Juliette ataca Bolsonaro, se diz a mãe dos ‘cactos’ e que saiu do BBB como anormal
Pouco antes de entrar no Big Brother Brasil 2021, reality do qual sairia campeã, Juliette Freire se dividia entre estudar para passar em concursos, fazer trabalhos como advogada ou se dedicar a um salão de beleza. Pouco mais de um ano depois de levar o prêmio de R$ 1,5 milhão, ela diz que trabalha ainda mais agora, que tem a agenda cheia –produz conteúdo para as redes sociais, faz peças publicitárias, tem o dia lotado de compromissos e, agora, cuida da voz e ensaia para sua primeira turnê.
“Eu ficava pensando ‘meu Deus, quando eu conseguir chegar aonde quero, ter dinheiro e tudo mais, vou viajar, passear, fazer festa, curtir a vida’. E não é assim. Quanto mais famosa, mais trabalho. E quanto mais dinheiro, mais trabalho. E assim vai. Isso é diferente do que eu imaginava.”
Vencedora de uma das edições de maior audiência do programa, Juliette reuniu uma legião de fãs fervorosos em sua passagem pelo BBB, onde costumava soltar a voz nas festas. As cantorias viralizaram nas redes sociais e, quando ela saiu da casa mais vigiada do Brasil, transformou a brincadeira em carreira –sua turnê de estreia chega a São Paulo nesta sexta-feira.
“Nunca foi um plano ter uma carreira de cantora”, ela diz. “Nunca me imaginei sendo cantora. Eu cantava com os meus amigos, brincando. Mas, quando saí do programa e vi que as pessoas me reconheceram como cantora, fiquei lisonjeada e muito surpresa.”
Logo que saiu do BBB, ela soube que tinha um EP inteiro pronto, feito com a ajuda de Anitta, só faltando pôr a sua voz. “Meus produtores e sócios são meus amigos, era com eles que eu ficava cantando violão e tomando uma cervejinha. Eles sabiam do que eu gostava. Apresentaram esse projeto à Anitta, que aprovou e construiu junto com eles.”
Juliette escolheu as músicas de que mais gostou das que foram apresentadas, fez ajustes nas letras, trocou instrumentos e arranjos e, enfim, acrescentou sua voz às faixas. Mas ela teve de botar um freio nos planos de virar cantora.
“Puxei o freio de mão. Não saí tão bem psicologicamente. Não estava preparada. Mudamos o ritmo, foi mais lento, para eu fazer as coisas com mais calma”, diz. “Quando você sai, especialmente na proporção que eu estava, é assustador. Você fica, ‘caramba, o que as pessoas esperam de mim, como posso acrescentar?’. Estava nesse processo psicológico de recuperar o que eu tinha perdido de juízo no programa.”
Batizado ‘Juliette’, o EP foi lançado depois que a ex-BBB já tinha cantado em lives de gente como Gilberto Gil, Elba Ramalho e Wesley Safadão. As músicas são baseadas no forró, mas passeiam também pela MPB e pelo sertanejo, incluindo várias baladas, algo que reflete o momento de introspecção pelo qual ela estava passando depois de sair do programa.
“Tanto é que minhas músicas são mais calmas. Estou mais retraída. Se você pegar eu cantando as músicas no EP e me ver cantando hoje no meu show, você vai ver outra música. Hoje, canto de peito aberto, canto cada palavra com o sentido que ela realmente merece. Antes eu estava fechadinha, vulnerável e calma, digamos assim, quietinha.”
Depois de sair do BBB, Juliette estava frágil psicologicamente, vivendo uma avalanche de trabalho, com medo da pandemia e muita insônia. Ela diz que esse período durou cerca de seis meses, mas a experiência que teve vai deixar marcas para sempre.
“Depois eu fui me reconectando, mas nada é 100%. Acho que uma pessoa que participa de um reality nunca mais fica normal. Mas estou bem mais segura e confortável nessa vida agora.”
No show, ela faz homenagens a artistas nordestinos mais clássicos, como Luiz Gonzaga e Dominguinhos, canta Chico César e também Duda Beat e Marina Sena, entre outros. Seu estilo, ela diz, é uma mistura do que escuta, algo entre a MPB, o forró e o pop.
“Se eu tivesse um potinho, colocaria um pedacinho de Caetano, um pedaço de Gil, de Anitta, de Ivete, de Maria Gadú, de Chico César, de Paralamas do Sucesso. Minha identidade é formada dessa mistura. Não preciso ser só a cantora que senta no banquinho e canta Gil e Caetano. Também posso descer a bunda até o chão.”
Se depender do afã dos cactos, como são conhecidos seus seguidores, para multiplicar os plays no streaming e comprar ingressos, a carreira musical de Juliette não deve ter problemas para decolar. Ela, porém, conta que esses fãs muitas vezes se excedem em sua defesa e diz que muitas vezes age como mãe deles.
“Quando eu acho que passa do limite, que passa do saudável, eu intervenho rapidamente. Vejo meus fãs buscando valores positivos, mas há uma pequena parcela que existe e precisa ser instruída, acolhida e repreendida. Quando eles têm boas atitudes, eu exalto e apoio. É como uma mãe faz com os filhos. Nem sempre os filhos vão ter boas atitudes. A gente tem que educar e repreender.”
Hoje com um a visibilidade gigante –só no Instagram, ela é seguida por mais de 30 milhões de pessoas–, Juliette diz que entende a responsabilidade que carrega e toma cuidados ao se comunicar. Nas próximas eleições, acredita que pode usar essa voz para se posicionar “em prol da sociedade”.
Sobre seu voto, diz que está “analisando o cenário”. “A minha posição é contra Bolsonaro sempre. Já falei isso explicitamente, falo inclusive nas minhas músicas. Não apoio a postura dele. Então, por enquanto, esse é meu único posicionamento.”
FOLHAPRESS