Politizar investigação sobre facção é mau-caratismo, afirma Dino
O ministro da Justiça, Flávio Dino (Foto: Reprodução)
O ministro da Justiça, Flávio Dino, defendeu nesta quarta-feira (22), ser um “disparate”, uma “violência”, vincular uma fala do presidente Lula sobre Sergio Moro (União Brasil) à organização criminosa que planejava um ataque ao senador.
“Eu fico espantado com o nível de mau-caratismo de quem tenta politizar uma investigação séria, tão séria que foi feita em defesa da vida e da integridade de um senador de oposição ao nosso governo.”
Em entrevista recente, o presidente revelou que, quando estava preso em Curitiba, em todas as visitas que recebia, as autoridades lhe perguntavam se estava bem, ele respondia que só estaria bem quando se vingasse de Moro.
Dino condenou as narrativas que estão sendo divulgadas nas redes sociais relacionando a declaração aos planos do grupo criminoso.
“Nós estamos vendo em redes sociais uma narrativa escandalosamente falsa de que haveria uma relação entre entrevistas ou declarações do senhor presidente da república com estes planejamentos. Isso é um disparate, uma violência e nós não aceitamos isso”, completou.
O ministro esteve em São Paulo para participar de um evento com advogados na Zona Sul. Antes, concedeu uma coletiva na qual deu detalhes sobre a operação da Polícia Federal para prender integrantes da facção que planejava ataques contra o senador Sergio Moro, o promotor Linconln Gakiya e outras autoridades.
De acordo com o ministro, o plano da facção seria uma retaliação aos agentes públicos envolvidos em ações contra o grupo.
“Aparentemente, é uma ação nacional de um lado retaliação, em face de agentes públicos vários, aí envolvendo Ministério Público, agentes policiais de vários estados e, obviamente, um ação de intimidação em relação ao conjunto das autoridades públicas, ou seja, uma ação que tem um porte terrorista, no sentido de intimidar o aparelho estatal mediante retaliação a um conjunto de agentes públicos”.
Em 2019, quando Moro era ministro de Segurança Pública, governos federal e de São Paulo transferiram Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e mais 21 integrantes do PCC para penitenciárias de segurança máxima.
À época, a operação foi realizada depois que o Ministério Público descobriu um plano da facção para resgatar os principais líderes que estão presos na penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior do estado. O promotor Lincoln Gakiya foi autor do pedido de transferência.
Durante a coletiva, o ministro disse que acionou o diretor da Polícia Federal após ser informado das suspeitas de ataques a autoridades pelo presidente do senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), há 45 dias.
“Evidente, eu contatei imediatamente com o diretor da Polícia Federal, o Dr. Andrei, informei da possibilidade oriunda desse relato que me foi transmitido pelo presidente do senado, senador Rodrigo Pacheco, e determinei que a Polícia Federal estivesse mobilizada tendo em vista que se inseriria na sua competência pelo fato de que teria uma repercussão interestadual”.
Ainda de acordo com o ministro, além do promotor de Justiça e do senador Moro, autoridades do sistema penitenciário de vários estados também eram alvo do grupo.
“Esses elementos indiciários, elementos de prova, conduziram a que Polícia Federal avançasse na investigação e chegasse na conclusão de que efetivamente havia um planejamento em curso para a execução de ações violentas tendo vários alvos, um promotor do estado de São Paulo, que era o alvo original, de onde nasce a investigação, que essas possibilidades envolviam também autoridades do sistema penitenciário de vários estados, integrantes da polícia de vários estados, e também o hoje senador da república Sérgio Moro.”
Em entrevista à GloboNews, o procurador-geral de Justiça São Paulo, Mário Sarrubbo, afirmou que, numa das investigações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), “surgiu essa notícia [do ataque planejado contra autoridades], que imediatamente foi comunicada às partes envolvidas e às autoridades federais e aí uma ação conjunta da Polícia Federal e do Ministério Público de São Paulo. Os colegas de Ministério Público capitaneados nessa operação especificamente pelo dr. Lincoln, efetuaram essa operação desmantelando a parte dessa facção que pretendia atuar em relação ao senador Sergio Moro e à sua família”.
Dino — Foto: Reprodução
A operação
De acordo com a PF, são cumpridos 24 mandados de busca e apreensão e 11 de prisão em São Paulo, Paraná – onde estão os principais alvos – Rondônia e Mato Grosso do Sul.
Até a última atualização desta reportagem, nove pessoas haviam sido presas – sete delas em Campinas, São Paulo.
Durante a operação, em São José dos Pinhais, no Paraná, os investigadores encontraram um cômodo atrás de uma parede falsa.
Além de homicídio, os suspeitos pretendiam sequestrar autoridades públicas, segundo a PF. Os policiais identificaram ainda que os ataques poderiam ocorrer de forma simultânea.
Outro alvo do grupo era Lincoln Gakyia, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco), de Presidente Prudente, interior de São Paulo, devido às investigações comandadas por ele.
De acordo com o blog da jornalista Andréia Sadi, um comandante de Polícia Militar também era alvo dos atentados. ‘Era um ataque nacional’, disse Dino em resposta a mensagens enviadas pelo blog.
Segundos os investigadores, até por volta de 9h40 estavam confirmados mandados contra os seguintes suspeitos (outros nomes não foram divulgados):
- Janeferson Aparecido Mariano;
- Patrick Uelinton Salomão;
- Valter Lima Nascimento;
- Reginaldo Oliveira de Sousa;
- Sidney Rodrigo Aparecido Piovesan;
- Claudinei Gomes Carias;
- Herick da Silva Soares;
- Franklin da Silva Correa.
Dinheiro apreendido pela PF durante Operação Sequaz — Foto: PF/Reprodução
Investigações
Segundo investigadores, a retaliação a Moro era motivada por mudanças no regime de visitas em presídios. Criminosos também trabalhavam com a ideia de sequestrar o senador como forma de negociar a liberação de Marcola. Ao menos dez criminosos se revezavam no monitoramento da família do senador em Curitiba, segundo agentes.
Até a última atualização desta reportagem, a PF não havia informado qual era a portaria que motivou os planos dos criminosos e por que Moro estava entre os alvos mesmo, tendo deixado o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2020.
Os alvos alugaram chácaras, casas e até um escritório ao lado de endereços de Sergio Moro. A família do senador também teria sido monitorada por meses pela facção criminosa, apontam os investigadores.
Flávio Dino faz publicação sobre operação da PF em rede social — Foto: Twitter/Reprodução
Mais cedo, nas redes sociais, o ministro da Justiça, Flávio Dino, comentou a operação e confirmou que as vítimas seriam um senador e um promotor de Justiça (veja publicação acima).
“Hoje a Polícia Federal está realizando prisões e buscas contra essa quadrilha”, afirmou.
G1