Com popularidade em queda, Boris Johnson quer dar as cartas na saída da UE e põe em jogo seu governo
LONDRES — O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, aguarda com a mesma ansiedade dos consumidores e comerciantes a reabertura de barbearias, restaurantes e pubs no próximo sábado, dia 4 de julho. Não se trata apenas do desejo manifestado por ele próprio de conter o penteado (ainda mais) desobediente em virtude dos quase 100 dias de quarentena a que o Reino Unido foi submetido, ou de sair para comer fora. O premier precisa tirar o país do que chamou de “um longo período de hibernação nacional” e conter as desigualdades sociais que ficaram ainda mais evidentes na pandemia da Covid-19.
O retorno parcial acontece enquanto o Reino Unido se prepara para abandonar de vez o barco da União Europeia (UE), no final do ano. O governo britânico tem até terça-feira, dia 30, para dizer se o país quer estender o prazo de negociação do acordo que vai reger as relações bilaterais no futuro. E Boris, além de não pretender essa extensão, também dá mostras de que não vai facilitar os termos do acordo.
O país já está tecnicamente fora da UE desde 31 de janeiro. Porém, tudo continua em um limbo até 31 de dezembro, na chamada transição. Prorrogá-la seria desagradar ainda mais a parcela da população que elegeu Boris e que passa a vê-lo com certa descrença. Ninguém mais aguenta o tema Brexit. As rodadas de conversas com os europeus nos últimos dias, em Bruxelas, não avançaram, e a possibilidade de um divórcio litigioso é grande, para o temor de parte do setor produtivo. Isso, contudo, já não parece preocupar tanto o primeiro-ministro.
Estão em jogo a sua reputação e a do seu Partido Conservador, no comando do país há uma década. Sob pressão de agentes econômicos e do eleitorado, Boris tem sido alvo de críticas pela maneira como vem conduzindo a crise sanitária. É acusado de demorar a anunciar o isolamento social, em março, e, agora, de se apressar para suspendê-lo. O Reino Unido é a nação com mais mortes da Europa e tem a maior relação de óbitos por 100 mil habitantes do mundo (mais de 64). E a sua principal promessa de campanha, “liquidar a fatura do Brexit”, ainda parece distante.
O GLOBO