Especialistas mantêm posição otimista para investimento chinês neste ano após tombo de 78% em 2022
Brasil ficou em nono lugar entre os destinos que mais receberam investimentos chineses no mundo em 202215/02/2016. REUTERS/Aly Song/File Photo
O volume de investimentos chineses no Brasil caiu 78% em 2022, na comparação com o ano anterior, alcançando o valor total de US$ 1,3 bilhão, o menor desde 2009, conforme apontou o relatório mais recente do Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC).
Com isso, o Brasil ficou em nono lugar entre os destinos que mais receberam investimentos chineses no mundo em 2022 — uma queda de oito posições em relação a 2021, quando ficou no topo da lista, com US$ 5,9 bilhões.
O recuo pode ser explicado pelo fato de alguns investimentos necessitarem de uma série de licenças para o início de suas operações, conforme aponta o estudo, o que eventualmente pode adiar sua execução.
Em 2021, a taxa de efetivação em relação ao número de anúncios chegou a 97%, com apenas um empreendimento não confirmado, em 2022 esse percentual caiu para 78%.
Tulio Cariello, diretor de Conteúdo e Pesquisa do CEBC, também pontua que a pesquisa pode ser melhor avaliada quando analisada a partir do número de projetos realizados no país.
“O melhor termômetro de interesse é o número de projetos, porque vemos quais setores estão sendo investidos. Podemos ter menos projetos com um valor muito alto, mas isso não necessariamente quer dizer que há um grande interesse em investimentos, porque não tem diversificação de setores”, explica.
Considerando o número de empreendimentos, as companhias chinesas investiram em 32 projetos no Brasil, 14% a mais do que em 2021, superando o pico registrado em 2018 e estabelecendo um novo recorde.
Para Cariello, o valor investido é uma consequência da soma do número de projetos. “Nos anos anteriores, tivemos menos projetos, mas um ou outro eram muito grandes. Percebemos uma falta de grandes projetos em 2022, investimentos muito altos que não foram colocados em prática, mas podem ser colocados em prática ao longo dos próximos meses”, pontua.
O diretor do CEBC também ressalta que existe a questão da burocracia envolvida nos processos de aprovação e execução desses projetos.
Mais fatores de peso
Daniel Lau, sócio da KPMG e líder do China Desk, explica que outros dois fatores pesam contra a realização de investimentos chineses no país.
O primeiro se deve a um processo cultural, já que até o final de 2022 a China ainda impunha muitas restrições para viagens devido à Covid-19.
“O executivo chinês gosta de ir até o local e conhecer o espaço físico antes de realizar alguma transação comercial”, explica o especialista. Por isso, sem poder realizar esses deslocamentos, os empresários diminuíram o número de negócios realizados no último ano.
“A quantidade de investimentos chineses diminuiu no mundo todo, não apenas no Brasil, principalmente pela dificuldade de viajar para o exterior”, avalia.
Além disso, a maior competitividade em países vizinhos do Brasil para fomentar e construir oportunidades de investimentos também contribuiu para diminuir o volume de investimentos.
“Argentina, Chile, Peru, México e Colômbia têm atraído bastante investimento chinês, uma década atrás, eles não eram tão bem estruturados em termos de captação para atrair capital chinês”, explica.
Ao mesmo tempo, Lau explica que as empresas chinesas possuem hoje uma visão de negócios muito mais refinada para as oportunidades globais. Com um olhar mais ampliado e técnico, a disputa pelo capital chinês no continente acirrou.
Perspectivas para 2023
Apesar da queda no volume investido em 2022, os especialistas concordam que a China não perdeu interesse no Brasil como um mercado de alto potencial para realizar grandes aportes, e avaliam que o volume de investimentos deve ser maior este ano.
“Apostaria em um crescimento [no volume de investimento] em 2023, por conta da base de comparação baixa”, explica Tulio Cariello.
Os setores de energia e infraestrutura são os que mais atraem capital, na avaliação do diretor do CEBC. “Se tivermos leilões, é quase certo que essas empresas [chinesas] vão participar, porque o interesse delas no nosso mercado é claro”, pontua.
Lau avalia que, olhando o ano passado de maneira isolada, a análise fica fora do contexto.
O especialista explica que a China possui um novo eixo de crescimento robusto das exportações de produtos manufaturados, o que implica em um aumento de investimentos fora do país.
Os segmentos de veículos movidos a energia renovável, a promoção de painéis solares e energia eólica e a construção de baterias de lítio são os segmentos de maior interesse chinês no mundo.
“A China está cada vez mais competitiva, e a gente vê apenas uma parte desses investimentos aqui no Brasil, temos muitos projetos até o fim do ano entrando nesses principais segmentos”.
CNN