Renato Augusto confirma ida para a China: “Não tinha como dizer não”
Sem uniforme e de maneira discreta, Renato Augusto encerrou sua passagem pelo Corinthians logo no primeiro dia de pré-temporada do clube em 2016. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, o meia confirmou a ida para o Beijing Guoan, da China, e classificou a proposta recebida como impossível de não ser aceita. Renato vai ganhar R$ 2 milhões mensais no clube chinês.
– A minha ideia inicial era ficar, tinha proposta muito boa da Alemanha, três vezes mais do que ganho aqui. Pensei em ficar, o Tite pesou um pouco naquele momento, mas depois chega uma proposta que é irrecusável. Tenho de pensar na minha família, no meu futuro. Sou um cara com histórico grande de lesões. Começa a pensar que tem uma oportunidade ímpar… – explicou Renato.
Logo depois, porém, o meia foi mais direto:
– Conversei com todos, entenderam e foram a favor. Chegou uma hora que não tinha como dizer não.
O meia vai assinar contrato válido por três anos com o clube chinês e não treina mais pelo Corinthians, que vai seguir a pré-temporada sem o melhor jogador do último Brasileiro. A negociação total é de € 8 milhões (R$ 34,6 milhões na cotação atual). O Timão tem direito a 50% do valor e receberá algo em torno de R$ 17 milhões – 40% são do Bayer Leverkusen e os outros 10% pertencem ao Flamengo, seu clube formador.
O Schalke 04 surgiu como provável destino do meio-campista, que chegou a concordar com a transferência, mas não chegou a um acordo salarial em virtude do grande assédio chinês. Ele pediu € 8 milhões por temporada, e os alemães recusaram. Com isso, ficou com caminho livre para fechar com os asiáticos por € 6,5 milhões por ano (R$ 28,1 milhões).
Renato Augusto chegou ao Corinthians no início de 2013 depois de cinco temporadas no Bayer Leverkusen. Custou cerca de R$ 10 milhões aos cofres alvinegros. Ele deixa o Corinthians com 127 jogos, 15 gols e três títulos conquistados: Paulista e Recopa Sul-Americana de 2013, e Brasileirão de 2015.
O Timão ainda pode perder o volante Ralf, com proposta do mesmo Beijing Guoan, o volante Elias, com oferta do Hebei China Fortune, além do goleiro Cássio e do zagueiro Gil, com sondagens da Europa.
VEJA A ÍNTEGRA DA ENTREVISTA DE RENATO AUGUSTO:
MOTIVAÇÃO
– A minha ideia inicial era ficar, tinha proposta muito boa da Alemanha, três vezes mais do que ganho aqui. Pensei em ficar, o Tite pesou um pouco naquele momento, mas depois chega uma proposta que é irrecusável. Tenho que pensar na minha família, no meu futuro. Sou um cara com histórico grande de lesões. Começo a pensar numa oportunidade ímpar. Conversei com todos, entenderam e foram a favor. Chegou uma hora que não tinha como dizer não.
NOVA FASE
– Quando você tem um time campeão, que vence daquela forma, fazendo partidas espetaculares, taticamente perfeito, é natural (que haja assédio aos jogadores). Hoje, o mercado que está bem financeiramente é o chinês. Ele vem ao Brasil e vai procurar o melhor time do momento. Hoje, o Corinthians. Mostra que o trabalho foi bem feito. Acredito que vai começar uma nova fase de reformulação. Minha torcida vai continuar pelo Corinthians, para que tenha um ano muito bom. Tem um treinador que gosto bastante.
RALF
– Sobre o Ralf (que tem proposta do mesmo clube da China), ouvi agora. Conversei com ele rapidamente, disse que estava em negociação também. Não sei se fechou, mas está tendo um contato do mesmo time. Ralf é um amigo pessoal. Ficaria feliz se ele fosse para o mesmo time que eu. Se for embora, vai fazer falta aqui. Cabe a ele achar o que é melhor.
CONTATO COM TITE
– Tite disse que entende. Primeiro, eu comecei falando. Tinha de agradecer a ele por ter tido um ano tão bom. Quis agradecer por ter me tornado um jogador e um homem melhor. Depois, ele começou falar que sentia pena, mas que infelizmente uma proposta como essa não tem como dizer não. Tite disse que não poderia dizer para eu não ir. Ele disse que entende o meu lado e que, se fosse o caso dele, também seria difícil não ir.
