Estudante de medicina perde 97% da visão após ter dengue, especialista explica sequela rara
Jovem fica com sequelas e perde parte da visão após ter dengue
A jovem Isabella Kemp viu sua vida mudar em apenas uma semana e tudo por conta de uma sequela rara da dengue. Ela tem apenas 24 anos, que cursa o último ano de medicina.
Segundo Isabella, tudo começou com um embaçamento no campo visual do olho esquerdo, seis dias após os primeiros sintomas, e foi piorando progressivamente. Então, ao procurar um especialista, dois dias depois, ela descobriu que já estava com 3% da visão de um olho e 20% do outro.
Conforme Isabella, ela teve a dengue clássica, com os primeiros sintomas surgindo dia 10 de fevereiro. No dia seguinte, 11, resolveu procurar atendimento, com dores musculares, na cabeça e nas articulações.
A estudante, então, recebeu o diagnóstico de dengue em um domingo. Porém, ao longo da semana, os sintomas não mudaram, muito pelo contrário. Na sexta-feira apareceu prurido na região das mãos e dos pés, a famosa “coceira” e, nesse mesmo dia, segundo ela, sua visão foi afetada.
“Em São Paulo, o médico me informou que o vírus teve um tropismo pela retina dos meus olhos. O vírus se identificou pela retina e viu nela um ambiente favorável para se replicar, e por isso, meu sistema imune começou um processo inflamatório para tentar impedir a proliferação. Com o processo inflamatório, minha visão foi afetada. E por conta da grande inflamação que ocorreu na retina, teve alguns danos que podem ser irreversíveis”, explicou.
A estudante também foi informada que atualmente ainda não há um prognóstico dessa condição que, segundo especialistas, é raríssima.
No caso da dengue, não existem tratamentos específicos para combater ou impedir que o invasor se prolifere no organismo. Só o tempo vai mostrar se Isabella vai sofrer algum grau de sequela definitiva.
Porém, o quadro de saúde da estudante é esperançoso, já que após poucas semanas de tratamento, ela já mostrou estar recuperando, aos poucos, a visão.
“Agradeço por cada luzinha que vejo. Hoje, minha visão não é a mesma de antigamente. Tenho dificuldade para diferenciar algumas cores, preciso usar o modo de acessibilidade do celular e do computador, onde as letras são maiores e as cores são mais nítidas, pois hoje, estou enxergando com melhor nitidez apenas cores fortes como preto e amarelo”, destacou a jovem.
“Também, meu olho esquerdo ficou com um embaçamento na região central da visão, mas que é compensado pelo olho direito, que hoje está melhor recuperado. Hoje eu estou bem animada com o processo de recuperação, pois a cada dia eu estou melhorando um pouquinho mais, sem deixar essa situação me abalar”, completou.
A condição é rara
Segundo o médico infectologista Rivaldo Venâncio, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a dengue é uma doença sistêmica, ou seja, ela acomete vários órgãos e tecidos do organismo, em diferentes intensidades.
Sendo assim, mesmo que determinados órgãos não sejam afetados, podem ocorrer alterações, já que o vírus estará circulando pela corrente sanguínea. Nesse sentido, ainda de acordo com o infectologista, órgãos como coração, fígado, rins e até os olhos podem ser afetados, como aconteceu com Isabella.
“Eu já vi casos de comprometimento hepático bem, bem grave. A resposta imunológica provocada pela presença do vírus pode causar danos a alguns tecidos ou alguns órgãos específicos. Nós temos também comprometimento neurológico, por exemplo, síndrome de Guillain-Barre ou encefalite. Felizmente, são observações muito, muito, muito raras”, disse o infectologista.
O infectologista não só fez questão de destacar que essas sequelas são raríssimas, como também, que elas, geralmente, podem ser revertidas. Embora, infelizmente, não cheguem a 100% o número de casos com comprometimento grave, como os envolvimentos de coração e fígado (principalmente), que se recuperam plenamente.
Por isso, como é sempre melhor, e mais fácil, prevenir do que remediar, a dica é evitar água parada em casa e claro, procurar ficar atento aos sintomas da dengue, que incluem febre alta, dor de cabeça intensa, dor nas articulações, erupção cutânea e, em alguns casos, dor abdominal, vômitos, cansaço e diarreia. Fique atento a outros cuidados que você deve ter em relação à dengue.
R7