Braiscompany exige “declaração de riqueza” para devolver dinheiro dos clientes
A Braiscompany colocou mais uma trava para liberar os pagamentos atrasados de clientes que usam seu serviço de locação de criptomoedas. Agora, a empresa da Paraíba exige que investidores preencham uma espécie de “declaração de riqueza” para contar detalhes sobre suas vidas financeiras.
A empresa quer saber, por exemplo, qual é o patrimônio líquido total do cliente e como ele conseguiu acumular essa renda ao longo do tempo. Além disso, exige provas documentais que confirmem as informações fornecidas, como declaração de imposto de renda ou folha de pagamento dos últimos três meses.
A Braiscompany também obriga o cliente a enviar um selfie segurando sua identidade junto com um papel com a data do dia escrita à mão. Outras perguntas presentes no formulário são a situação profissional do investidor, em que empresa trabalha e quanto recebe. A Braiscompany também quer saber em que ano o cliente comprou criptomoedas pela primeira vez.
Conforme apurou o Portal do Bitcoin, o formulário começou a ser distribuído para alguns clientes da empresa na noite de terça-feira (10). No e-mail, a Braiscompany diz que o pedido dessas informações partiu das corretoras de criptomoedas que utilizam para pagar os rendimentos mensais dos clientes.
“As exchanges têm direito de exigir algumas comprovações de legitimidade de seus clientes. Recebemos a solicitação de esclarecer informes de alguns clientes selecionados pela exchange para demonstrar algumas informações. São dados rotineiros, que assim que satisfatórios estes informes, serão liberados todos os recursos”, afirma a Braiscompany no e-mail que redireciona o usuário ao link.
Braiscompany vs Binance
A Braiscompany dá a entender que o pedido dessas informações está partindo da Binance. No início da semana, o dono da Braiscompany, Antonio Neto Ais, acusou a Binance de travar repetidas vezes os fundos da empresa. Segundo ele, é isso que está atrasando os pagamentos dos clientes que não recebem desde dezembro o rendimento prometido.
Ais afirmou que sua empresa usa a Binance para movimentar 80% do capital investido de seus 10 mil clientes que investiram R$ 600 milhões no grupo.
O formulário que os clientes da Braiscompany estão recebendo é uma cópia quase idêntica do Formulário de Declaração de Fonte de Riqueza que a Binance exige que usuários preencham quando há movimentação suspeita em suas contas.
De toda forma, o pedido de informações sobre a renda dos clientes foge à normalidade uma vez que, quando a Binance faz esse tipo de solicitação, a direciona para o titular da conta e, nesse processo, não exige que ele forneça informações sobre a renda daqueles com quem interage. Portanto, não está claro por que a Braiscompany exige essas informações como condição para destravar os pagamentos.
A Binance foi questionada se de fato fez essa solicitação para a Braiscompany, mas não respondeu até a publicação desta reportagem. A equipe da Braiscompany também foi procurada para comentar o assunto e também não retornou.
Um cliente da Braiscompany que conversou com o Portal do Bitcoin e que recebeu esse e-mail procurou o gerente que cuida da sua conta dentro da empresa para saber a origem dessa solicitação, e recebeu a confirmação do funcionário que tal pedido partiu da Binance.
Apesar da resposta, o investidor desconfia que o pedido não seja verdadeiro. “Isso é só enrolação. Fizeram a mesma coisa dia 30, pedindo para preencher dados. Eu quero tirar meus contratos lá, porém querem que eu pague mais de R$ 30 mil em multa”, reclama o cliente da Braiscompany que pediu para não ter o nome divulgado.
Ele, que está desde dezembro sem receber os lucros prometidos, relembra que a Braiscompany já havia pedido para que clientes preenchessem formulários para confirmar seus endereços de Bitcoin e USDT. O investidor disse que entregou as informações solicitadas e mesmo assim não foi pago.
Clientes de mãos vazias
Assim como atrasou o repasse de rendimentos daqueles que deveriam receber nos dias 20 e 30 de dezembro, a Braiscompany também não pagou os clientes que recebem no dia 10 de janeiro, segundo afirmam os próprios investidores. Trata-se portanto da terceira data de reembolsos que a empresa não consegue cumprir.
Em meio a enxurrada de reclamações que passou a receber no Instagram ao longo das semanas, a empresa proibiu comentários na página. Restou aos clientes procurar outras formas de reclamar e trocar informações, como grupos de WhatsApp.
Em um desses grupos, com quase 90 clientes da Braiscompany, uma enquete questionava quem já havia recebido o pagamento do dia 10. A resposta foi unânime: ninguém.
A Braiscompany já deu três justificativas diferentes para os atrasos que acontecem desde o mês passado. Segundo a empresa, os pagamentos de 20 de dezembro não foram feitos em dia por conta do lançamento do aplicativo Brais App — que segue fora do ar.
O atraso dos contratos do dia 30 foram justificados pela empresa por inconsistências nos endereços de criptomoedas fornecidos pelos clientes. Agora, a Binance é apontada como culpada pelos atrasos de janeiro por supostamente bloquear fundos da Braiscompany.
Em uma live realizada no início da semana, Antonio Neto Ais afirmou que os pagamentos estavam atrasados porque a Binance colocou travas em saques e liquidações da empresa.
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