270 milhões de pessoas vivem em terras que estão afundando na China, diz estudo
À medida que os níveis dos oceanos sobem e as costas afundam, vastas áreas de terra serão expostas a inundações destrutivas de tempestades costeiras e erosão da costaTingshu Wang/Reuters
A terra está afundando sob os pés de milhões de pessoas nas principais cidades da China, colocando as áreas costeiras do país em maior risco de inundações e aumento do nível do mar, mostram novas pesquisas.
Quase metade das áreas urbanas da China, compreendendo 29% da população do país, estão afundando mais de 3 milímetros por ano, de acordo com o estudo publicado nesta quinta-feira (18), na revista Science. São 270 milhões de pessoas vivendo em terras afundadas.
Enquanto isso, 67 milhões de pessoas vivem em terras que estão cedendo mais rápido do que 10 milímetros (0,4 polegadas) a cada ano.
A extração desenfreada de águas subterrâneas da China é um dos principais fatores para o problema, disseram pesquisadores.
As cidades têm bombeado água de aquíferos subterrâneos mais rápido do que pode ser reabastecido, uma situação exacerbada pela seca alimentada pelas mudanças climáticas. O bombeamento excessivo reduz o lençol freático e faz com que a terra afunde.
A terra também está afundando devido ao peso crescente das próprias cidades. O solo pode compactar, naturalmente, a partir do peso dos sedimentos que se acumulam ao longo do tempo e de edifícios pesados pressionando para baixo o solo, fazendo com que a terra afunde constantemente.
O declínio da terra não é apenas um problema na China. Nos EUA, dezenas de cidades costeiras, incluindo Nova York, estão afundando.
Na Holanda, 25% das suas terras afundaram abaixo do nível do mar. E na Cidade do México, provavelmente a cidade que mais rápido afundo no mundo, a terra está cedendo na velocidade de até 50 centímetros, por ano.
O impacto do afundamento é pior ao longo das costas, onde o nível do mar está aumentando ao mesmo tempo. Esta combinação expõe mais terra, pessoas e propriedade a inundações destrutivas.
O estudo sugere que cerca de um quarto das costas da China será inferior ao nível do mar por causa da subsidência e do aumento do nível do mar ao longo dos anos, preparando a área para danos colossais e colocando vidas em risco.
Tianjin, Xangai e áreas ao redor de Guangzhou estão significativamente expostas a ambas as questões, disse o estudo.
Mas algumas áreas costeiras na China já construíram proteção física contra o risco crescente de inundação, e o estudo não leva essas proteções em consideração.
Em Xangai, por exemplo, Shengli Tao, coautor do estudo e professor da Universidade de Pequim, disse que a cidade construiu sistemas de diques “impressionantes” que têm metros de altura.
“Esses enormes sistemas de diques costeiros reduzirão em grande parte o risco de serem inundados, mesmo com a subsidência da terra e o aumento do nível do mar”, disse Tao à CNN. “Não tenho conhecimento de outros países que construíram sistemas de diques tão massivos.”
O estudo é “cientificamente robusto” e fez “um bom trabalho” ao destacar que a subsidência não é apenas um “problema costeiro”, disse Leonard Ohenhen, pesquisador de doutorado da Virginia Tech, que recentemente publicou um estudo sobre afundamento de terras nos EUA.
“A maioria das cidades urbanas experimenta subsidência da terra, mas focamos nossa atenção nas cidades costeiras por causa do aumento do nível do mar”, disse Ohenhen, que não estava envolvido com o estudo, à CNN. “No entanto, a maioria das cidades urbanas experimenta subsidência da terra a taxas comparáveis ou até maiores do que a cidades costeiras.”
Tao disse que o governo chinês está lidando com a questão de algumas maneiras, incluindo a implementação de leis rígidas para controlar o bombeamento de água subterrânea nos últimos anos.
Xangai e áreas vizinhas têm limitado as retiradas de água subterrânea, o que diminuiu a taxa de subsidência da região. Décadas atrás, a subsidência de Xangai era um problema significativo, disse Tao.
A China também tem bombeado água do rio Yangtze, no sul da China, para o norte o norte do país – incluindo Pequim – que sofreu com a escassez de água. O projeto impede a necessidade de bombeamento excessivo de água subterrânea e interrompeu a subsidência de terras em Pequim, segundo o estudo.
“Acredito que os esforços do governo da China abordarão a questão da subsidência de terras”, disse Tao. “Mas eu sugeriria manter o controle das retiradas de água subterrânea para as principais cidades e manter constantemente sistemas de diques em terras costeiras.”
CNN Brasil