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Ano recorde de testes de mísseis da Coreia do Norte deixa o mundo apreensivo

WhatsApp-Image-2022-12-30-at-08.01.04-700x387 Ano recorde de testes de mísseis da Coreia do Norte deixa o mundo apreensivo

Em 2020, a Coreia do Norte fez quatro testes de mísseis. Em 2021, dobrou esse número. Em 2022, a nação isolada disparou mais mísseis do que qualquer outro ano já registrado. Chegou a disparar 23 mísseis em um único dia.

No total, a Coreia do Norte lançou mais de 90 mísseis de cruzeiro e balísticos em 2022 (até agora), exibindo uma série de armas que, segundo especialistas, apontam para um potencial teste nuclear no horizonte.

Os testes que chamam a atenção também ameaçam iniciar uma corrida às armas na Ásia, com países perto de aumentar as capacidades militares, ao mesmo tempo em que os Estados Unidos prometem defender a Coreia do Sul e o Japão pela “gama completa de opções, incluindo a nuclear”.

Reveja como se passou o ano de armamentos e alertas na região e o que poderia vir a seguir.

Mais testes de mísseis

Dos mais de 270 lançamentos de mísseis e testes nucleares realizados pela Coreia do Norte desde 1984, mais de um quarto aconteceu neste ano, segundo dados do Projeto de Defesa de Mísseis do Center for Strategic and International Studies.

Desse total, mais de três quartos foram registrados depois que Kim Jong Un chegou ao poder em 2011, o que reflete as ambições do ditador – das quais ele nunca fez segredo. Em abril, por exemplo, ele prometeu desenvolver as forças nucleares do país na velocidade “mais alta possível”.

A meta pode ser vista na onda de testes. A Coreia do Norte disparou mísseis em 36 dias este ano, de acordo com uma contagem da CNN.

“Para mísseis, eles estabelecem registros diários, mensais e anuais”, explicou Bruce Klingner, pesquisador sênior do Centro de Estudos Asiáticos da Heritage Foundation.

A maioria desses testes foi de mísseis balísticos e de cruzeiro. Os mísseis de cruzeiro permanecem dentro da atmosfera da terra e são manobráveis com superfícies de controle, como um avião. Já os mísseis balísticos deslizam pelo espaço antes de reentrarem na atmosfera.

A Coreia do Norte também disparou mísseis superfície-ar e mísseis hipersônicos.

“A Coreia do Norte está se transformando em um operador proeminente de forças de mísseis de grande escala”, opinou Ankit Panda. O pesquisador lembrou de casos recentes em que a Coreia do Norte lançou mísseis em resposta a exercícios militares ou negociações diplomáticas realizadas pelos EUA e seus aliados regionais, e acrescentou: “Qualquer coisa que os EUA e a Coreia do Sul façam, a Coreia do Norte procura demonstrar que também pode fazer”.

Entre os mísseis balísticos testados este ano estava o Hwasong-12, que viajou mais de 4,5 mil quilômetros em outubro – voando sobre o Japão, algo que a Coreia do Norte realizou pela primeira vez em cinco anos. Outro míssil notável foi o Hwasong-14, com uma distância estimada em mais de 10 mil quilômetros.

Para colocar essas distâncias em contexto, a ilha de Guam, que pertence aos EUA, está a apenas 3,4 mil quilômetros da Coreia do Norte.

Mas uma arma particular chamou a atenção internacional: o Hwasong-17, o míssil balístico intercontinental mais poderoso da Coreia do Norte (ICBM) feito até hoje. Ele poderia teoricamente chegar ao território continental dos EUA – embora ainda haja dúvidas sobre a capacidade do míssil de entregar uma carga nuclear no alvo.

A Coreia do Norte afirmou ter lançado com sucesso o Hwasong-17 em março pela primeira vez. No entanto, especialistas da Coreia do Sul e dos EUA acreditam que o teste pode ter sido de fato um míssil mais velho e menos avançado.

O Hwasong-17 foi testado novamente em novembro, de acordo com a mídia estatal norte-coreana. Kim alertou posteriormente que o país tomaria uma ação “mais ofensiva” em resposta a “inimigos que buscam destruir a paz e a estabilidade na Península e região da Coreia”.

