Mercosul deve defender medidas mais duras contra governo da Venezuela
Começa nesta quinta-feira (20), com a reunião de chanceleres, a 50ª edição da Cúpula do Mercosul, na qual a Argentina passará a um Brasil em crise política a presidência pro tempore do bloco.
Figuram na agenda como temas mais importantes a queda de barreiras aduaneiras —impulsionada por Brasil e Argentina, mas travada pelo Uruguai— e os detalhes que faltam para a conclusão do acordo do bloco com a União Europeia, novela que se arrasta há anos.
Martín Zabala/Xinhua | ||
Hotel onde líderes do Mercosul vão se reunir em Mendoza; cúpula deve debater crise na Venezuela |
Mas o tema de fundo da reunião deve ser a Venezuela.
Apesar de as chancelarias do Brasil e da Argentina terem afirmado, durante a semana passada, que dificilmente se agravaria o grau de punição do país —atualmente suspenso no bloco— são esperados discursos mais enfáticos pedindo o diálogo do governo com a oposição.
Outro pedido deve ser por eventual pressão pelo cancelamento da Assembleia Constituinte convocada por Nicolás Maduro para o dia 30.
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A troca da ex-chanceler argentina Susana Malcorra pelo atual, Jorge Faurie, deve marcar um aumento no tom da condenação da o país com relação a Maduro.
Malcorra era mais moderada e pró-diálogo, e vinha contendo os ataques do presidente Mauricio Macri. Faurie é mais afinado com o líder.
Agora, o bloco deve ao menos discutir outras possibilidades além da suspensão atual. Uma delas é acionar a cláusula democrática do protocolo de Ushuaia, que prevê medidas mais duras.
Elas incluem até mesmo o fechamento de fronteiras, do tráfego aéreo e marítimo e a suspensão do comércio e do fornecimento de energia.
Segundo a Folha apurou, os países têm hesitado em adotar a medida porque aumentaria a crise humanitária venezuelana. Mas não está descartado que discutam sua aplicação, total ou parcial.
Outra medida que marca o endurecimento contra Caracas foi o convite ao presidente da Assembleia Nacional venezuelana, o opositor Julio Borges, para participar da cúpula de presidentes.
O adversário de Maduro confirmou presença no evento e disse nesta quarta (19) que pretende explicar a situação do país e as medidas após o plebiscito simbólico que rejeitou a Constituinte.
Ele tem sido um dos principais líderes da oposição a manter contato e fazer visitas a líderes de governos latinos para pressionar Maduro.
BACHELET E EVO
Além dos líderes dos países-membros do bloco, Macri (Argentina), Michel Temer (Brasil), Horacio Cartes (Paraguai) e Tabaré Vázquez (Uruguai), estarão presentes, como representantes de Estados associados ao Mercosul, Michelle Bachelet (Chile) e Evo Morales (Bolivia). Os mandatários se reúnem na sexta-feira (21).
Segundo o Itamaraty, Temer deverá chegar a Mendoza na noite de quinta (19).
A presidente chilena vem conversando com regularidade com Macri sobre os mecanismos para a aproximação do bloco com a Aliança do Pacífico (formada por Chile, México, Colômbia e Peru).
Já Morales vem também para participar de uma “contracúpula”, organizada por movimentos sociais que virão a Mendoza para protestar contra a prisão de Milagro Sala, opositora de Macri considerada presa política pela ONG Anistia Internacional, e detida em Jujuy (noroeste) há quase dois anos, sem uma condenação final.
Quem vem destoando mais do grupo é o Uruguai, único país do bloco original hoje governado pela esquerda. Além de manter uma posição de cautela quanto à Venezuela, o país, devido a uma crise econômica, voltou a subir taxas de produtos importados de dentro e fora do Mercosul.
A medida levou à reação da Argentina. “Num momento em que concordamos em derrubar barreiras, voltar a medidas protecionistas é um retrocesso”, disse Faurie.
Para o economista Marcelo Elizondo, o Mercosul precisa ser redesenhado para aumentar sua participação no comércio mundial. “Em 2012, o bloco respondia por 1,92% do comércio mundial, hoje isso caiu para 1,68%”, diz.
Folha