Após vazamento de foto, opositores pedem impeachment do presidente argentino por violar quarentena
Um grupo de deputados da oposição apresentará nesta sexta-feira um pedido de impeachment contra o presidente argentino Alberto Fernández por “mau desempenho na gestão da pandemia” de Covid-19 e por violar a quarentena estrita do país ao celebrar uma festa em sua residência.
O pedido é essencialmente simbólico, e vem em um momento de tensões políticas crescentes antes das eleições parlamentares marcadas para 14 de novembro — até patrocinadores da medida admitiram que não têm votos para aprová-la.
Entre outras coisas, eles acusam o líder peronista de ter violado as regras de quarentena do país ao realizar uma pequena festa em sua residência em julho do ano passado, quando um decreto proibia tais encontros.
O escândalo estourou quando vazaram fotos de Fernández na comemoração de aniversário da primeira-dama, Fabiola Yáñez, que contou com dez convidados, todos sem máscara ou respeitando o distanciamento social.
Fernandez comentou brevemente sobre o vazamento da foto durante uma entrevista coletiva nesta sexta-feira, convocada para tratar da redução das tarifas de gás.
— Fabíola organizou uma reunião que não deveria ser feita — disse o presidente argentino.
O projeto a ser apresentado no Congresso Nacional foi elaborado por deputados do partido de centro-direita Juntos pela Mudança, por “fraco desempenho no manejo da pandemia” e “violação das medidas adotadas pelos órgãos competentes para prevenir a propagação de uma epidemia”, diz o texto a que a Reuters teve acesso.
A Argentina, de 45 milhões de habitantes, teve uma das quarentenas mais longas do mundo, o que não impediu que o país ultrapassasse 108,5 mil mortes pela pandemia do coronavírus, que afetou gravemente uma economia em recessão há três anos, com altas taxas de inflação e números alarmantes de pobreza.
— Violar a lei é crime e ainda mais quando se dita a lei. É um crime que tem implicações éticas, morais e de governança. Como se pode pedir algo a um cidadão se quem comete o crime depois de ditar a lei diz que não se trata de algo ilegal? — questionou Waldo Wolff, um dos deputados que assina o pedido de impeachment.
É improvável que o pedido, que também questiona a capacidade do governo de obter vacinas contra a Covid-19, possa prosperar dada a atual composição de deputados governistas e opositores no Congresso.
— Apesar de não termos votos, entendo que é o momento de pautar o assunto e dizer, em nome do grande número de cidadãos que concordam conosco, que apoiamos esses valores — disse Wolff.
O chefe do Estado-Maior, Santiago Cafiero, disse nesta sexta-feira que a residência de Olivos foi convertida, durante a quarentena, em centro de operações, mas reconheceu como “um erro” a reunião social que ficou conhecida pelas fotografias.
— Em uma ocasião, houve um evento social que não deveria ter acontecido — disse Cafiero em entrevista à Rádio 10. — Um erro foi cometido, não deveria ter acontecido, foi errado.
A Argentina acelerou nos últimos meses sua campanha de vacinação, que até sexta-feira já havia imunizado 26,5 milhões de pessoas com uma dose e cerca de 9,6 milhões de cidadãos com o esquema completo.
O Globo