As águas da transposição do Rio São Francisco chegaram ao município de Monteiro trazendo, além de esperança e torneiras cheias, novas possibilidades econômicas para a região do Cariri. Uma delas é a carcinicultura, que é a criação de camarão em cativeiros. Bastante comum nas regiões do litoral e brejo do estado, além do Vale do Rio Paraíba, agora é a vez do Cariri provar, na prática, o potencial para o cultivo do crustáceo em cativeiros. Um projeto pioneiro implantado em Monteiro foi acompanhado por consultor do Sebrae Paraíba na região.
De acordo com o consultor do Sebrae em Monteiro, André Jansen, que também é presidente da Associação dos Carcinicultores da Paraíba, por causa das condições físico-químicas das águas do Rio Paraíba, que se tornou perene na região por causa da transposição, a criação de camarões em cativeiros agora é possível não apenas no Cariri, mas também no Sertão do estado. “O cultivo de camarões marinhos em águas interiores é um sistema bastante viável na Paraíba. As condições ambientais são muito favoráveis”, explicou.
Isso porque, de acordo com diversas pesquisas, as águas de poços localizados no semiárido nordestino possuem elevados níveis de sais, tornando-as impróprias para o consumo humano se não passarem pelo processo de dessalinização. “A carcinicultura se torna a única cultura capaz de suportar as águas salinizadas do Rio Paraíba e de poços amazonas e artesianos que não seriam utilizadas em outras culturas, podendo produzir um produto nobre e de alto valor remunerado nesta região”, frisou Jansen.
Ainda, conforme o consultor do Sebrae, os camarões utilizados para os viveiros em Monteiro são de um laboratório de pós-larva do litoral do Rio Grande do Norte. “Devido ao uso sustentável da água em relação às outras culturas, a aquicultura se torna a salvação da lavoura nesta região”, salientou. Na Paraíba, existem 33 pequenos negócios com CNPJ voltados ao segmento da criação de camarão, sendo 22 em água doce e 11 em água salgada. Entretanto, a maior parte dos produtores são registrados como DAP (Declaração de Aptidão ao Pronaf). Dessa forma, a Associação dos Carcinicultores da Paraíba contabiliza cerca de 500 produtores associados.
“A criação de camarão no Cariri e Sertão paraibano é um negócio não apenas viável, mas também inovador e criativo. Com o diferencial da transposição, agora a região poderá desenvolver outros potenciais econômicos, incluindo novas plantações de palma forrageira”, afirmou o analista do Sebrae, Jucieux Palmeira.
Chegou água. E agora?
Esse foi o questionamento do advogado Marcelo Assunção, um dos responsáveis pela implantação da carcinicultura na Fazenda Terra do Sol, em Monteiro, quando as águas da transposição finalmente chegaram à região. “Quando nossa fazenda voltou a ter água abundante, por causa dos poços, começamos a pensar no que fazer, se agricultura ou pecuária, por exemplo. Mas eu vi uma reportagem sobre a criação de camarão de água salgada na Paraíba e em outros locais que não eram perto do mar e pensei ‘por que não fazer uma criação de camarão aqui no Cariri paraibano?’”, contou.
Com a ideia em mente, o advogado e empreendedor, junto com o sogro e cunhados, buscaram uma consultoria do Sebrae Paraíba para saber da viabilidade do projeto. “Meu sogro e meus cunhados têm visão de futuro e, por isso, toparam a empreitada. Tudo o que fazemos na fazenda, buscamos apoio do Sebrae. Já tivemos outras culturas como acerola, um pouco de caprinocultura, mas agora foi importante buscar a solução técnica do Sebraetec”, explicou.
O projeto teve início em meados de outubro do ano passado, quando passou por todos os trâmites junto aos órgãos ambientais. Em julho deste ano, foi realizado o povoamento direto dos cativeiros com 300 mil larvas de camarão e a expectativa do cultivo é em setembro. De acordo com o produtor, inicialmente foi feito meio hectare de lâmina d’água para cavar dois viveiros. O projeto ainda conta com uma lagoa de decantação para reaproveitar a água dos cativeiros em novos ciclos de criação.
“A consultoria do Sebraetec foi utilizada na implantação do projeto, possibilitando o produtor legalizar o empreendimento sem desembolsar 100% dos custos, e a segunda foi a implantação dos Race Ways, que são berçários onde os camarões ficam confinados durante 30 dias e depois liberados para o viveiro de engorda. Agora estamos passando para a terceira etapa, que são as estufas que vão permitir o cultivo do camarão durante o ano inteiro sem a interferência do inverno”, explicou o consultor do Sebrae.
O investimento foi de R$ 300 mil para a realização do projeto, com expectativa de lucro de 60%. “Queremos, inicialmente, quatro ciclos de cinco toneladas de camarão por ano. Com certeza, o camarão é uma das atividades mais lucrativas do país. Estamos fazendo nossa parte tecnicamente e vamos ter sucesso nessa empreitada”, afirmou Marcelo Assunção.
G1