Italianos vão às urnas neste domingo para decidir mudanças na Constituição
Cerca de 46 milhões de italianos vão às urnas neste domingo (30) para votar uma controversa reforma constitucional proposta pelo premiê Matteo Renzi, cujo resultado pode forçar sua renúncia e afetar a estabilidade da União Europeia.
Os colégios eleitorais italianos abriram às 7h (4h pelo horário de Brasília) e a votação segue até 23h (20h, horário de Brasília).
Mais de quatro milhões de italianos que vivem no exterior, incluindo 650 mil na Argentina, tiveram até quinta-feira (1º) para votar –e suas escolhas podem ser decisivas se o resultado estiver muito apertado.
As primeiras estimativas de boca de urna serão anunciadas logo após o término da votação, e os resultados oficiais devem sair ao longo da noite.
A expectativa é que a população rejeite a proposta, que infla o poder central e esvazia os regionais. As últimas sondagens publicadas –15 dias antes da votação– apontaram uma vantagem do “não” de 5 a 8 pontos, mas muitos eleitores ainda estavam indecisos sobre seu voto.
Com 47 alterações sugeridas, é a maior proposta de mudança do texto desde o fim da Segunda Guerra (1939-1945).
Uma das mudanças mais sensíveis é a redução do Senado, em tamanho e funções. O número de senadores diminuiria de 315 para 110, e a Casa não poderia mais, por exemplo, dissolver um governo ou aprovar leis –exceto em casos como modificações na Constituição, nas leis eleitorais e nos órgãos oficiais.
Segundo Renzi, o objetivo é facilitar a governança e acelerar o processo legislativo.
O premiê, que não perdeu a oportunidade de defender a reforma em todos os meios de comunicação possíveis, considera que o referendo é um “passo histórico” para modernizar a Itália.
A maioria dos políticos italianos, da extrema esquerda a extrema direita, é contrária à reforma que, segundo eles, dá muito poder ao chefe de governo.
“Se o ‘sim’ ganhar, haverá uma ditadura e será melhor deixar o país”, disse o ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, 80, que voltou inesperadamente para a arena da política, apesar de sua idade e seu delicado estado de saúde.
Especialistas na Constituição consideram a reforma “um retrocesso democrático”, de caráter “autoritário”.
INSTABILIDADE
A votação acabou se convertendo em um plebiscito sobre o próprio primeiro ministro, do Partido Democrático (PD), no poder desde 2014.
A derrota pode ser interpretada como uma rejeição ao governo, cuja popularidade tem diminuído.
As incertezas sobre o resultado geram nervosismo em toda a Europa e especialmente nos mercados, que temem um novo período de instabilidade na terceira economia da zona euro.
Renzi chegou a ameaçar renunciar se o “não” vencer, mas amenizou recentemente suas declarações. A saída do premiê abriria espaço para partidos populistas e avessos à União Europeia, como o Cinco Estrelas (M5S).
Líder do M5S e rival direto de Renzi, o comediante Beppe Grillo tornou-se uma espécie de porta-voz daqueles que se opõem à reforma. Grillo disse que pedirá antecipação das eleições caso o “não” ganhe.
“Ganhar ou perder dá no mesmo, o país está dividido ao meio”, disse.
REJEIÇÃO
Muitos eleitores rejeitam a forma como Renzi quer mexer na Constituição. O texto foi escrito em 1948 após a Segunda Guerra Mundial e os vinte anos de governo fascista, e visava impedir a ascensão de outro ditador como Benito Mussolini.
“Votei um ‘não’ claro”, disse à agência AFP Fernando Angelaccio, 77, depois de votar em Roma. “Não se mexe na Constituição. Renzi só quer mais poderes, a sua prioridade é salvar os bancos, não aos aposentados”, acrescentou.
Antonio, 84, votou entusiasmado pelo ‘sim’.”Faz 40 anos que esperamos uma reforma e ninguém fez nada. Precisamos de um governo que tenha votos suficientes, que possa durar cinco anos, só então vamos mudar.”
Folha