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Em Portugal, refugiados ucranianos são recebidos por russos pró-Putin

WhatsApp-Image-2022-05-06-at-06.34.08-625x400 Em Portugal, refugiados ucranianos são recebidos por russos pró-Putin

Refugiados ucranianos que chegaram a Portugal em busca de um porto seguro após a invasão da Rússia encontraram na prefeitura de Setúbal, a 50 quilômetros de Lisboa, uma acolhida dantesca: recebidos por russos de uma associação ligada ao Kremlin, foram submetidos a um questionário que incluía perguntas sobre o paradeiro de parentes que deixaram para trás no país natal.

Divulgado pelo jornal “Expresso”, o escândalo soou como piada pronta para o humorista Ricardo Araújo Pereira, e abriu o programa “Isto é gozar com quem trabalha”, que apresenta aos domingos na SIC. “Portugal sabe receber: para que os refugiados ucranianos se sentissem em casa, a Câmara de Setúbal reproduziu exatamente o ambiente que deixaram na Ucrânia. São colocados numa sala, e um russo começa a disparar perguntas”, ironizou o comediante. 

Segundo o “Expresso”, pelo menos 160 refugiados foram recebidos por Igor Khashin, que presidiu a Casa da Rússia e o Conselho de Coordenação dos Compatriotas Russos, entidade vinculada ao Ministério russo de Relações Exteriores. Ele e a mulher Yulia teriam tirado fotocópias dos documentos de identificação dos ucranianos, embora esse procedimento não fosse necessário.

As perguntas foram consideradas invasivas, e a situação causou desconforto aos imigrantes. Fugitivos da guerra, se sentiram ameaçados e denunciaram o caso à Associação de Ucranianos de Portugal. O presidente da entidade, Pavlo Sadokha, não se surpreendeu com os relatos. Desde 2014, ele vem alertando o Alto Comissariado das Migrações sobre as organizações de russos e ucranianos pró-Kremlin, que são reconhecidas pela Embaixada da Rússia em Portugal.

A embaixadora da Ucrânia em Lisboa, Inna Ohnivets, revelou temer pela segurança dos refugiados que chegam ao país e diz também ter alertado o governo português que das oito entidades registradas no Alto Comissariado de Migrações, apenas duas são reconhecidas como ucranianas. “É preciso excluir associações pró-russas da lista de representantes da comunidade ucraniana em Portugal”, afirmou à CNN Portugal.

Sadokha advertiu que além de Setúbal, em outras cidades como Aveiro, Gondomar e Albufeira, entidades vinculadas ao Kremlin têm recebido refugiados. Desde o início da guerra, em fevereiro, 33 mil ucranianos desembarcaram no país. “Não faz sentido um refugiado ser recebido por uma pessoa que é favorável à invasão ou que diz que todos os ucranianos são nazistas”.

Em 2015, após a anexação da Crimeia pela Rússia e quando se acirrava o conflito entre Ucrânia e os separatistas na região de Donbass, Igor Khashin deu uma entrevista, publicada num site do governo russo, na qual alertava para a existência de “elementos radicais” ucranianos em Portugal. “Khashin acusou-nos várias vezes de sermos neonazistas e de dividirmos a comunidade ucraniana”, conta Sadokha.

Os ucranianos formam a segunda maior comunidade de imigrantes do país. Não por acaso, os fugitivos da guerra de Putin logo se deram conta de que, embora a 4 mil quilômetros de distância, em Portugal o inimigo também pode estar por perto.

G1

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