Dólar tomba a R$ 4,75 na quarta semana de queda desde o início da guerra
A valorização do real frente ao dólar completou nesta sexta-feira (25) um ciclo de quatro semanas. A última vez que a moeda brasileira perdeu para a americana no fechamento semanal foi em 25 de fevereiro, um dia após tropas da Rússia invadirem a Ucrânia.
O dólar fechou o pregão desta sexta valendo R$ 4,7470. O tombo foi de 1,77% em relação ao dia anterior. Essa é a menor cotação desde os R$ 4,72 registrados no encerramento da sessão de 11 de março de 2020, dia em que a OMS (Organização Mundial da Saúde) declarou a pandemia de Covid-19.
É a Bolsa de Valores brasileira uma das portas de entrada para os dólares de investidores estrangeiros que, neste momento, fazem do real a moeda mais valorizada de 2022 entre os países emergentes.
O Ibovespa oscilava 0,01%, a 119.066 pontos, no final do dia, antes da conclusão das negociações pós-mercado. Na oitava sessão consecutiva de alta, o índice de referência da Bolsa estacionava na sua maior pontuação desde o início de setembro.
Depois das oscilações geradas pelo início da guerra da Ucrânia, o Brasil desponta como alternativa para investidores que procuravam oportunidades no setor de commodities, uma vez que os embargos impostos à Rússia tendem a agravar a restrição da oferta de petróleo.
Os preços da matéria-prima sobem desde o final do ano passado devido à resistência da Opep (cartel formado pelos países que mais exportam o produto) em acelerar o aumento da oferta. Em 2022, a alta é de 50%, sendo 20% de ganho após o início do conflito na Europa.
Nesta sexta, porém, o petróleo não foi decisivo para a alta da Bolsa. O barril do Brent, referência para o mercado, subia apenas ligeiramente (0,55%), a US$ 119,68 (R$ 575,19). Ainda assim, a commodity está em um dos patamares mais elevados dos últimos 14 anos.
Desde o início do ano, porém, estrangeiros também buscam no Brasil oportunidades em ações que estavam desvalorizadas. É esse movimento voltado a outros segmentos da Bolsa que colaborava nesta sessão com a alta do Ibovespa. Setores de saúde, consumo de bens não essenciais, finanças e imóveis sustentavam os ganhos do índice.
Esse tipo de aplicação é vista no exterior como uma forma de obter lucros rápidos em mercados com potencial de crescimento enquanto as principais Bolsas globais, principalmente nos Estados Unidos, realizam um movimento de correção.
A expectativa de forte elevação dos juros americanos e o fim do programa de compras de ativos pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) têm levado investidores a liquidar ações muito valorizadas em Nova York durante a pandemia.
A renda fixa brasileira também é um atrativo neste momento. A taxa básica de juros (Selic) a 11,75%, frente a uma inflação estimada em 7%, coloca os juros reais do Brasil entre os melhores do mundo.
Investidores estrangeiros são responsáveis por 53% das movimentações financeiras na Bolsa. Desde o início do ano até a última terça-feira (22), o saldo das operações realizadas por eles estava em R$ 84 bilhões. Isso representa 82% do saldo de R$ 102,3 bilhões de todo o ano de 2021, que teve o recorde da série histórica.
No mercado de ações de Nova York, os principais índices subiam sem muita certeza. O indicador de referência S&P 500 avançava 0,36%. O Dow Jones subia 0,44%. A Nasdaq perdia 0,16%.
Incertezas quanto aos efeitos da guerra na Ucrânia sobre a inflação, que é a maior em quatro décadas no país, ampliam as preocupações quanto a altas mais agressivas do que as esperadas para os juros.
“Os mercados estão tentando precificar algo que é basicamente impossível de precificar, pois parte do que está acontecendo no mundo depende do pensamento de [Vladimir] Putin, que ninguém conhece”, disse Fahad Kamal, diretor de investimentos da Kleinwort Hambros ao The Wall Street Journal. “Quanto mais durar o conflito, maior será a força da inflação, menor será o crescimento. É massivamente e radicalmente incerto.”
FOLHAPRESS