Otan e União Europeia reforçam aliança militar e enfraquecem busca europeia por autonomia
Liderada pelos Estados Unidos, “a Otan continua sendo a base da defesa coletiva de seus aliados e essencial para a segurança do Euroatlântico”, afirma a declaração. (Foto: Reprodução)
A Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e a União Europeia concederam nesta terça-feira a sua primeira declaração conjunta sobre segurança desde a invasão russa da Ucrânia. O documento ressalta a importância da aliança militar para a segurança europeia, o que significa que a busca de alguns Estados europeus por uma autonomia estratégica se vê enfraquecida em favor da atual proteção nuclear oferecida pelos EUA.
Liderada pelos Estados Unidos, “a Otan continua sendo a base da defesa coletiva de seus aliados e essencial para a segurança do Euroatlântico”, afirma a declaração.
Embora as nações da União Europeia devam gastar cada vez mais cooperativamente em questões militares e construir Exércitos mais fortes, acrescenta o texto, os esforços europeus devem corresponder à estratégia da Otan e não competir com ela.
“Reconhecemos o valor de uma defesa europeia mais forte e capaz que contribua positivamente para a segurança global e transatlântica e seja complementar e interoperável com a Otan”, afirmou a declaração, divulgada após reunião em Bruxelas.
Existe uma sobreposição considerável entre a União Europeia e a Otan. Dos 30 membros da Otan, 21 também estão na União Europeia,que tem 27 Estados-membros. Quando a adesão de Suécia e a Finlândia à Ota se confirmar, como esperado, o número de integrantes será 23 de 27, cobrindo 96% da população da União Europeia, segundo disse o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg.
Há muito há pressões dentro da UE para que o bloco reforce sua própria capacidade de defesa, chamada de autonomia estratégica. Atualmente, entre os Estados-membros, apenas a França tem armas atômicas, e a maior parte da segurança é oferecida pelos EUA.
Teme-se que Washington possa mudar muito sua concentração securitária para o Pacífico, em função da China, o que pode deixar a Europa desguarnecida. No pior cenário, um presidente pode decidir abandonar a Aliança Atlântica, como ex-aliados do ex-presidente Donald Trump dizem que ele chegou a cogitar.
Em entrevista coletiva conjunta após a assinatura, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, e o secretário-geral da Otan elogiaram a cooperação entre as duas organizações, impulsionada pelo ataque da Rússia à segurança europeia e ao direito internacional.
— Devemos continuar a fortalecer a parceria entre a Otan e a União Europeia —disse Stoltenberg. — E devemos fortalecer ainda mais nosso apoio à Ucrânia.
As negociações sobre a declaração conjunta foram longas e difíceis, com questões delicadas que vão desde a autonomia estratégica europeia até como se referir à China, que é vista pela Europa de modo menos hostil do que em Washington.
As duas autoridades europeias, von der Leyen e Michel, defenderam a ideia de uma autonomia estratégica mais ampla para o bloco como um processo que abrange mais do que simplesmente questões militares, para incluir, como disse von der Leyen na terça-feira , questões como produção de vacinas e semicondutores e autossuficiência.
Michel disse que a União Europeia tem um novo compromisso de melhorar sua capacidade militar em cooperação com a OTAN, bem como sua resiliência em áreas como energia, desinformação e matérias-primas. A União Europeia está acelerando sua expansão e acordando para a ameaça da China, disse ele.
— Aliados fortes fazem alianças fortes — afirmou..
Von der Leyen ecoou esses sentimentos.
— Sabemos que temos de fortalecer e agora aprofundar esta parceria de mais de 20 anos, porque a segurança da Europa é desafiada e está sob ameaça — citou. inclusive da China, disse ela.
Ela listou quatro áreas para cooperação reforçada com a Otan: as ameaças de guerra híbrida e cibernética e terrorismo; a mudança climática; tecnologias emergentes e disruptivas; e resiliência em relação a importações críticas e infraestrutura vital, como dutos.
Nesta terça-feira, um dos aliados mais próximos do presidente Vladimir Putin, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, disse que o país agora está lutando contra a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em entrevista ao jornal russo “Argumenty i Fakty”.
— Os eventos na Ucrânia não são um confronto entre Moscou e Kiev. Este é um confronto militar entre a Rússia e a Otan e, acima de tudo, contra os Estados Unidos e o Reino Unido — disse Patrushev. — Os planos dos ocidentais são os de continuar a separar a Rússia e, eventualmente, apenas apagá-la do mundo.
O secretário do Conselho de Segurança da Rússia também argumenta que Moscou não está em “guerra” contra a Ucrânia devido à proximidade dos laços culturais entre os países e que a relação entre as nações é “inseparável”.
Patrushev é ex-espião soviético e conhece Putin desde os anos 1970. Ele é considerado um dos aliados mais próximos e linha-dura do líder russo e é visto como uma das poucas figuras do país que podem influenciar o presidente.
O Globo