Uma contradição sem tamanho. Que tem gerado revolta na zona rural de Monteiro. É que muitos agricultores que tiveram parte de terras desapropriadas para que fosse construído o canal da transposição de águas do Rio São Francisco estão sem receber nenhuma gota d’água. É isso.
Estão penando a 100 metros do canal. Eles fazem parte do grupo que não precisou deixar as casas na zona rural por causa da obra.
Quarenta açudes da região estão secos e assim que a obra foi “entregue”, em Monteiro, as empresas construtoras, que forneciam água por meio de carros-pipa, “entenderam que obra estava entregue” e cancelaram o abastecimento dos moradores da zona rural.
Muitos acreditaram que bombas seriam instaladas para substituir o abastecimento por “pipa”, mas não aconteceu nada. Não recebem água, não têm poços e não conseguem retirar um pouco do canal para consumo humano e animal.
Vem Michel Temer e faz a festa. Vem Lula faz do mesmo jeito. E por que não pegou esse dinheiro – o que gastou para eles virem para cá, falar meia dúzia de palavras e ir simbora – e usou para encanar essa água para nóis?“, desabafou Robson da Silva Rodrigues, morador do sítio Pau D’arco. Ele vive com a mulher e três filhos e está comprando água “amarelada” para beber.
Os moradores também reclamam da “qualidade” da obra do canal que passa em Monteiro. Em pelo menos dois trechos, antes de chegar na zona urbana, paredes desabaram por causa de uma chuva. A terra entupiu a passagem da água e a terra teve que ser retirada.
Técnicos do Ministério da Integração disseram aos agricultores que estão providenciando a solução, em Brasília, mas não deram prazos, nem apresentaram nenhum perspectiva de solução.
Em alguns sítios, foram abertas valas para tubulação, mas os agricultores não sabem se é para levar água para alguma caixa coletiva.
Na região, pairam muitas dúvidas. Quando poderão receber um pouco da água se a prioridade é levar água para Campina Grande? Quem vai realizar a tubulação e como será a execução e pagamento disso? Vão ter direito? Como? Por que não mantiveram o bastecimento por pipa?
“Fizeram a maior festa, maior moído, e a gente está aqui sem água, penando a 100 metros do canal”, desabafou outro agricultor.
Vilas produtivas
Os que foram para as casas nas vilas produtivas (tiveram as casas derrubadas em locais onde a obra passou) também não têm expectativa de receber o lote com toda estrutura para cultivar na terra. Ou seja, não produzem nada. Por enquanto, recebem um auxílio do governo Federal.
Percurso da água
A água que passou por Monteiro, desceu pelo leito do rio Paraíba, chegou ao açude Poções e segue o seu curso depois que foi feita uma abertura em uma das paredes do reservatório.
Foi a forma encontrada para adiantar o processo, já que, se esperasse o açude encher até sangrar”naturalmente”, a água iria demorar mais ainda para chegar ao principal destino: Campina.
O mesmo está sendo feito no açude Camalaú, na cidade do mesmo nome, onde a água chegou, mas ainda não saiu. Nesse caso, o açude ainda não atingiu um volume suficiente para sangrar pelo “rasgo” (veja vídeo abaixo) feito nas rochas. A abertura interliga o reservatório ao rio PB.
Jornal da Paraiba com laertecerqueira