Um aviso colado na porta do seu gabinete por um Defensor Público de Lago da Pedra, a 305 km de São Luís, chamou a atenção nas redes sociais. O comunicado diz: “O nome do Defensor Público é Renan. Não é Doutor. Não é Excelência. Não é Senhor. É, simplesmente, Renan”. A postagem teve mais de 1,4 mil compartilhamentos.
A repercussão nas redes sociais chegou a assustar o jovem defensor público de 28 anos, Renan Barros dos Reis. “Em um primeiro momento eu fiquei confuso. Depois refleti que essa era uma atitude que devia ser normal no funcionalismo público. O respeito que nós devemos ter é pelo nosso serviço, não por uma nomenclatura”, disse.
Renan, como prefere ser chamado, explicou que colocou o comunicado na intenção de ficar mais próximo às pessoas atendidas por ele, tentando compreender melhor como eles gostariam de ser atendidos. Na sua visão, algumas nomenclaturas servem apenas para “oprimir pessoas mais humildes”.
“Na Defensoria Pública nós atendemos pessoas que não ter recursos, pessoas pobres, necessitadas, muito humildes. E elas tinham um travamento para falar. Resolvi colocar o aviso na intenção de ‘quebrar o gelo’. Isso quebrou um paradigma. Falar a linguagem deles”, contou Renan.
O dia-a-dia da Defensoria de Lago da Pedra mudou depois do comunicado. Muitas pessoas já entram rindo na sala depois de lerem o aviso na parede. E, segundo Renan, isso ajuda a conquistar a confiança delas. “Como eles entram mais descontraídos eu consigo tirar informações importantes que ajudam a própria pessoa”, disse.
Renan que é carioca e foi criado em Teresina está ocupando o cargo de defensor público em Lago da Pedra desde setembro de 2015. Sobre o futuro na carreira, ele disse que deseja continuar ajudando as pessoas. “É como uma pitada de sal em um barril de água. Pode não mudar o barril, mas muda o sabor da água”, finalizou.
‘Paletó intimida’
Outra atitude simples adotada pelo defensor foi o uso de camisetas da Defensoria Pública para atender ao público. Nas camisetas há os escritos “Você não está sozinho” nas costas, que define bem o espírito da entidade.
Inspiração
Renan prestou mais de 30 concursos públicos antes de ser nomeado na Defensoria Pública doMaranhão. Ele chegou a ser aprovado para a magistratura no Rio Grande do Norte, mas declinou do cargo por querer participar mais efetivamente da vida das pessoas.
Antes de entrar na Defensoria, Renan trabalhou por três anos como assistente de juiz. “As histórias já chegam prontas para os juízes. Decidi que queria ajudar a contar essas histórias”, disse Renan.
O jovem conta que a inspiração maior para ajudar as pessoas veio de casa, observando seus pais que sempre ajudavam ao próximo. “Sempre seguindo aquela máxima de fazer para o outro o que você gostaria que fizessem por você”, explicou.
(Foto: Arquivo Pessoal/ Renan Reis)
Essência da Profissão
Para o defensor, muito mais do que compreendidas as pessoas precisam ser amadas. “As pessoas que procuram a Defensoria Pública já vem sofrendo por uma série de fatores como saúde de má qualidade, educação de má qualidade. A Defensoria Pública deve quebrar essas barreiras, atendendo bem essas pessoas”, disse.
Quem tirou a foto do comunicado e colocou nas redes sociais foi a defensora geral do Estado, Mariana Albano de Almeida. Ela disse que achava o aviso muito interessante, pois esse era o espírito da Defensoria.
Caso
Renan conta que seu jeito descontraído já deu um final diferente a algumas histórias. Certa vez, uma senhora o procurou para se separar do marido. Foi marcada, então, uma audiência de conciliação do casal. Depois de muita conversa eles chegaram à conclusão de que o que faltava na relação era diálogo. “Ali mesmo eles se deram as mãos e resolveram não se separar mais”, contou Renan. Questionado pelo G1 se a função do defensor também é ser uma espécie de terapeuta de casais, Renan riu e disse: “A função é compreender essas pessoas”.
Contraponto
Em outubro de 2015 um caso oposto também teve repercussão no Maranhão. O médico João Bentivi xingou um farmacêutico que não entendeu a letra dele em uma receita. A nova receita seguiu com a prescrição e com um bilhete para o farmacêutico, que foi chamado de imbecil e analfabeto.
“Na realidade eu tô até um pouco arrependido, porque na hora que eu fiz aquele bilhete, eu me igualei a ele. Eu de fato não deveria ter feito aquele bilhete. Mas já tá feito. E eu reitero os adjetivos postos pra ele”, disse o médico.