, também chegou bem próximo a isso.
“Ele é um excepcional finalizador, tão bom ou até melhor do que o Pelé, e mais do que o Messi ou qualquer outro finalizador”, afirma o ex-jogador Tostão.
FOLHA