‘Não há nada que justifique’, diz Alckmin sobre juros de 13,75%
Geraldo Alckmin no BNDES (Foto: Reprodução/TV Globo)
Geraldo Alckmin, vice-presidente da República e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, criticou nesta segunda-feira (20) a atual taxa de juros no Brasil.
“Não há nada que justifique 8% de juro real acima da inflação quando não há demanda explodindo e de outro lado quando o mundo inteiro está praticamente com juro negativo”, declarou.
Desde agosto, a taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75%, e o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom/BC) decidiu mantê-la na última reunião, em fevereiro — a partir de então, o presidente Lula vem constantemente criticando o BC pela ata. O colegiado se reúne novamente a partir desta terça-feira (21), quando discutirá se altera ou não a taxa.
Apesar de criticar o patamar atual da taxa de juros, Alckmin afirmou que a inflação — que o Banco Central busca controlar por meio da taxa Selic — não pode voltar. “Não pode voltar inflação. A inflação não é socialmente neutra: ela tira do mais pobre e põe para o mais rico”, afirmou Alckmin.
O Brasil é o país com a maior taxa de juros reais (descontada a inflação) do mundo, segundo levantamento feito pelo MoneYou e pela Infinity Asset Management em fevereiro. O país se mantém na liderança deste ranking desde maio do ano passado.
Alckmin elogiou a ancoragem fiscal, que deverá ser divulgada nos próximos dias, que contempla a curva da dívida, o superávit e o controle de gastos. “Temos inúmeros desafios, entre eles imposto e o custo do dinheiro, os juros altos. Mas o governo Lula está muito empenhado em fazer a reforma tributária. Vai simplificar cinco tributos em um único imposto, o IVA, que vai reduzir o custo Brasil”, explicou o vice-presidente.
O vice-presidente disse também estar muito otimista com o avanço da reforma tributária. “Simplifica tributos e tira a cumulatividade. Vai estimular a exportação e também reduzir o custo Brasil”, explicou.
Alckmin veio ao Rio de Janeiro para participar, na sede do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), do seminário “Estratégias de Desenvolvimento Sustentável para o Século 21”.
Presidente do BNDES, Aloizio Mercadante recebeu também José Pio Borges, presidente do Conselho Curador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), e Josué Gomes, presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Mercadante também criticou os juros altos, o que, segundo ele, deixa o cenário pouco competitivo para investimentos em energia limpa.
“Nós estamos aguardando um novo arcabouço fiscal. O ministro [Fernando] Haddad pode esperar de mim e do banco total lealdade e parceria, ao contrário das especulações que são publicadas”, disse Mercadante.
“Nós não estamos aqui para outra razão, não temos expectativa de substituir ninguém, muito menos de competir; agora, não nos peçam para deixar de dizer o que nós pensamos e ajudar o governo a acertar, a encontrar o melhor caminho, a buscar as melhores práticas. É para isso que nós estamos aqui”, prosseguiu.
“Esse banco esteve historicamente e vai voltar. Aquele banco acanhado acabou. Ele vai debater, vai investir e vai impulsionar o crescimento do país”, emendou.
Sustentabilidade
Para Alckmin, o Brasil é “a bola da vez” no mercado de créditos de carbono. “Onde é que eu fabrico bem e barato e consigo compensar a emissão de carbono? E aí o Brasil, como disse o Mercadante, passa a ter uma oportunidade extraordinária para atrair investimentos de energia limpa e de redução de emissões”, prosseguiu.
O vice-presidente disse ainda que “o mundo vai depender de três países”: “Brasil, Congo e Indonésia, o BIC, onde estão as três florestas tropicais que podem segurar as mudanças climáticas.”
Alckmin citou “a postura firme do governo combatendo o desmatamento ilegal”.
“Na Amazônia, o desmatamento é absurdo. Se somarmos o escapamento da moto, do carro, do ônibus, do caminhão, da lancha, do trem, do avião, a chaminé de todas as fábricas, o lixão, o esgoto, é a metade. A outra metade é só o desmatamento. Um hectare de mata queimada são 300 toneladas de carbono lançadas na atmosfera. E não é agricultor que faz desmatamento, é grileiro de terra”, descreveu.
“O grileiro desmata na esperança de que amanhã o governo vá lhe dar o título dessa terra. Falta o poder de cumprimento da lei. E a postura do governo Lula tem sido de total compromisso com a sustentabilidade, com o desenvolvimento inclusivo de não deixar ninguém para trás”, emendou.
“Aqui foi muito bem lembrado o salário mínimo: 70% dos aposentados e pensionistas do Brasil vivem com um salário mínimo. Imagine o idoso, sem casa própria, viver com R$ 1.302?”, questionou.
G1