Sem Cielo na Rio-2016, natação tem sucessão com anticlímax
O silêncio tomou conta do Parque Aquático Olímpico assim que os nadadores bateram na parede na final dos 50 m livre. O placar mostrava Cesar Cielo fora da Olimpíada do Rio.
Não era improvável, mas poucos acreditavam que isso pudesse acontecer. Depois de um ano trágico em 2015, sem conseguir nadar bem, o único campeão olímpico da natação brasileira havia feito o melhor tempo das eliminatórias da prova.
Mas os 21s99 nadados pela manhã guardavam uma informação importante. Cielo havia nadado pela última vez abaixo dos 22s um ano atrás.
E o número não é apenas simbólico. Na temporada passada, 19 atletas nadaram abaixo dos 21s. Quem sonha chegar a uma final olímpica tem de fazer essa marca.
Cielo precisava dela, Ítalo Manzine também. O nadador de 24 anos, que vinha de uma boa temporada, conseguiu aproveitar melhor a última chance que os dois tiveram.
O silêncio depois da chegada e a ovação que Cielo recebeu dos convidados que estavam nas arquibancadas, de técnicos e atletas que gritaram seu nome, são uma pequena amostra do tamanho da importância dele para a natação brasileira.
Cielo foi o primeiro a quebrar uma barreira que parecia intransponível. Sua medalha de ouro fez os outros nadadores acreditarem e impulsionou as novas (e as velhas) gerações. Chamou mais holofotes e investimento para a natação. Era o garoto-propaganda que o esporte precisava. Era, até esta quarta, uma das atrações mais esperadas na Rio-2016.
Seu reinado resistiu ao fim da era dos trajes, que ajudavam na flutuação, e ele conseguiu voltar a atingir bons resultados mesmo após o bronze em Londres-2012, frustrante para quem esperava o bicampeonato.
Os caminhos escolhidos na última temporada, no entanto, não o levaram ao estágio que ele havia atingido em anos anteriores. O corpo de 29 anos também não respondia como antes.
Enquanto seu rendimento caía, outros atletas, que se inspiraram nele, passaram a crescer. Neste ano, de volta aos EUA, ele começou a dar sinais de que poderia se recuperar. Mas não conseguiu acompanhar os demais. Bruno Fratus e Ítalo têm hoje o quinto e o sexto tempos do mundo. O primeiro ganhou bronze no último Mundial e foi quarto colocado em Londres, atrás de Cielo.
É uma sucessão natural, que acontece em todas as grandes equipes. Mas para a natação brasileira, imaginar os Jogos no Rio sem Cielo, por enquanto, tem gosto de anticlímax.
Folha