SELEÇÃO
– Foi uma decisão difícil. Vou me preparar para, se tiver oportunidade, estar bem. É um risco que eu corro. Encontrei ontem com (diretor de seleções) Gilmar Rinaldi no Rio, falei com ele sobre o que aconteceu. Ele passou isso, de estar bem fisicamente. Vou procurar manter e trabalhar. Eu não escolhi a China. A China me escolheu. Minha ideia inicial não era essa. Jogador tem dez anos para ganhar dinheiro. Chega uma proposta dessa, para pensar nos seus filhos e talvez nos netos, vai balançar. Principalmente um jogador com meu histórico. Posso começar ano e ter lesão. Aí falaria que era melhor ter ido. Torcedor age na emoção. Muitos xingam, mas muitos agradecem. Vou procurar trabalhar mais. Foi uma escolha que eu fiz e agora tenho de correr atrás.
TORCIDA
– Eu só tenho a agradecer ao torcedor. De uma forma geral, eles me apoiaram. Tenho que pedir desculpa por não dar continuidade no trabalho, mas, neste momento, não tem como dizer não. É até natural que outros jogadores da Seleção apareçam por lá (China). Talvez eu esteja sofrendo tanto quanto o torcedor. Nunca imaginei uma proposta assim. No futebol, sabemos como é. Tudo muda da noite para o dia. Hoje está tudo bem, há seis meses não estava. Futebol muda muito, você precisa aproveitar o momento que está bem. Esses três anos aqui foram um aprendizado muito grande. Mesmo com o time perdendo, a torcida apoiou. Só tenho a agradecer.
PROPOSTA DA ALEMANHA
– Não conversei com Tite antes e depois da proposta do Schalke. Foi uma decisão minha. Eu estava numa dúvida grande, e o Tite pesou. Mas chegou uma hora que não tinha como pesar. O trabalho era muito legal, mas é um dinheiro que não se pode jogar fora. Não teve como recusar.
SUBSTITUTO
– Não existe jogador insubstituível. Eu também não sou. Do mesmo jeito que achavam que não éramos favoritos quando Guerrero, Sheik e Fábio Santos saíram, foram lá e ganhamos o título. Pela força que a camisa tem, não deixa de ser favorito ao título da Libertadores.
MELHOR MOMENTO
– Sem dúvida, meu melhor momento foi nesses seis meses, onde atinge ápice tático, técnico e físico. Foi um momento especial, junto com o momento de quando voltei de lesão contra o São Paulo. O pior momento sempre é o de lesão. Aquele contra o Boca (Libertadores-2013), que tínhamos tudo para ganhar. Eu me senti mal de não estar ali.
SAUDADE
– Tudo vai deixar saudade. Desde roupeiro, presidente, estádio. Vai fazer falta. A torcida vai continuar para o Corinthians ser campeão. Vou continuar em contato e sempre dando força.
DIFICULDADES NA CHINA
– Vou levar feijão escondido na mala. Procuro sempre adiantar algumas coisas. A gente só conhece as dificuldades quando está lá. Não vai ser fácil, mas hoje vivo um momento diferente. Fui para a Alemanha solteiro, com 20 anos, queria curtir a vida. Hoje, estou casado. Pela estrutura familiar, tenho condições de me sentir bem lá.
IDIOMA
– Quero aprender rápido a parte do campo para me comunicar. Mas o futebol é uma língua universal. Quando você faz o trabalho bem, todo mundo se entende.
SENTIMENTO DA SAÍDA
– Talvez seja o sentimento de um pai quando o filho sai de casa. Para ele, fica o sentimento de perda ainda maior por ter encaixado o meio de campo, achado um esquema, e de repente tem de desmontar. Tite é um cara acima da média e vai mexer os pauzinhos dele para montar um grande time. Ele é o melhor (com quem trabalhei).
DIFERENÇA DE PROPOSTAS
– Era uma diferença bem grande. Não tem como negar uma proposta como essa que chegou. De repente, daqui a pouco, outros jogadores da Seleção apareçam por lá. A proposta que eu tive eu não receberia na Europa.
VOLTA AO BRASIL EM TRÊS ANOS
– No Flamengo, comecei a carreira, era torcedor e apareci. Depois o Bayer, onde mais aprendi. O Corinthians foi onde cheguei ao auge. Foram momentos diferentes e muito especiais.
RECEPÇÃO A PATO
– Nosso grupo é muito bom, talvez por isso alcançou tudo isso. Não importa quem vai chegar ou vai sair, sempre vai ter esse ambiente. Vai ser tratado da melhor maneira possível. Ele fez temporada muito boa. Pelos jogadores, não vai haver nenhum problema.
CONSELHO A PATO
– Dar carrinho, cara. Briga, bota bunda no chão, vai sujar o shorts. Na parte técnica, ele é acima da média. Torcedor quer ver isso, achar que “esse cara correu por mim”.
Globosesporte