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Karim Benzema, o F1 do futebol, conquista a Bola de Ouro

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Apresentado aos seus colegas experientes, Karim Benzema, então com 18 anos, teve de passar pelo batismo comum aos novatos no elenco do Lyon: fazer um discurso diante de todos. O jovem atacante tropeçou nas palavras e os mais velhos, como Sylvain Witord, Elber, Sidney Govou e Florent Malouda começaram a rir.

“Não riam. Eu estou aqui para tomar o lugar de vocês”, avisou Benzema naquele janeiro de 2005.

Dezessete anos depois, ninguém ri mais. Em uma das maiores reviravoltas já registradas no futebol europeu, o jogador que era sombra de Cristiano Ronaldo e se tornou um pária do futebol francês foi escolhido o melhor do mundo pela revista France Football. Nesta segunda-feira (17), ele ganhou a Bola de Ouro, prêmio dado pela publicação para o principal craque da temporada.

A eleição não foi nenhuma surpresa. Benzema era favoritíssimo para vencer depois de ter sido escolhido o melhor pela Uefa.

“Ele vai ficar com a Bola de Ouro. Ninguém tem dúvida”, disse no mês passado o presidente do Real Madrid, Florentino Pérez.

A vitória é mais um golpe no duopólio de Lionel Messi e Cristiano Ronaldo no futebol mundial. O argentino foi o ganhador em 2021 mas nem disputou o prêmio em 2022.

Cristiano Ronaldo terminou em 20º. É a primeira vez desde 2006 que nenhum dos dois está na lista dos três melhores.

“Desde que eu era criança, sempre foi um sonho ganhar a Bola de Ouro”, Benzema já havia dito no ano passado, em entrevista ao diário espanhol AS. “É um sonho da maioria dos jogadores. É verdade que o futebol é esporte coletivo, mas, quando você ajuda a sua equipe a vencer, é protagonista nos triunfos e anota gols decisivos, é natural que aspire vencer a Bola de Ouro.”

Na temporada 2021-2022, encerrada em maio, ele marcou 44 gols em 46 partidas. Foi fundamental para as conquistas do Real Madrid na liga espanhola e na Liga dos Campeões. O principal momento foi nas oitavas de final da competição europeia, quando anotou três vezes em 17 minutos para eliminar o Paris Saint-Germain (FRA).

Benzema se tormou o quinto francês a ganhar o prêmio criado em 1956. Antes dele, Kopa (1958), Michel Platini (1983, 1984 e 1985), Jean-Pierre Papin (1991) e Zinedine Zidane (1998) também venceram.

A quase um mês da Copa do Mundo no Qatar, Benzema, capitão do Real Madrid, é peça fundamental da seleção francesa, atual campeã e uma das favoritas ao título. E qualquer um que previsse há quatro anos que o centroavante seria o melhor do planeta seria ridicularizado.

Foi em 2018 que o atacante ironizou a escolha do técnico Didier Deschamps por Olivier Giroud como centroavante titular. O camisa 9 saiu do Mundial da Rússia sem fazer nenhum gol, mas a França levantou a taça. Benzema disse não haver comparação. Ele era um carro de F1. O eleito de Deschamps seria um kart.

“Mas eu sou um kart campeão do mundo”, devolveu Giroud.

Apesar de ser, de longe, o principal artilheiro francês, ele ficou cinco anos e meio sem ser chamado para a seleção e, nesse período, parecia ter explodido todas as pontes com os dirigentes do país e com o treinador.

Em junho de 2015, o meia Valbuena trocava Marselha por Lyon (cidade onde nasceu Benzema) e pediu a uma pessoa chamada Axel Agnot para passar os dados do seu antigo telefone celular para um novo aparelho. Agnot encontrou vídeos íntimos do armador e, associado a Mustapha Zouaoui, começou a chantageá-lo. A ameaça era tornar as imagens públicas caso não recebessem um pagamento.

