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Para não dizer que não falei das águas por Paulo Neto

Paulo-Neto-2-300x225 Para não dizer que não falei das águas por Paulo NetoDaqui a 4 meses, a chegada das águas do São Francisco à Monteiro completará um ano. Finalmente, o tão sonhado e esperado projeto da Transposição saiu do papel e hoje é uma realidade. Essa obra centenária criou muita expectativa tanto no Governo Federal, responsável pela execução, quanto no povo nordestino, principal beneficiário. O primeiro, para colher os frutos eleitorais e “acabar” com a seca, o segundo, para colher os frutos da redenção de uma boa parte da região Nordeste, assolada há séculos pelas grandes secas, que produziram milhões de retirantes.

A propaganda em torno da faraônica obra afirmava, entre outras coisas, que seria o fim da Indústria da Seca, que as pessoas teriam acesso a um dos bens mais valiosos garantidor da vida, a água. Pois bem, a água está aí há praticamente um ano e alguns bairros da cidade ainda sofrem com o desabastecimento. A água está aí há praticamente um ano e ainda não se viu nada que acenasse favoravelmente ao seu uso.

Não houve, ainda, a universalização do acesso, sobretudo na zona rural, para o agricultor e para o pecuarista, que são os maiores responsáveis pela produção de alimentos, e que mais sofrem com a escassez de tão preciosa riqueza. O São Francisco está desaguando suas águas ininterruptamente em Monteiro há mais de 8 meses e ainda não se falou sobre nenhuma ação que lançasse as bases para desenvolver a cidade. Vários projetos podem ser implantados na agricultura, pois nossas terras são muito férteis, na pecuária, na agroindústria, etc, que trarão vultosos investimentos para a cidade. Grandes empresas podem ser atraídas para cá, gerando emprego e renda para a população e dividendos tributários e fiscais para o município. Isso dinamizará a nossa economia, manterá Monteiro uma cidade polo e fará a cidade menos dependente de repasses tanto do Estado quanto da União, dando maior autonomia e independência à cidade.

Monteiro pode dar um imenso salto por causa da transposição, mas tem que fazer a lição de casa. O poder público e a iniciativa privada devem se unir para trabalharem juntos pelo crescimento da cidade e colocá-la à frente das demais, pois Monteiro foi a primeira cidade a receber as águas da Transposição na Paraíba e não pode ser a última a colher os benefícios dessa grande obra. É inadmissível acabar com a Indústria da Seca e dar início à Indústria da Água. Na Indústria da Seca tínhamos as mãos atadas por não termos água, nada podíamos fazer senão pedir chuva a Deus ou esperar a boa vontade dos políticos, com os carros-pipas.
Agora podemos fazer tudo. Só não poderemos fazer se a Indústria da Água for criada. A Indústria da Água, caso seja criada, funcionará da seguinte forma: a água, direito de todos, será liberada para poucos e negada a muitos. Aí será um fracasso total, pois não há nada mais triste do que você ter uma coisa e não poder usá-la. Se as benesses advindas da Transposição não puderem alcançar a todos de nada terá adiantado esperar e sonhar tanto. Para demonstrar o erro que cometeremos caso a Indústria da Água seja criada, encerro citando uma frase de José Américo de Almeida que traduz perfeitamente o que escrevi acima: “Existe uma miséria maior que morrer de fome no deserto; é não ter o que comer na terra de Canaã.”

O Pipoco

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