Cientistas do Rio revelam os alvos do vírus zika no cérebro
Pela primeira vez, o zika é flagrado ao destruir o cérebro humano. Um estudo de cientistas de instituições do Rio de Janeiro mostrou em laboratório a devastação provocada pelo vírus no sistema nervoso central de fetos. A pesquisa revela que o zika ataca células-tronco neuronais, mais especificamente aquelas que dão origem aos neurônios do córtex, a área mais nobre do cérebro. Esse é o primeiro estudo do mundo a demonstrar uma relação de causa e efeito entre o zika e danos neurológicos.
Além de Rehen, da neurocientista Patrícia Garcez e do virologista Amílcar Tanuri, participaram do estudo cientistas do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Antes, havia só uma correlação entre a infecção pelo zika e a microcefalia e defeitos do sistema nervoso. Até agora, ninguém tinha observado o zika em ação dentro de células humanas.
Mais estudos serão necessários para a comprovação e o entendimento de como o zika causa uma síndrome congênita capaz de afetar várias partes do feto em desenvolvimento. O estudo foi realizado com células humanas, diferentemente de experiências em curso em instituições estrangeiras, que usam modelos animais.
“UMA CASCATA DE DESTRUIÇÃO”
Os cientistas simularam a ação do zika em diferentes períodos da gestação. Com estruturas chamadas neuroesferas (feitas de células nervosas), eles viram o que acontece quando o vírus ataca o sistema nervoso assim que este se forma. Nesse caso, a destruição é praticamente total. Com o uso de minicérebros (estruturas celulares que se organizam como o cérebro), eles observaram o que ocorre do primeiro ao terceiro mês de gestação — uma redução de 40% no crescimento e morte maciça de neurônios.
— Isso não significa que o zika não ataque outras células. Mas seu alvo parece ser as células-tronco do córtex. Com isso, ele provoca uma cascata de destruição no feto, onde essas células-tronco se proliferam — explica Rehen.
Seguindo a orientação da OMS sobre partilha de dados em caso de emergência, os resultados estarão disponíveis on-line hoje numa revista científica internacional.
oglobo