O jogador procurou a polícia, que começou uma investigação em sigilo. Ficou comprovado o envolvimento de Karim Zenati, amigo de infância de Benzema. O próprio atacante acabou acusado de ser intermediário, ao pedir que Valbuena pagasse o resgate. O agora dono da Bola de Ouro foi detido e passou uma noite na delegacia. Em novembro de 2021, acabou condenado a um ano de cadeia (mas a pena foi suspensa) e a pagar 305 mil euros (R$ 1,58 milhão em valores atuais) como multa, danos morais e custos advocatícios.
Benzema insiste não ter tido nenhuma participação no crime e diz que apenas tentou ajudar um amigo a encerrar caso que poderia ser vexatório.

O episódio se tornou tão rumoroso que o então primeiro-ministro do país, Manuel Valls, disse que o atacante não deveria mais jogar pela seleção. O ex-presidente François Hollande reclamou que o futebolista não era “um bom exemplo moral”.

Benzema caiu atirando. Acusou Deschamps de se curvar à pressão de uma “parte racista da França”. Afirmou que os cartolas do país estavam associados para excluí-lo do futebol. O treinador confessou que as palavras de Benzema se tornaram uma mancha na sua vida e não seriam esquecidas jamais. Mas de forma surpreendente, no ano passado, convocou-o para a Eurocopa.

Não foi o primeiro problema fora dos campos do camisa 9. Em 2010, a emissora de TV M6 mostrou que quatro integrantes da seleção eram investigados por participação em uma quadrilha de prostituição em Paris. Algumas das mulheres seriam menores de idade. Benzema foi acusado de fazer sexo com uma garota de 16 anos. No ano seguinte, a promotoria pública pediu que ele fosse retirado da lista de acusados por não saber a idade da garota.

Filho de argelinos, Benzema já disse se sentir cidadão da Argélia. Sua relutância no passado em cantar a “Marselhesa”, o hino nacional francês, foi questionada por imprensa, dirigentes e políticos. Ele garantiu que estaria sempre à disposição da França.

Revelado pelo Lyon, chegou ao Real Madrid em 2009, mesmo ano em que a equipe contratou Cristiano Ronaldo como o jogador mais caro do mundo. Até 2018, quando o português se transferiu para a Juventus (ITA), Benzema foi peça acessória de luxo para CR7. Juntos, conquistaram quatro vezes a Champions League.

Com a saída do astro, o francês passou a ser o centroavante de fato. Foi o melhor jogador do Real na conquista de mais um título europeu neste ano. O atacante que tem como ídolo Ronaldo Fenômeno possui média de 23 gols por temporada desde 2010. É o atleta que mais deu passes para gols na história do time madrileno (160) e é seu segundo maior artilheiro, com 328 gols. O líder é Cristiano Ronaldo, com 450.

Os próximos passos para Karim Benzema serão ganhar a eleição de melhor do planeta da Fifa, com premiação ainda sem data definida, e provar que um F1 também pode ser campeão do mundo.

Na premiação da melhor jogadora, o favoritismo da meia espanhola Alexia Putellas foi confirmado. Melhor do mundo da Fifa em 2021, ela venceu a Bola de Ouro pelo segundo ano consecutivo.

No início da cerimônia, o brasileiro Raí subiu ao palco para entregar o prêmio Sócrates, em homenagem a seu irmão, meia do Corinthians e da seleção brasileira, morto em 2011. A iniciativa foi criada para premiar jogador envolvido em causas sociais. O primeiro ganhador foi Sadio Mané, que pagou a construção de escolas e hospitais em sua vila natal, no Senegal.

“O Sócrates representa ideais para um mundo mais justo, que valoriza a democracia, para criar um mundo melhor. O futebol é um aporte importante para isso. Este símbolo será eterno. Para isso, vamos pensar sobre a decisão importante que faremos nos próximos dias no nosso país. Nós sabemos de que lado ele estaria”, disse Raí, que foi ídolo do Paris Saint-Germain.

Depois disso, ele fez com a mão o sinal da letra L, símbolo da candidatura de Lula à Presidência.

O Troféu Kopa, para o melhor jogador sub-21 foi para o meia espanhol, Gavi, 18, do Barcelona.

O polonês Robert Lewandowski, do Barcelona, foi escolhido para levar o prêmio Gerd Muller, de melhor atacante da última temporada.

Sem nenhuma surpresa, o belha Thibaut Courtoi, do Real Madrid (ESP), ficou com o prêmio Lev Yashin, para o melhor goleiro.

FOLHAPRESS

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