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Alta de casos aponta Irã como primeiro país perto da segunda onda da Covid

15920058345ee414ca7ad74_1592005834_3x2_lg Alta de casos aponta Irã como primeiro país perto da segunda onda da CovidApós ter sido um dos principais focos do novo coronavírus no início da pandemia, o Irã volta ao centro das atenções devido à forte alta no número de contaminações confirmadas. O surto parecia estabilizado.

Assim, a república islâmica pode estar vivenciando o primeiro caso mundial da segunda onda da Covid-19.

O regime iraniano afirma que a alta era esperada, tanto por conta da maior quantidade de testes aplicados quanto devido à reabertura das atividades econômicas.

Desde o início da epidemia no país, na metade de fevereiro, ​o Irã registrou 182.525 casos de coronavírus, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, além de 8.659 mortes.

Nos primeiros meses do ano, os números de infecções eram inferiores apenas aos da China e da Itália.

A curva de casos confirmados deixa clara a existência de dois picos: um na última semana de março e outro na primeira semana de junho.

No primeiro pico, a república islâmica registrou dias seguidos com mais de 3.000 contaminações por dia. O auge desse momento foi em 30 de março, com 3.186 casos.

A partir de então, houve uma queda gradual no total de infecções, chegando a dias com menos de mil casos entre o fim de abril e o início de maio, quando teve início uma nova alta gradual, e o país voltou a acumular mais de 3.000 casos diários.

O novo pico foi no último dia 4, com um total 3.574 infecções em 24 horas —o maior índice atingido desde o início da pandemia. Os números atualmente se mantêm entre 2.000 e 3.000 por dia.

Em entrevista à agência de notícias ISNA, o epidemiologista-chefe do Ministério da Saúde, Mohammad-Mehdi Gouya, reconheceu que o fim das medidas restritivas impactaram o número de casos.

Mas o principal motivo para a nova alta, segundo o especialista, seria a realização de mais testes. De acordo com o site Worldometers, o Irã faz 14.261 exames a cada 1 milhão de habitantes, cifra bem superior à do Brasil, por exemplo, que registra 6.421 testes no mesmo índice.

Gouya afirma que, assim, a doença foi detectada em assintomáticos ou pessoas com sintomas leves. No entanto, a alta no número de mortes —embora distante do nível anterior— põe em dúvida essa versão.

Em relação à decisão de retomar as atividades econômicas, o regime iraniano aponta o dedo para as sanções econômicas impostas em maio de 2018 pelos Estados Unidos. Sem poder vender petróleo, sua principal fonte de riqueza, houve pressão para reabrir a economia interna.

“Por causa das sanções, a retomada do comércio e de outras atividades econômicas se tornaram permitidas antes do que seria o ideal”, afirma o cientista político e professor da Universidade de Teerã Mohammad Marandí, voz próxima do regime.

Opositores, porém, afirmam que a alta no número de casos se deve à má condução do governo no enfrentamento ao coronavírus. Citam, por exemplo, a falta de transparência em números e ações.

Como consequência, a população deixa de seguir as diretrizes determinadas pelas autoridades, quando não são empregadas com o uso da força —como no caso do “lockdown”.

“Devido à falta de controle da primeira onda e ao não cumprimento das políticas de distanciamento social e de outras medidas necessárias para conter o vírus, o [novo] surto da doença era bem esperado”, disse o iraniano Ammar Maleki, professor da Universidade Tilburg, na Holanda.

Maleki afirma desconfiar de manipulação dos dados por parte do regime. Também acrescenta que a falta de confiança da população no governo foi estimulada por episódios recentes, como a ocultação do número real de mortos nos protestos de novembro do ano passado, a demora para admitir que abateu por engano um avião comerical em janeiro e a polêmica realização da eleição legislativa, um mês depois.

Neste cenário instável, a população iraniana se divide sobre uma nova onda do coronavírus no país.

“Alguns são obsessivamente cuidadosos e afirmam acreditar nos problemas graves que o vírus pode causar. Um outro grupo acha que a pandemia diminuiu, e por isso estão de volta a suas vidas normais”, afirma a produtora de teatro Nazanin Shariati, moradora de Teerã.

No dia a dia, a vida parece ter voltado ao normal. Nas redes sociais, a população publica fotos dos congestionamentos em Teerã, de restaurantes lotados e dos tradicionais piqueniques em parques.

Inicialmente, o governo foi acusado de demorar para tomar medidas para conter a pandemia. Restaurantes e shoppings permaneceram abertos por algumas semanas.

Quando a situação piorou, foi decretado o “lockdown” —medida mais extrema, na qual forças de segurança fiscalizam a circulação de pessoas.

A decisão veio após o descumprimento das regras de distanciamento social. Durante o feriado de Nowruz (Ano-Novo persa), em março, as estradas ficaram lotadas com famílias em viagem.

Com a queda no número de casos, os tradicionais bazares e shoppings foram reabertos na metade de abril. Um mês depois, foram os parques, restaurantes e cafés, além das numerosas mesquitas.

Crianças e adolescentes estão neste momento realizando as provas de fim de ano letivo, com um rígido protocolo de segurança. Nos próximos dias, será retomada a liga de futebol do país, embora inicialmente sem a presença de público. “Se for necessário, o governo vai fechar tudo novamente”, diz Marandí.

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