A Força Nacional desembarcou nesta sexta-feira em Natal para tentar conter a onda de violência que chegou à cidade quase uma semana depois de explodir a rebelião na penitenciária de Alcaçuz. O ministro da Defesa, Raul Jungmann, esteve na capital e anunciou a chegada de 650 homens do Exército que já estão patrulhando as ruas. Até o domingo o número de soldados totalizará 1.846. Eles patrulharão apenas a cidade, já que o trabalho na penitenciária fica a cargo das polícias especiais.
O Exército foi acionado depois de um pedido de socorro do governador do Rio Grande do Norte, Robinson Faria (PSD), ao presidente Michel Temer, com quem se reuniu em Brasília na quarta-feira. No dia seguinte à reunião, Temer autorizou o uso de oficiais do Exército, da Marinha e da Aeronáutica para patrulhar a região metropolitana de Natal. O emprego das Forças Armadas se dá via um decreto de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Ele é usado quando as forças de segurança do Estado não conseguem garantir a ordem, seja por insuficiência, incapacidade ou indisponibilidade de contingente, e tem um prazo de duração. Neste caso, será de dez dias, podendo ser prorrogado. Esta é a segunda vez em seis meses que o Governo do Rio Grande do Norte recorre a esse tipo de operação. Em agosto do ano passado, as tropas permaneceram em Natal por mais de 30 dias depois que ônibus e carros começaram a ser queimados nas ruas. Na época, os criminosos reagiam à instalação de bloqueadores celulares na Penitenciária Estadual de Parnamirim.
Agora, o clima de tensão na cidade retornou. O centro de Natal nesta sexta-feira tinha movimento abaixo da média, segundo a comerciante Geizi Thomás, 35. “A cidade está vazia”, disse. “Acho que é pelos dois motivos: o medo da violência e a falta de ônibus”. O transporte público ficou dependente das vans e lotações já que os ônibus não circularam depois que ao menos 28 carros foram incendiados deste quarta-feira. A dona de casa Maria Marilúcia da Silva, 40, esperava uma van há pelo menos meia hora no ponto de ônibus. “O pessoal está amedrontado”, disse. “Espero que melhore com a Força Nacional aqui”.
Já na praia da Ponta Negra, a areia estava forrada de turistas, que não se intimidaram com o clima de violência da cidade. O empresário Gilberto Bruno, 40, disse que as notícias dos últimos dias não mudaram os planos da família, que é de Goiânia e está há uma semana em Natal. Mas eles estão se precavendo. “Não estamos saindo à noite”, disse.
Limpeza nos presídios
O patrulhamento do Exército não inclui operações nos presídios. Os soldados serão espalhados por vias, hospitais e aeroporto, para que as polícias Militar e Civil sejam deslocadas para Alcaçuz para conter a guerra entre as facções. “Nós não entraremos em nenhum presídio onde exista a possibilidade de revoltas, de instabilidade ou de crise”, afirmou o ministro Raul Jungmann nesta sexta. “As Forças Armadas só farão as vistorias designadas pelo presidente [Temer] quando os órgãos de inteligência nos derem a garantia de que não existem riscos de acirrar os ânimos e de isso resultar em confrontos”.
Jungmann explicou que as vistorias que ocorrerão das Forças Armadas nos presídios serão para fazer uma limpeza. “A tragédia que ocorreu aqui, em Roraima e em Manaus é potencializada e multiplicada pelo fato que dentro das unidades prisionais hoje existem armas de fogo, munição, explosivo, barra de ferro e facão”, disse o ministro. “A nossa contribuição é fazer a limpeza”.
Já o governador afirmou, na sequência, que o que ocorreu em Alcaçuz é fruto de uma crise nacional. “O Rio Grande do Norte está vivendo isso hoje, e não foi uma briga local ou motivada pela superlotação de Alcaçuz”, disse. “Foi uma briga nacional e que vai acontecer fatalmente em outro Estado do Brasil”. Uma das medidas de emergência para conter o confronto em Alcaçuz anunciada por ele no início da semana será colocada em prática neste sábado. O muro para separar os presos das duas facções começará a ser construído. A previsão do governador é que fique pronto em uma semana.