China e Trump elevam tom após bilionário falar com líder de Taiwan
Cauteloso como de hábito em sua reação oficial, o governo chinês usou a imprensa oficial para deixar clara sua indignação e fazer ameaças ao presidente eleito dos EUA, Donald Trump, que respondeu com críticas às políticas de Pequim.
O clima já não estava bom entre Trump e o governo chinês desde que o presidente eleito conversou por telefone na sexta (2) com a presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, rompendo uma tradição diplomática de 37 anos.
Descrito pela equipe de Trump como um gesto protocolar, a conversa de fato foi planejada meses antes, segundo o jornal “Washington Post”, como forma de sinalizar uma posição inicial dura com a China.
O tema é ultrassensível para o governo chinês, para o qual Taiwan é uma “província rebelde” que em algum momento deve se reunificar à pátria continental, mesmo que à força: Pequim mantém 1.200 mísseis apontados para a ilha.
POSIÇÃO DE ATAQUE
Desde 1979, quando os EUA deixaram de reconhecer Taiwan como um país, foi a primeira vez que uma autoridade americana falou oficialmente com o governo da ilha. Sob protesto da China e críticas de especialistas, Trump não recuou.
Por um canal oficial, o presidente eleito manteve a posição de ataque à China de sua campanha, questionando políticas econômicas supostamente desleais de Pequim e sua presença militar crescente em áreas disputadas do mar do Sul da China.
“A China nos perguntou se era ok desvalorizar sua moeda (tornando mais difícil para nossas empresas competirem), aplicar pesadas tarifas a nossos produtos que entram em seu país (os EUA não cobram tarifas deles) ou construir um enorme complexo militar no meio do mar do Sul da China? Acho que não!”, postou Trump numa rede social, onde tem mais de 16 milhões de seguidores.
A chefe de campanha de Trump, Kellyanne Conway, minimizou a importância da conversa com a taiwanesa, dizendo que ele apenas atendera um telefonema para parabenizá-lo e não significava uma mudança de política.
PLANEJAMENTO
Segundo o jornal “Washington Post”, porém, o telefonema foi planejado meses antes, quando Trump ainda disputava as prévias do Partido Republicano.
Baseado em conversas com membros da equipe, o jornal diz que a ideia de marcar posição firme ante a China foi influenciada por nomes linha-dura que ele nomeou para o gabinete, como o estrategista-chefe, Stephen Bannon, e o assessor de segurança nacional, Michael Flynn.
Depois de registrar um protesto oficial à diplomacia americana pelo telefonema com Taiwan, o governo chinês manteve a sobriedade habitual. Lu Kang, porta-voz do ministério do Exterior, disse que o comércio bilateral é “mutualmente benéfico” e que os dois países devem “fazer esforços baseados nos importantes princípios das relações”, referência ao entendimento sobre Taiwan.
Mas o governo soltou a imprensa oficial para demonstrar seu ultraje. Em editorial, o jornal “Global Times” acusa Trump de ver a China como “um gordo carneiro, do qual pode tirar uma fatia”. “Trump quer reviver a economia americana, mas sabe que seu país não é mais competitivo como já foi.”
Em um evento em Washington, o subsecretário de Defesa, Robert O. Work, disse que a relação com a China é de “gestão de crise”, para evitar confrontos. Segundo ele, os EUA tentam manter a vantagem militar com o principal objetivo de “assegurar que jamais haja um confronto convencional entre os EUA e outras potências”.
No lado de Trump, o endurecimento do tom com a China foi visto como algo bem-vindo e necessário. Faz parte do estilo de negociação dele, que prometeu durante a campanha taxar em 45% as importações chinesas, e depois disse que era uma ameaça caso os chineses “não se comportassem”. Stephen Moore, assessor econômico de Trump, disse que Taiwan é aliado dos EUA e que, se a China não gostar disso, “que vá se ferrar”.
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