Aquecimento global desperta vulcões na Islândia e pode afetar clima europeu
Na Islândia, o vulcão Fagradalsfall, situado a quarenta quilômetros da capital, Reykjavik, entrou em erupção no último dia 19 de março, depois de 800 anos de inatividade. As modelizações climáticas preveem uma atividade vulcânica intensa nas próximas décadas, com repercussões no clima europeu. É o que mostra o jornalista Samuel Turpin, que conversou com o vulcanólogo francês Jacques-Marie Bardintzeff, durante uma reportagem no local, transmitida pelo programa da RFI “C’est pas du vent”.
A Islândia possui 200 vulcões. A maior parte deles, coberta de gelo, está inativa, mas pode voltar a entrar em erupção devido ao aumento da atividade sísmica provocada pelo aquecimento global. Um deles é o Vatnajökull, situado no sudeste do país, com uma superfície de 8.390 km². Ele cobre seis vulcões e 8% do território da Islândia.
“O aquecimento global pode derreter as geleiras”, ressalta Jacques-Marie Bardintzeff. “Com menos gelo e pressão sobre esses vulcões, eles poderiam ser liberados da pressão superficial e entrar com mais frequência em erupção. Conhecemos mais o impacto dos vulcões sobre o clima, mas o impacto do clima sobre os vulcões ainda é objeto de discussões. É o que tentamos modelizar”, explica o vulcanólogo.
Erupções precedentes, como a do vulcão Pinatubo, de 1991, nas Filipinas, mostraram que a quantidade de material expelida na atmosfera diminuiu a temperatura em 0,5º C. Cinzas vulcânicas e dióxido de enxofre, transportados para a estratosfera, criaram uma camada de partículas que, durante meses ou anos, circundaram a Terra e refletiram parte dos raios solares, impedindo que a radiação atingisse o solo.
Um exemplo de como as erupções vulcânicas podem afetar a atividade humana é a nuvem de cinza do vulcão islandês Eyjafjallajökull. Em abril de 2010, ele provocou o maior caos na história mundial da aviação, paralisando o tráfego aéreo europeu durante vários dias.
Mais de 100 mil voos foram cancelados e milhões de passageiros foram prejudicados durante a primeira semana de erupção do vulcão. A cinza atingiu todo o continente alguns dias depois e chegou a paralisar quase 100% do tráfego aéreo, superando o caos após os atentados de 11 de setembro.
Uma erupção a cada cinco minutos Cerca de 32 vulcões estão atualmente ativos na Islândia. Há, em média, uma erupção a cada cinco minutos no país. Os islandeses aprenderam a conviver com os vulcões, desenvolvendo a Geotermia – a energia proveniente do calor da Terra.
“Ela faz parte das energias renováveis, que é um desafio mundial. A Islândia é um laboratório de Geotermia, que pode utilizada, por exemplo, nos sistemas de aquecimento da capital Reykjavik, ou para o abastecimento de água quente, o que gera uma grande economia para o país”, avalia Jacques-Marie Bardintzeff. A eletricidade também é produzida pelas centrais hidrelétricas, graças aos muitos rios que cercam as geleiras islandesas.
O país também está no foco dos DataCenters para a estocagem de dados, pela sua situação geográfica, o baixo custo energético e a excelente rede de fibras óticas. A questão suscita debates sobre a poluição digital que, justamente, requer um consumo energético elevado, que contribui para o esgotamento dos recursos naturais e a emissão de gases poluentes. O setor é responsável por cerca de 5% das emissões, que devem triplicar até 2050 e poluem mais do que o tráfego aéreo.
Turismo vulcânico
A Islândia também é um destino atraente para os adeptos do turismo vulcânico. “A atração provocada pelos vulcões é impressionante e um turismo se desenvolveu em torno disso”, diz Sylvain, entrevistado pela RFI enquanto passeava com um grupo de turistas. Ele organiza viagens pelo país e fundou a agência “80 dias de viagem”, em referência à obra de Jules Verne, “A Volta ao Mundo em 80 Dias”, publicada em 1872.
“Meu papel é acompanhar as pessoas o mais perto possível das erupções. Sob esse ponto de vista, a Islândia é um país muito rico. Há erupções com frequência e muitas paisagens vulcânicas que oferecem possibilidades de viagem e de turismo que são extraordinárias”, declara.
Assim como os japoneses estão acostumados aos terremotos, os islandeses estão habituados às erupções, que são recorrentes. À medida que o vulcanólogo e o repórter se aproximam do ponto de observação mais alto do vulcão Fagradalsfall, o calor da cratera vai ficando mais intenso. “Esse vulcão mostra que a Terra está viva, que ela vive, que ela treme, às vezes provoca tremores, cria vulcões, cria cadeias montanhosas, oceanos. Sem vulcões, a Islândia não existiria. Tudo foi feito pelos vulcões. Talvez alguns ouvintes imaginem que as rochas sempre são velhas, mas estamos assistindo ao nascimento de rochas mais jovens do que a gente”, finaliza.
RFI