Trump dá sinais contraditórios sobre lei de sanções contra Rússia
Auxiliares de Donald Trump deram neste domingo (23) sinais contraditórios sobre o apoio do presidente ao projeto de lei em tramitação no Congresso que prevê sanções duras contra a Rússia pelas acusações interferência na eleição americana.
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, disse ao canal ABC que a administração “apoia [uma postura] dura contra a Rússia, particularmente com a implementação destas sanções”.
Por outro lado, o novo diretor de comunicações da administração, Anthony Scaramucci, afirmou à rede CNN que Trump “ainda não se decidiu sobre sancionar a lei”.
Em e-mail ao jornal “Washington Post”, um alto funcionário da Casa Branca negou que as declarações se contradigam e disse que o governo apoia as sanções, mas aguardará pela versão final da lei antes de adotar uma posição conclusiva sobre ela.
Líderes republicanos e democratas no Congresso chegaram no sábado (22) a um consenso sobre um projeto de lei que pune Moscou e limita as capacidades do Executivo de interferir nas sanções.
A proposta culpa o governo russo por ciberataques contra e-mails do Partido Democrata na corrida eleitoral, acusação que o Kremlin nega, e pelas intervenções militares na Ucrânia e na Síria.
Havia a expectativa de que a medida irritasse Trump, que defende o destensionamento das relações com o Kremlin. O presidente tem poder para vetar projetos de lei, mas o Congresso é capaz derrubar vetos com uma maioria de dois terços.
A proposta, que deverá ser apreciada pela Câmara na terça-feira (22), possui diferenças em relação a um pacote de sanções aprovado em junho pelo Senado com apoio bipartidário.
A nova medida também inclui punições contra o Irã e a Coreia do Norte, países duramente criticados por Trump.
A porta-voz Sanders, que assumiu o cargo na sexta (21) após a renúncia de Sean Spicer, afirmou que “a versão original da lei era mal escrita.”
“Mas nós conseguimos trabalhar com a Câmara e o Senado (…) e apoiamos a lei tal como está agora”, disse.
EVIDÊNCIAS
Scaramucci, cuja indicação para integrar a administração provocou a renúncia de Spicer, indicou que a Casa Branca não está convencida de que a Rússia interferiu na eleição em favor da candidatura de Trump.
“Se os russos de fato hackearam esta situação e vazaram aqueles e-mails, não seria possível verificar isso, não haveria evidências de que eles o fizeram.”
A posição da Casa Branca contraria os serviços de inteligência dos EUA, que responsabilizam o presidente russo, Vladimir Putin, pelos ciberataques que atingiram alvos da equipe democrata durante a campanha.
Em resposta aos ciberataques, o então presidente Barack Obama impôs sanções em dezembro contra os serviços de inteligência russos e expulsou 35 supostos espiões que atuavam no país em favor do Kremlin.
FBI (polícia federal americana) e Congresso atualmente investigam assessores de Trump por contatos com russos na campanha. Há suspeita de conluio entre as partes.
ENTENDA O CASO
Desde que chegou ao poder, em janeiro, Trump tem concentrado grande parte de suas energias para repelir as acusações de que sua equipe teria agido em coordenação com o Kremlin durante a corrida eleitoral.
Em seis meses de governo, as investigações conduzidas pelo FBI e pelo Congresso, impulsionadas por revelações da imprensa, já atingiram membros do primeiro escalão da administração e familiares do presidente.
Em fevereiro, Michael Flynn foi forçado a renunciar ao cargo de secretário de Segurança Nacional após a descoberta de que ele havia mentido sobre conversas com o embaixador russo a respeito das sanções contra Moscou.
O secretário de Justiça, Jeff Sessions, também omitiu contatos com o diplomata e decidiu se afastar das investigações sobre o caso conduzidas pela pasta que chefia. A decisão de foi criticada por Trump na semana passada.
Jared Kushner, genro e assessor do presidente, se comunicou com o representante russo durante a campanha e discutiu a criação de um canal secreto com Moscou. Ele deverá depor ao Congresso sobre o caso na segunda e na terça, segundo seu advogado.
No começo de julho, Donald Trump Jr., filho mais velho do presidente, admitiu ter se reunido durante a corrida eleitoral com uma advogada identificada como representante do Kremlin em busca de informações comprometedoras sobre a democrata Hillary Clinton.
Em maio, Trump demitiu o então diretor do FBI, James Comey, supostamente depois de falhar em convencê-lo a deixar de lado as investigações sobre a Rússia.
Caso se comprove que o presidente agiu para limitar o inquérito, o Congresso poderia vir a afastá-lo pelo crime de obstrução da Justiça.