Temor nuclear

Desde o início deste ano, os observadores norte-americanos e internacionais têm alertado que a Coreia do Norte parece estar se preparando para um teste nuclear subterrâneo – que seria o seu primeiro desde 2017.

Imagens de satélite mostraram nova atividade no local de testes nucleares da Coreia do Norte, onde o país já realizou seis testes nucleares subterrâneos. Aparentemente, o teste mais recente foi com uma bomba de hidrogênio, a arma mais poderosa que a Coreia do Norte já testou.

O teste nuclear de 2017 teve um rendimento estimado de 160 kilotons, de considerável potencial destruidor. Em comparação, os bombardeios atômicos dos EUA de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, renderam apenas 15 e 21 kilotons, respectivamente. Os testes mais explosivos da história, rendendo mais de 10 mil kilotons, foram realizados pelos e EUA e a Rússia.

Não está claro exatamente quantas armas nucleares a Coreia do Norte possui. Especialistas da Federação de Cientistas Americanos estimam que o país disponha de 20 a 30 ogivas nucleares – mas sua capacidade de detoná-las com precisão no campo de batalha não é comprovada.

Tensões crescentes

Embora tenha existido uma certa esperança de avanço diplomático em 2019, com as reuniões marcantes entre Kim e o então presidente dos EUA, Donald Trump, a possibilidade de entendimento se dissipou quando ambos os líderes se afastaram sem terem atingido quaisquer acordos formais de desnuclearização.

As relações entre os EUA e a Coreia do Norte não evoluíram desde então. Em 2021, Kim até anunciou um abrangente plano de cinco anos para modernizar a força militar do país, incluindo o desenvolvimento de armas hipersônicas e um submarino nuclear.

O ano de 2022 só fez reforçar essa visão bélica, com a Coreia do Norte trabalhando para desenvolver sua própria estratégia de dissuasão nuclear estratégica, bem como opções nucleares em qualquer conflito na Península da Coreia.

Especialistas especulam sobre as razões que levaram a Coreia do Norte a fazer tantas demonstrações de força em 2022. Alguns dizem que Kim pode ter se sentido capacitado para agir enquanto o Ocidente estava preocupado com a guerra na Ucrânia. Ankit Panda, o perito nuclear, acrescentou que as tensões podem ter aumentado em função do governo conservador que assumiu a Coreia do Sul em maio.

A aceleração agressiva da Coreia do Norte nos testes de armas provocou um alarme na região, empurrando os seus vizinhos expostos (Japão e Coreia do Sul) para mais perto dos parceiros ocidentais.

Os EUA, a Coreia do Sul e o Japão realizaram vários exercícios conjuntos e dispararam seus próprios mísseis em resposta aos testes norte-coreanos. Os EUA intensificaram sua presença na região, reimplantando um porta-aviões em águas próximas à península, e enviando aviões de combate furtivo de última geração para treinamento na Coreia do Sul. Enquanto isso, os países do Quad – o grupo que une EUA, India, Japão e Austrália – aprofundaram a cooperação militar e seus líderes se reuniram em maio.

Os governos individuais também tomaram medidas dramáticas, com o Japão dizendo que dobrará seus gastos de defesa, alcançando assim o maior investimento militar da nação pacifista desde a Segunda Guerra Mundial.

Mas os especialistas alertaram que esses esforços de militarização poderiam alimentar ainda mais a instabilidade em toda a região. E não há um fim claro à vista. Os EUA e a Coreia do Sul têm mais exercícios conjuntos planejados no primeiro semestre de 2023, o que pode impulsionar a Coreia do Norte a continuar os testes de disparo “apenas para mostrar seu descontentamento”, segundo Klingner.

O especialista acrescentou que as negociações são pouco prováveis até que Kim tenha desenvolvido suas armas, para voltar à mesa em uma posição de força.
“Eles têm melhorado suas capacidades, tanto nucleares quanto em mísseis, em cada uma das pistas dessa estrada”, comparou. “É tudo muitíssimo preocupante”.

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