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‘Conto o chão que pisei’, diz escrito Efigênio Moura que aposta em linguagem regional

efigenio-moura-usa-escrita-regional-520x293 'Conto o chão que pisei', diz escrito Efigênio Moura que aposta em linguagem regionalO uso de uma linguagem forte e arrastada – em uma narrativa por vezes fictícia, mas que retrata a realidade nordestina – pode até ser considerado como saudosismo. Porém, é um resgate do regionalismo. Por meio das palavras, o escritor Efigênio Moura busca não apenas contar histórias, mas despertar no povo a memória. De um romance, de Lampião, do Nordeste, do Sertão.

O estilo que remete à literatura de cordel, embora não rimado, define parte do trabalho do autor de 53 anos. Em seis obras já lançadas, Efigênio transpõe para a escrita o “nordestinês” falado, buscando valorizar a cultura e retratar as realidades locais, em especial do Cariri da Paraíba, onde nasceu.

Segundo ele, o interesse pela escrita regional surgiu a partir da vontade de falar sobre aquilo que ele conhecia e se identificava. “Eu gosto da minha terra, então eu adorava ir para as feiras em Monteiro, em Taperoá, e escutar o povo conversando. E aquela sonoridade que tem o ‘oxente’, o ‘prumode’, o ‘pruvir’, o ‘módequê’, o ‘lá em riba’, você escuta muito isso”, disse.

Contudo, Efigênio ressaltou que o processo de criação vai além da linguagem e começa com a escolha do cenário onde a narrativa deve se desdobrar.

“Eu queria escrever uma coisa que fosse minha. E o meu é o estado, o meu é o Nordeste. Não adianta eu chegar para contar uma história de Manaus se eu não conheço sequer um rio de lá, nunca botei os pés por lá”, explicou.

Atualmente morando em Campina Grande, Efigênio é natural do município de Monteiro, e embora use a escrita regional, relatou que não busca inspiração na “parente” dessa linguagem, a literatura de cordel.

“Acho o cordel uma coisa fantástica, mas é ‘difícil que só a moléstia’ de fazer. A história de fazer tudo ‘em carreirinha’, as palavras uma combinando com as outras, eu não sei fazer”, brincou.

‘Eu conto o chão que eu pisei’

Lançados a partir de 2009, os cinco primeiros livros de Efigênio têm como cenário a Paraíba, sendo esses “Eita Gota! Uma viagem paraibana”, “Ciço de Luzia”, “Santana do Congo”, “Caderneta de Fiado” e “Apurado de Contos”. “Eu sou do Cariri e aí eu conto o chão que eu pisei”, comentou.

“Vamos colocar os personagens onde você está, onde você conhece? E aí meus personagens são de João Pessoa, da Ladeira da Borborema, do Varadouro, de Jaguaribe, de Santa Rita, de Campina Grande e, principalmente, do Cariri paraibano”, pontuou.

Na obra mais recente, porém, Efigênio resolveu arriscar e criou uma narrativa em que os personagens passam por diversos estados no Nordeste.

“‘Pedro Jeremias’ é o primeiro de uma trilogia, ambientado no ‘cangaço pós Lampião’. O primeiro livro é uma cachoeira de datas, tem um efeito sanfona, ele vai e vem, mas o ano base é 1938, o ano em que Lampião morreu”, explicou.

Livro ‘Pedro Jemias’ é a obra mais recente de Efigênio Moura e foi lançado em vários municípios, como em Arcoverde, em Pernambuco — Foto: Efigênio Moura/Arquivo pessoal

A ficção, segundo o autor, narra a trajetória de um integrante do bando de Lampião, que dá nome ao livro e que, após a morte do líder, decide entregar as armas do grupo a Padre Cícero e, assim, colocá-las sobre o túmulo do religioso. “E aí começa a saga dele, sair do Sertão de Alagoas para chegar nos Cariris Novos, que é lá em Juazeiro do Norte”, disse.

No livro, o encontro entre Pedro e Lampião resulta no “cangaço refúgio”, no qual a pessoa entrava para o bando para não ser perseguida pelas autoridades.

“Um policial roubou a noiva dele [Pedro] e ele vai em busca desse policial, consegue achar e quando acerta as contas com esse policial, é flagrado por Lampião”, comentou.

O autor explicou que a história gira em torno do relacionamento entre Paulo Rubem – que ao entrar para o bando adota o nome de Pedro Jeremias – e Maria de Jesus. O romance se torna ainda mais complicado devido à perseguição iniciada por um parente do policial que o protagonista matou.

“Mesmo já tendo mulheres no bando, ele não quer levar [Maria] para salvaguardar a vida dela. Quando ele manda buscar ela, arruma uma maneira para trazer ela para junto dele e aí também é outra peleja que tem dentro do livro”, pontuou.

A história de Pedro Jeremias ganhou vida e inspirou um curta-metragem, gravado em Cabaceiras, no Cariri da Paraíba. Efigênio Moura contou que, no filme, a história é contada em forma de literatura de cordel.

“O roteiro já veio pronto. Quando o pessoal de São Paulo chegou aqui e deu de cara com Pedro Jeremias, aí se apaixonou pelo livro. E entraram na história e conseguiram fazer com que o Pedro Jeremias estivesse dentro do curta. Chama-se ‘No oco do tempo’”, disse.

Ele contou ainda que, durante a produção, virou um personagem da própria história.

“Me chamaram pra ser o delegado e eu fui lá falar com Pedro. É rapaz, falando com o meu personagem, diga aí. Criador e criatura”, disse.

De acordo com Hipólito Lucena, um dos diretores do filme, a produção ocorreu por meio da articulação do “Movimento de Cinema Instantâneo”, e envolveu três produtoras, a Araweté Filmes, Todo Filmes e a paraibana Ypuarana produções, representada por ele e pelos diretores Antônio Fargoni e Tiago Neves.

Hipólito informou que o curta está em fase de pós-produção e deve ser finalizado ainda em fevereiro deste ano. Para Efigênio Moura, todo o processo de produção do filme representa uma conquista. “O emotivo foi ver a primeira filmagem, a primeira foto que tiraram no set, onde eles estavam já arrumando o cangaceiro”, salientou.

“E está ele [Pedro Jeremias] lá, contra aquele pôr do sol bacana que tem lá no Lajedo [de Pai Mateus]. Está lá o cangaceiro já travestido, virando gente, como diz o nome. É uma emoção da ‘gota serena’. Fica ‘mas rapaz, deu certo!’”, frisou.

*Sob supervisão de Taiguara Rangel e Krystine Carneiro

G1PB

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