Como presidente, Mourão adota estilo parecido ao de José Alencar
Em seu primeiro dia como interino no comando do Palácio do Planalto, o vice-presidente Hamilton Mourão sinalizou a postura que deve adotar durante o mandato de Jair Bolsonaro.
Com uma agenda cheia, opiniões contundentes, entrevistas à imprensa e brincadeira com futebol, o general imprimiu nesta segunda-feira (21) estilo semelhante ao do ex-vice-presidente José Alencar (2003-2010).
Antes mesmo de chegar ao Palácio do Planalto para a sua primeira audiência como substituto do presidente, Mourão já havia entrado ao vivo em uma emissora de rádio.
Na entrevista, disse que o decreto que facilitou a posse de armas, a primeira e única medida de impacto do novo governo, não é uma iniciativa de combate à violência, mas uma promessa de campanha.
“Não vejo como uma questão de medida de combate à violência. Vejo apenas, única e exclusivamente, como atendimento de promessa de campanha do presidente e que vai ao encontro dos anseios de grande parte do eleitorado dele”, disse.
No período da tarde, falou novamente com veículos de comunicação, desta vez defendendo mudanças nas regras previdenciárias para os militares. O tema tem sido discutido com cautela e reserva pela equipe econômica, já que enfrenta resistência junto às Forças Armadas.
“São mudanças que seriam positivas para o país”, resumiu.
Na posição de substituto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário mineiro ficou conhecido por declarações fortes, como críticas ao próprio governo, por ser falante com a imprensa e ser atuante tanto no campo político como no econômico.
Apenas na sua estreia como interino, posição que deve exercer até quinta-feira (24), Mourão recebeu embaixadores e militares. Nesta terça-feira (22), viajará ao Rio de Janeiro e, à noite, em Brasília, terá encontro com representantes da indústria.
“O que nós queremos é medir o novo governo segundo os atos e fatos, não segundo os tuítes e palavras durante a campanha eleitoral”, disse o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, após reunião com o militar.
Em um um governo fechado, o general tornou-se a principal ponte de empresários ao comando do Poder Executivo. Em 2002, foi Alencar quem ajudou a diminuir o receio que havia em setores do mercado a um eventual radicalismo de Lula.
Na sua chegada ao Palácio do Planalto, na manhã desta segunda-feira (21), Mourão demonstrou ainda outra similaridade com o empresário. “Só queria dizer o seguinte: extrema satisfação que o Flamengo venceu ontem e o Botafogo perdeu”, disse.
Torcedor do Nacional, Alencar costumava usar a referência ao futebol para descontrair o clima com a imprensa e chegou a solicitar ajuda financeira para o término do estádio do clube.
Em conversa com a Folha, na semana passada, Mourão chegou a elogiar Alencar. “Acho que ele fazia muitas coisas que faço, como receber pessoas e bater papo”, disse.
Sobre a sua semana como presidente interino, o general explorou metáfora futebolística. “Só tocando a bola para o lado”, afirmou.
Ao encerrar o expediente na segunda, Mourão adotou um tom descontraído e brincou com repórteres com uma expressão em inglês: ‘no news, good news’.
Ele também disse que o discurso de Bolsonaro em Davos vai mostrar que ele não é “Átila, o huno”.
Acabou falando novamente com a imprensa e disse “ter recebido um zap” de Bolsonaro que, segundo ele, relatou apenas ter chegado bem à Suíça. Quanto a instruções, o vice afirmou apenas que o mandatário recomendou ‘prudência e caldo de galinha’ no exercício da presidência.
“O discurso do presidente vai ser em cima das reformas da área econômica, que querem ser feitas, principalmente a reforma da previdência, e também mostrar que ele não é o Átila, o huno, é mais um brasileiro que nem nós”, disse o vice-presidente.
A referência de Mourão é a um famoso conquistador do século 5 que liderou ataques aos romanos.