A ciência diz que os palavrões habitam no sistema límbico do cérebro, uma espécie de porão, a parte raiz que controla as emoções. Quando esse lado impulsivo e sincero é acionado, a inteligência humana busca formas de expressar os mais variados sentimentos que foram despertados, seja em palavras ou em gestos. No caso do futebol, em muitos casos, a maneira encontrada é liberar os palavrões.
Existem vários estudos que afirmam que as pessoas que falam palavras de baixo calão são mais sinceras, inteligentes e até mesmo mais felizes. A verdade é que, em um processo de competição, é difícil controlar a emoção. Afinal, trata-se de uma disputa. Um ganha, outro perde. Vitória e derrota, dois resultados que atiçam o nosso lado primitivo.
Assim, necessitando exteriorizar as emoções, utilizamos expressões que possam representar verbalmente (e, muitas vezes, “ expurgar”) a tensão acumulada. Por isso, o uso recorrente de palavrões no futebol.
É como se nenhuma outra palavra pudesse evidenciar o que é sentido naquele instante. Reagir com palavrão é libertador e quase automático, sendo até mesmo socialmente aceito dentro do mundo dos esportes. Isso nos leva novamente ao questionamento inicial: afinal, existe futebol sem palavrão?
De acordo com o Dicionário, palavrão trata-se de vocábulo obsceno, grosseiro e pornográfico. A partir dessa definição, tem-se a impressão de que esses termos são usados apenas para insultar, mas não no futebol. Tanto que até mesmo quem faz o gol pode receber um “filho da p…”. Nesse caso, a expressão é usada não para ofender, mas sim para exaltar, sendo uma das formas mais espontâneas encontradas para expressar a alegria pelo acontecimento e a consagração do autor do gol.
Imaginemos, então, a seguinte situação: está ocorrendo um jogo do seu time, a partida está empatada em 2×2. Esse resultado dá a vantagem ao adversário e somente uma vitória garantiria a taça da Copa do Brasil para o seu clube. Nos acréscimos do segundo tempo, o zagueiro, após cobrança de escanteio, faz um gol de cabeça. Quais palavras, além de “p… que pariu”, “p…”, “car…” e afins, expressariam verdadeiramente o sentimento causado pela situação?
Para o torcedor, futebol é sentimento. E só um palavrão consegue traduzir a emoção que atinge o seu auge. Quando acompanhamos uma partida do nosso time do coração, no estádio ou em casa, uma grande carga emocional é acionada e essa sensação é revelada em nossas atitudes e palavras. Ou melhor, nos palavrões.
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