Noite de caos, confrontos e fogo em Barcelona
Ataques policiais, barulho de helicópteros, cerca de 20 fogueiras, cheiro de queimado. A mobilização desta terça-feira em Barcelona, que se prolongou do final da tarde até a madrugada de quarta-feira, superou todas as previsões. De madrugada, os distúrbios continuavam no Passeio de Gràcia, uma das principais avenidas da cidade. Centenas de pessoas tentavam evitar as investidas dos Mossos d’Esquadra (a polícia catalã), enquanto os bombeiros apagavam as chamas. A tensão e as concentrações formadas pela organização independentista Assembleia Nacional Catalã (ANC) estenderam-se por várias cidades da Catalunha (Girona, Tarragona, Lleida e Sabadell) durante a segunda jornada de protestos contra a sentença do Supremo Tribunal espanhol que condenou nove líderes independentistas por sedição.
A atuação dos Mossos contra os distúrbios na Catalunha terminou com 51 detidos, sendo 29 em Barcelona. As barricadas e os contêineres de lixo em chamas se espalharam pela capital catalã até bem tarde da madrugada. Os confrontos deixaram 84 agentes feridos (57 Mossos e 27 policiais nacionais) em Barcelona, Tarragona e Lleida, segundo a delegação do Governo espanhol na Catalunha. Os sistemas de emergências médicas atenderam 125 pessoas entre manifestantes (65) e forças policiais (60), embora nenhuma com gravidade.
A ANC queria realizar “sentadas” de duas horas em frente às sedes das delegações e subdelegacões do Governo espanhol na Catalunha. Alguns manifestantes, porém, transformaram o protesto em uma batalha campal, ateando fogo a barricadas e contêineres de lixo e lançando todo tipo de objetos, incluindo pedras e sinalizadores contra os Mossos e a Polícia Nacional, que revidaram juntos e com dureza. Os incidentes foram especialmente violentos em Barcelona, onde teve lugar a concentração mais numerosa, com 40.000 pessoas segundo a Guarda Urbana.
Os Mossos blindaram a Delegação do Governo, e a decisão dividiu o protesto em dois: de um lado, o ato festivo em que o cantor e político independentista Lluís Llach cantou no palco e, de outro, centenas de pessoas enfrentaram a polícia na esquina do Passeio de Gràcia com a rua Mallorca. Os manifestantes lançaram objetos contra o cordão policial, até uma motocicleta elétrica de aluguel foi atirada numa fogueira, e quebraram a vitrine de uma agência imobiliária, informa a agência Efe. A polícia regional advertiu, sem sucesso, os manifestantes por megafones e acabou intervindo violentamente enquanto muitos jovens armavam barricadas. Em meio à batalha campal, os manifestantes pediam aos gritos a demissão de Miquel Buch, conselheiro (secretário) de Interior do Governo catalão.
Houve cenas de tensão também em Tarragona, Girona e Lleida. Em Girona, 9.000 pessoas, segundo a polícia municipal, se concentraram diante da subdelegação do Governo espanhol, e também houve incidentes e ataques policiais. Em Tarragona, 500 manifestantes protagonizaram os distúrbios, e em Lleida a cifra foi bem superior, 6.000 pessoas concentradas perante a subdelegação de Governo no momento de máxima afluência. Os Mossos usaram cassetetes depois que grupos reduzidos atiraram velas, vidros, latas e galhos contra o cordão policial, além de queimar uma bandeira espanhola. Também foi provocado um incêndio em frente a uma loja da rede Zara em Lleida, que não chegou a penetrar no estabelecimento, segundo os bombeiros da cidade.
O Sistema de Emergências Médicas (SEM) notificou que nos protestos desta terça e quarta-feira foram atendidas 125 pessoas, sendo 65 agentes e 60 manifestantes. Por território, foram 74 atendidos na cidade de Barcelona, 14 em Gurb (província de Barcelona), 11 em Tarragona, 7 em Girona, 15 em Lleida, 2 em Sabadell e 2 em Mollet (as duas últimas, localidades próximas da capital catalã). Nenhum dos feridos apresenta lesões graves.
Depois dos incidentes, o Governo de Pedro Sánchez emitiu um comunicado em que denuncia que a “violência está sendo generalizada em todos os protestos” contra a sentença judicial, e afirma que essa agressividade não é fruto “de um movimento social pacífico, e sim coordenada por grupos que utilizam a violência na rua para romper a convivência na Catalunha”. O Executivo atribui os incidentes a “uma minoria que está querendo impor a violência nas ruas”.
O Governo salientou em seu comunicado o compromisso de garantir a segurança na região. No texto, o Executivo interino —o país terá novas eleições em 10 de novembro— não fala de ações específicas, mas salienta o trabalho das forças de segurança e elogia a coordenação entre os Mossos, a Polícia Nacional e a Guarda Civil espanhola, além de insistir em que agirá com “firmeza, proporcionalidade” e “unidade” com as demais formações políticas.
Já o líder do Partido Popular, Pablo Casado, pediu na noite de terça ao Governo que ative a Lei de Segurança Nacional contra “os violentos distúrbios que elevam a tensão na Catalunha”, a fim de “garantir a segurança e a ordem pública”.
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