Com aumento de variantes, pôr fim a restrições ‘muito rapidamente’ pode ser desastroso, diz chefe da OMS
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus disse nesta segunda-feira (7) que, com o aumento na transmissão das variantes do coronavírus em todo o mundo, pôr fim a restrições “muito rapidamente” pode ser desastroso àqueles que não foram vacinados.
“Com o aumento na transmissão das variantes de preocupação global, incluindo a variante delta [identificada pela primeira vez na Índia], levantar restrições muito rapidamente pode ser desastroso para aqueles que não foram vacinados”, disse em entrevista coletiva na sede da OMS em Genebra.
A fala de Ghebreyesus acontece no mesmo dia em que governos regionais indianos anunciaram uma reabertura gradual da economia, após a queda nos números de mortes e casos de Covid-19. A OMS também pediu cautela na realização de grandes eventos esportivos (leia mais abaixo).
Organização de grandes eventos
A OMS não tem poder para regular e interferir em decisões de Estado sobre a forma com que a pandemia é gerenciada. No entanto, questionado sobre a realização de grandes eventos em países que vivem surtos da doença, como a Copa América no Brasil, o diretor-executivo de emergências, Mike Ryan afirmou que os riscos devem ser avaliados – e caso não haja segurança, que se reconsidere a realização do evento.
“Grandes eventos esportivos internacionais são complexos e requerem uma clara estimativa de riscos e o gerenciamento desses riscos”, disse Ryan. “Entendemos que os riscos podem ser reduzidos, mas dificilmente chegam a zero.”
O diretor-executivo reforçou que países tenham “extremo cuidado” porque falta desse gerenciamento de riscos abre espaço para que se aumente a transmissão da doença, mas que essa é uma decisão que parte da soberania dos Estados e dos comitês de organização.
“Se não houver garantias de gerenciamento de risco, os países certamente deveriam reconsiderar suas decisões em receber qualquer evento que reúne grande número de participantes”, disse Ryan.
Reabertura indiana
Na Índia, os governos de Nova Délhi e Mumbai começaram a suspender as restrições impostas durante o maior surto da Covid-19 no país. A partir desta segunda, o comércio não essencial e o transporte público voltam a operar com metade da sua capacidade.
O país asiático foi um dos mais atingidos pelo coronavírus neste ano, após o afrouxamento de regras sanitárias, o surgimento de uma nova variante e o acontecimento de grandes eventos religiosos que incentivaram aglomerações.
No entanto, o país de 1,3 bilhão de habitantes vem registrando uma redução no número de casos e mortes pela doença, que chegou nesta semana ao seu menor patamar em dois meses, com 100 mil confirmações diárias de infecções e cerca de 2,5 mil mortes a cada 24 horas.
Duas vias na pandemia
O chefe da OMS criticou a desigualdade na distribuição de doses da vacina entre os países e disse que a forma com que os imunizantes estão concentrados em países mais ricos criou uma “pandemia de duas vias”.
“Cada vez mais, vemos uma pandemia de duas vias”, disse Ghebreyesus. “Seis meses desde que as primeiras vacinas foram administradas, os países de alta renda administraram quase 44% das doses mundiais. Os países de baixa renda administraram apenas 0,4%. O mais frustrante sobre essa estatística é que não mudou em meses.”
O diretor-geral da agência de saúde da ONU disse ter pedido aos líderes do G7, que reúne as sete potências econômicas mundiais, que compartilhem parte de suas doses de vacinas com países mais pobres nos próximos dois meses.
G1